Kim Jong-un supervisionou disparo de míssil. E fez um vídeo ao estilo de Hollywood
O líder da Coreia do Norte quer mostrar o poderio militar e que o país está "preparado para um confronto de longo prazo com os imperialistas americanos". O vídeo divulgado pela televisão estatal mostra-o como num filme de Hollywood a dar a ordem para disparar o míssil Hwansong-17.
A Coreia do Norte lançou, esta quinta-feira, pela primeira vez desde 2017, um míssil balístico intercontinental (ICBM) de pleno alcance, o maior de sempre, que chegou mais alto e mais longe do que qualquer projétil previamente testado pelo país. A agência de notícias estatal norte-coreana KCNA confirmou que o míssil atingiu o seu alvo no Mar do Japão.
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O teste do míssil Hwasong-17 foi realizado sob "orientação direta" do líder Kim Jong-un. Os media estatais anunciaram o lançamento deste míssil através de um vídeo que tenta imitar o estilo de Hollywood.
O líder Kim Jong-un caminha em direção à câmara, flanqueado por generais, enquanto se preparam para o lançamento. Com música de suspense no fundo, a câmara corta entre os dois generais e Kim Jong-un a verificarem os seus relógios, antes de, em câmara lenta, Kim tirar os óculos de sol e acenar, incentivando os soldados a mover o míssil para a sua posição. As imagens incluem uma contagem dramática até ao lançamento que mostra os soldados a gritar "lancem" no momento em que o botão para o teste é pressionado.
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BREAKING: North Korea's state-run television shows edited footage of Kim Jong Un guiding the test-launch of what the country referred to as the Hwasong-17 ICBM.
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(Video: KCTV) pic.twitter.com/APifRhtJVr
Cheong Seong-chang, do Centro de Estudos da Coreia do Norte do Instituto de Sejong, disse que o estilo de vídeo mostra a crescente confiança de Pyongyang nas suas capacidades militares. "Ganharam confiança no seu poder militar a ponto de se sentirem à vontade para transformá-lo num filme e divertir-se com ele", disse ele à AFP.
O míssil Hwansong-17 foi revelado pela primeira vez em outubro de 2020 e apelidado de "míssil monstro" pelos analistas. Previamente nunca foi lançado com sucesso.
A Coreia do Sul e o Japão expressaram a sua indignação com o lançamento. O exército sul-coreano anunciou que disparou uma série de mísseis por terra, ar e mar como resposta e o Japão considerou "escandoloso e imperdoável" o lançamento do projétil, que caiu dentro da zona económica marítima exclusiva do país.
De acordo com o vice-ministro da Defesa do Japão, Makoto Oniki, o míssil voou durante 71 minutos e caiu a 150 km ao oeste da sua costa norte, dentro da zona económica exclusiva nipónica.
A Coreia do Norte está a ameaçar "a paz e a segurança do Japão, da região e da comunidade internacional (...) Isto não pode ser aceite", afirmou o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida. "Isto é um ato escandaloso e imperdoável", acrescentou o chefe de Governo, que está em Bruxelas para o encontro de líderes do G7.
País "preparado para um confronto de longo prazo com os imperialistas americanos"
Kim Jong-un afirmou que a nova arma "desempenhará a sua missão como um poderoso dissuasor ante uma guerra nuclear" e "tornará o mundo claramente consciente do poder" das forças armadas estratégicas do país", segundo declarações colhidas pela agência de notícias estatal norte-coreana. O país tem "uma formidável capacidade militar e técnica, imperturbável diante de qualquer ameaça militar ou chantagem", e está "totalmente preparado para um confronto de longo prazo com os imperialistas americanos", acrescentou.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou "com firmeza" o lançamento e pediu que Pyongyang desista "de tomar qualquer outra ação contraproducente", disse o porta-voz do secretário-geral.
O Conselho de Segurança da ONU deve reunir-se esta sexta-feira, indicaram fontes diplomáticas à AFP. Países como os Estados Unidos, Albânia, França, Irlanda, Noruega e Reino Unido querem que a reunião seja à porta aberta, após as últimas sessões sobre os testes de mísseis norte-coreanos terem sido privadas.
A Casa Branca condenou "firmemente" o teste, que "aumenta inutilmente a tensão", e prometeu "tomar as medidas necessárias para garantir a segurança do território americano, da Coreia do Sul e do Japão", disse a porta-voz, Jen Psaki.
Os Estados Unidos já anunciaram novas sanções a entidades e indivíduos na Rússia e na Coreia do Norte. Os indivíduos e organizações identificados são acusados de "transferir itens sensíveis para o programa de mísseis da Coreia do Norte", disse o Departamento de Estado em comunicado. "Estas medidas fazem parte dos nossos esforços contínuos para impedir a capacidade da RPDC (República Popular Democrática da Coreia) de avançar no seu programa de mísseis e destacar o papel negativo que a Rússia desempenha no cenário mundial como proliferadora de programas preocupantes", disse o comunicado, usando a sigla oficial da Coreia do Norte.
Os lançamentos acontecem na véspera do 110º aniversário do nascimento do fundador da Coreia do Norte e avô do atual líder do país, Kim Il Sung. O regime costuma usar estas datas para demonstrar a sua capacidade militar.
Além disso, Pyongyang aproveita a instabilidade internacional provocada pela invasão da Ucrânia, que provocou o aumento da disputa entre Washington com Moscovo e Pequim, assim como a transição na Coreia do Sul até a posse do presidente eleito Yoon Suk-yeol em maio.
"Kim provavelmente sente que é o momento perfeito para desenvolver o ICBM", disse Ahn Chan-il, professor de estudos norte-coreanos.
Em 2019, Pyongyang suspendeu oficialmente os testes de longo alcance enquanto o dirigente Kim Jong-un participava em negociações de alto nível com o então presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Estas conversações fracassaram e estão paralisadas desde então.
Com este, já são 12 os testes de armas que Pyongyang levou a cabo até agora desde o início deste ano, o que mais uma vez fez disparar a tensão na região, apesar das sanções internacionais.