Sobrevivente à explosão de um míssil russo na região de Odessa, um casal abraça-se.
Sobrevivente à explosão de um míssil russo na região de Odessa, um casal abraça-se.SERVIÇOS DE EMERGÊNCIA DA UCRÂNIA / AFP

Kiev promete ripostar a um dos maiores ataques aéreos russos

Ucrânia diz ter abatido mais de 100 mísseis e outros tantos drones russos, mas 25 atingiram alvos, e promete contra-atacar.
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A Rússia voltou a demonstrar que mantém o seu poder de fogo ao lançar um dos maiores ataques aéreos desde o início da invasão da Ucrânia, quando horas antes um ataque dirigido a um hotel em Kramatorsk, na região de Donetsk, visou uma equipa de reportagem da Reuters, tendo matado o conselheiro de segurança, um ex-militar britânico, e ferido dois jornalistas. Enquanto o presidente ucraniano reiterava o apelo para os aliados largarem as restrições da utilização de armas de longo alcance, elementos próximos de Volodymyr Zelensky prometeram ripostar.

Segundo Kiev, Moscovo lançou 127 mísseis e 109 drones em 15 regiões ucranianas. Ainda que, de acordo com o comandante da Força Aérea ucraniana, Mykola Oleshchuk, 102 mísseis e 99 drones tenham sido abatidos, foram atingidas infraestruturas energéticas - com a barragem hidroelétrica de Kiev à cabeça -, a par de outros alvos civis, voltou a dar-se. De acordo ainda com as autoridades ucranianas, o ataque envolveu meios russos empregados em nove regiões russas, na península anexada da Crimeia e na parte oriental do Mar Negro. Estes dispararam mísseis hipersónicos Khinzal, mísseis balísticos Iskander, mísseis de cruzeiro e guiados, além dos drones de ataque tipo Shahed. Morreram pelo menos cinco pessoas e foram feridas 47.

“Poderíamos fazer muito mais para proteger vidas se a aviação dos nossos vizinhos europeus operasse em conjunto com os nossos F-16 e sistemas de defesa aérea. Se essa unidade se revelou eficaz no Médio Oriente, deve funcionar também na Europa”, disse Zelensky, apontando para o apoio dos EUA a Israel. “Putin só pode atuar dentro dos limites que o mundo lhe impõe. A fraqueza e as respostas inadequadas alimentam o terror. A Ucrânia não pode ser limitada nas suas capacidades de longo alcance quando os terroristas não enfrentam tais limitações”, continuou. 

Coube ao seu chefe de gabinete, Andryi Yermak, e ao ministro da Defesa Rustem Umerov, o discurso marcial. “O desejo de destruir a nossa indústria energética vai custar caro aos russos e às suas infraestruturas”, assegurou o primeiro. O depósito de combustível de Proletarsk, em Rostov, ardia nove dias após ter sido atingido por drones ucranianos e uma refinaria em Omsk -- mais perto da Mongólia do que da Ucrânia - foi alvo de uma explosão na segunda-feira. “A Ucrânia está a preparar a sua resposta. Armas de produção própria”, escreveu Umerov no Facebook.

No sábado, dia de comemoração da independência da Ucrânia, Zelensky revelou a existência de uma arma nova, de desenvolvimento e produção própria: Palianytsia, um drone a jato. Apesar de não ter sido revelado o seu alcance, num vídeo de apresentação um gráfico alega que pode atingir bases aéreas e aeródromos militares a uma distância de 750 quilómetros. “Penso que será um fator de mudança porque seremos capazes de atacar onde a Rússia não está à espera hoje em dia”, disse o ministro da Tecnologia ucraniana, Mykhailo Fedorov, à Associated Press, e adiantou que o próximo passo é aumentar a produção.

Moscovo teme pela prisão de Durov

Pavel Durov numa fotografia datada de 2015. (STEVE JENNINGS / GETTY IMAGES / AFP)

O presidente francês negou que a detenção do empresário Pavel Durov, administrador do Telegram, seja consequência de uma “decisão política”. Os meios políticos e militares russos receberam a notícia com indisfarçável incómodo, temendo que o franco-russo coopere com as autoridades judiciais e dê acesso àquela aplicação de que o exército de Moscovo depende grandemente para comunicar. 

Face às “falsas informações” lidas no X -- Elon Musk faz parte da claque pela libertação de Durov --, Emmanuel Macron usou a conta naquela rede social para esclarecer que “cabe aos juízes decidir” sobre o “inquérito judicial em curso”. A prisão preventiva do bilionário de 39 anos foi prolongada por não responder a ordens judiciais e acolher no Telegram grupos que se dedicam a atividades ilegais. Horas depois de a propagandista do regime Margarita Simonyan ter dito no Telegram para os utilizadores apagarem informações sensíveis, na segunda-feira os jornais russos destacaram a prisão de Durov. “O golpe ao Telegram ameaça tornar-se num golpe à Rússia”, era a manchete do Nezavisimaya Gazeta. Já o Komsoloskaya Pravda disse que “o objetivo de Macron e companhia é obter todas as chaves de informação confidencial, em especial sobre a Rússia, que partilharão de bom grado com os americanos”.

cesar.avo@dn.pt 

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