Líder do PS assume candidatura a PM e Le Pen é investigada
Nem 48 horas depois da segunda volta das eleições legislativas que deram a vitória à Nova Frente Popular, ainda que sem maioria absoluta, a aliança de esquerda reafirmou estar pronta para governar e advertiu o presidente Emmanuel Macron para não deixar o primeiro-ministro cessante, Gabriel Attal, e respetivo governo eternizarem-se no poder. Parte da aliança, mas a falar apenas pelo seu partido, o socialista Olivier Faure também anunciou a sua prontidão, mas para assumir o cargo de chefe do executivo. Contudo, a criação de três blocos à esquerda, centro e direita com um número aproximado de representantes permite todo o tipo de leituras políticas e não é crível que o chefe de Estado intervenha nos próximos dias ou mesmo semanas. A líder da extrema-direita Marine Le Pen, depois de ter sido derrotada nas urnas, ficou a saber que a sua campanha presidencial de 2022 vai ser investigada por suspeitas de financiamento ilícito.
Em frente à Assembleia Nacional, onde a representação do Partido Socialista mais do que duplicou face à legislatura anterior, o primeiro secretário da formação respondeu aos nomes lançados na véspera pelo líder de França Insubmissa (LFI), Jean-Luc Mélenchon, todos do seu partido, para primeiro-ministro. “Não pode haver pretensão de hegemonia, não pode haver vontade de se impor aos outros, sem diálogo”, disse Faure, tendo assegurado que a Nova Frente Popular “só funcionará com uma condição, que saiba trabalhar em consenso”. Antes, Faure afirmou-se “pronto a assumir esse papel”.
Quem o PS não admite no cargo, e di-lo com todas as letras, é o próprio Mélenchon. Em entrevista à France 2, Johanna Rolland, a socialista encarregada das negociações na aliança Nova Frente Popular, não só riscou o nome do líder da LFI como mostrou abertura a uma coligação que integre “alguns macronistas de esquerda”. O que não admite é que o presidente não convide alguém do bloco vencedor. “É indispensável, é o respeito da democracia e do voto dos eleitores”, disse a autarca de Nantes.
Enquanto Faure e Rolland disseram não haver urgência no tema, a Nova Frente Popular emitiu um comunicado a pressionar Macron, ao advertir este “contra qualquer tentativa de sequestro das instituições”, referência à tentação de o Eliseu prolongar o mandato de Attal para lá do tempo razoável, à espera de uma rutura na aliança de esquerda. Isto depois de a ex-presidente da Assembleia Nacional, Yaël Braun-Pivet, ter apelado à formação de uma “aliança programática” com os centristas, os republicanos e os sociais-democratas, “ou seja, os socialistas e os ecologistas”, deixando de fora a LFI. O mesmo apelo foi feito pelo secretário-geral do Renascimento, Stéphane Séjourné, num texto publicado no Le Monde e intitulado “A Nova Frente Popular não está acima da democracia parlamentar”.
Leitura divergente tem o deputado Olivier Marleix, antigo chefe de bancada de Os Republicanos - partido fragmentado após o acordo do contestado líder Éric Ciotti com a extrema-direita. Em entrevista ao Le Figaro, Marleix disse que o país votou à direita e, como tal, Macron deveria nomear um republicano para chefiar um governo composto por pessoas “da direita, do centro e dos valores republicanos”, não afastando assim a esquerda moderada.
Investigação e julgamento
Mais à direita, a campanha presidencial de 2022 da líder de facto da Reunião Nacional, Marine Le Pen, vai ser investigada depois de um inquérito preliminar aberto na semana passada devido a suspeitas de desvio de fundos, falsificação, fraude e recurso a um empréstimo por parte de um candidato numa campanha eleitoral. Segundo a AFP, Le Pen gastou cerca de 11,5 milhões de euros na campanha eleitoral.
A justiça poderá ser o seu adversário mais temível: em setembro, a líder da extrema-direita francesa e mais 24 pessoas começarão a ser julgados por alegada utilização indevida de fundos da União Europeia - dinheiro destinado aos assistentes parlamentares da UE e que terá sido usado para pagar ao pessoal do partido. Se condenada, Le Pen arrisca-se a uma pena de prisão até dez anos e pode ser inabilitada de concorrer a eleições durante cinco anos, impedindo-a de participar nas presidenciais de 2027.
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