O Conselho de Segurança das Nações Unidas e o conselho permanente da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) reúnem-se nesta terça-feira a pedido de Kiev para debater o ataque contra civis que a Rússia infligiu na sexta-feira em Kryvyi Rih, no centro do país. Uma iniciativa simbólica num momento em que o Kremlin dá sinais de não ter qualquer urgência para avançar no sentido de uma trégua, apesar da pressão ucraniana e francesa e das declarações do presidente dos Estados Unidos de que não gosta dos “bombardeamentos”.“É essencial que a comunidade internacional reaja vigorosamente às atrocidades cometidas pelos russos. Não se pode permitir que este tipo de terror se torne normal. Apelamos para uma condenação firme e para uma ação resoluta”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Andrii Sybiha, sobre o ataque com um míssil balístico com bombas de fragmentação numa zona residencial de Kryvyi Rih.No quinto ataque àquela cidade no espaço de um mês foram mortas 20 pessoas, entre as quais nove crianças. Além disso, 33 pessoas foram hospitalizadas, das quais 18 em estado grave. “Talvez seja porque o nosso presidente é daqui. Os russos disseram que tinham como alvo militares, mas aqui não há militares”, disse um morador, Oleh, à France24. A mesma cadeia televisiva teve acesso às câmaras de segurança do restaurante e quer no interior, quer na esplanada não se encontravam militares, desmentindo a versão russa de sexta-feira, de que o ataque visava um encontro de quase uma centena de oficiais ucranianos com instrutores e oficiais estrangeiros. Na segunda-feira, o Kremlin manteve a sua realidade alternativa, ao negar ter atingido “infraestruturas” civis. “Não há ataques a instalações de caráter social”, declarou o porta-voz da Presidência russa, Dmitri Peskov.Volodymyr Zelensky, que há dias tem insistido para que os Estados Unidos reajam ao avolumar de ataques aéreos contra a Ucrânia, criticou a mensagem da embaixadora dos EUA no seu país no X. Bridget Brink disse-se “horrorizada” e declarou que “a guerra tem de acabar”. Para o líder ucraniano, os Estados Unidos “não devem ter medo de chamar espada a uma espada”, ou seja, de condenar a ação russa. Apesar de não falar de qualquer situação em particular, nem de criticar Vladimir Putin, o presidente norte-americano voltou a lamentar que a guerra não tenha parado, enquanto dizia que se mantêm contactos com a Rússia. “Gostaríamos que parassem. Não gosto dos bombardeamentos. Os bombardeamentos não param. Todas as semanas, milhares de jovens estão a ser mortos. É uma coisa horrível que nunca deveria ter começado”, disse Donald Trump. O seu braço direito ao serviço dos cortes radicais no Estado federal, Elon Musk, defendeu a mesma ideia numa mensagem em videoconferência para o congresso da Liga, o partido do italiano Matteo Salvini, pró-Putin. Mas acrescentou a ideia de que não há qualquer plano e que os soldados nas trincheiras são “obrigados a matar-se uns aos outros sem saber porquê e durante quanto tempo mais”..“Durante quase um mês, a Rússia não só se recusou a responder, como também intensificou os seus bombardeamentos contra civis, com perdas trágicas, mais uma vez, na Ucrânia.”Emmanuel Macron.Outras vozes pressionam Putin. O francês Emmanuel Macron disse ser “urgente que a Rússia pare com as dissimulações e as táticas dilatórias e aceite o cessar-fogo incondicional” proposto pelos EUA e aceite pela Ucrânia. O neerlandês Mark Rutte, secretário-geral da NATO, disse à CBS News que “a Rússia tem realmente de fazer mais para pôr fim a esta guerra”.Do lado russo, porém, não há sentido de urgência. “Putin apoia um acordo de cessar-fogo, mas, antes disso, há toda uma série de questões que continuam sem resposta”, disse Peskov. “Tem a ver com a incapacidade do regime de Kiev para controlar uma série de grupos extremistas e com planos para uma futura militarização” da Ucrânia, alegou. Moscovo tem dito e redito que está indisponível para a paz se não se resolverem as “causas profundas” que levaram à invasão.Enquanto se desconhecem datas para novas rondas de negociações entre EUA e Rússia, os ucranianos vão enviar uma delegação a Washington esta semana, com o objetivo de discutirem o acordo de minerais. A última versão dada a conhecer pelos meios de comunicação era mais gravosa do que a primeira, sendo comparado a um documento colonial e que põe em causa a soberania da Ucrânia.