Kiev e UE pedem mais sanções após maior ataque aéreo da Rússia
Stanislas, com 8 anos; a irmã Tamara, com 12; e o irmão Roman, com 17 anos, são as mais recentes vítimas mortais menores de idade na guerra da Ucrânia. Viviam na região de Zhytomir, uma de 12 atingidas no que foi considerado o maior ataque aéreo desde o início da invasão russa. Depois de na noite de sexta para sábado a Rússia ter atacado com 14 mísseis balísticos e 250 drones, na noite seguinte as forças ucranianas contabilizaram 69 mísseis e 298 drones de ataque que caíram em mais de 30 cidades e povoações, tendo matado pelo menos uma dúzia de civis, entre os quais os três menores.
“A rua é como Bakhmut, é como Mariupol, é simplesmente terrível”, disse Liubov Fedorenko, de 76 anos, ao comparar a sua aldeia, Markhalivka, nos arredores de Kiev, a duas das mais devastadas cidades ucranianas, enquanto assistia à sua casa em ruínas. Contou à Associated Press que tinha tentado convencer a filha a levar os netos para ali passarem o fim de semana. “Graças a Deus que ela não veio, porque o rocket atingiu [a casa] do lado onde estavam os quartos das crianças”, disse. O marido, Ivan, de 80 anos, lamentou ter deixado os seus dois cães entrar em casa quando a sirene de alerta de ataque aéreo soou. Morreram queimados.
O presidente ucraniano disse que “sem uma pressão realmente forte sobre os líderes russos, esta brutalidade não pode ser interrompida”. Volodymyr Zelensky pediu aos Estados Unidos, aos países europeus e a “todos os que buscam a paz” que demonstrem “determinação” para pressionar Vladimir Putin, a terminar a guerra. “As sanções certamente ajudarão”, afirmou. O mesmo, por outras palavras, foi expresso pela alta representante da UE. “Devemos exercer pressão internacional mais forte sobre a Rússia para acabar com esta guerra”, disse Kaja Kallas depois de ter afirmado que “a Rússia está determinada a fazer a Ucrânia sofrer mais e a aniquilá-la”.
Dos EUA, o silêncio foi rompido pelo enviado especial Keith Kellogg, ao lembrar que Moscovo está a violar a Convenção de Genebra ao atacar civis de forma indiscriminada. “Estes ataques são vergonhosos. Parem com os assassínios. Cessar-fogo já”, escreveu o enviado que tem tido um papel secundário em detrimento do outro enviado, e amigo de Donald Trump, Steve Witkoff.
Depois da conversa telefónica entre Putin e Trump, na segunda-feira passada, este deu indicações de que estaria perto de abandonar a sua promessa de acabar com a guerra e deixar o assunto para as partes em conflito e para os europeus. Mas Kiev e os seus parceiros querem que Washington não vire as costas. Na quarta-feira, uma proposta bipartidária deu entrada no Senado norte-americano para introduzir sanções secundárias, em especial taxas aduaneiras de 500% a produtos de países que comprem petróleo, gás e urânio e outros produtos russos, casos da China e da Índia. “Se for mais do mesmo”, disse o senador republicano Lindsay Graham sobre a falta de avanços sobre um cessar-fogo, “a Rússia pode esperar uma ação decisiva do Senado dos EUA”.
O cessar-fogo pode interessar mais a Kiev do que a Moscovo, mas segundo Jack Watling, analista do Royal United Services Institute, se as forças ucranianas aguentarem as linhas em Donetsk até ao Natal “e se os parceiros internacionais forem diligentes na degradação da economia russa, Moscovo terá de fazer escolhas difíceis quanto aos custos que está disposta a suportar para continuar a guerra”, disse ao The Washington Post.
Concluída troca de prisioneiros
Ucrânia e Rússia concluíram no domingo a maior troca de prisioneiros de guerra até ao momento (2000) com o regresso de 303 indivíduos de cada lado. Segundo o presidente ucraniano, as tropas que retornaram à Ucrânia eram membros de quatro serviços distintos (Forças Armadas, Guarda Nacional, Guarda de Fronteiras e Serviço Especial de Transporte do Estado). Todos os 303 ucranianos são homens aprisionados pelas forças russas em sete regiões, segundo os serviços de coordenação de prisioneiros de guerra.
A troca começou na sexta-feira e envolveu 270 prisioneiros de guerra, juntamente com 120 civis, de cada lado. No sábado foram libertados 307 prisioneiros de guerra, incluindo, do lado ucraniano, doentes e feridos, bem como 27 militares que defenderam Mariupol. A troca de prisioneiros foi o único passo concreto dado por ambos os países na sequência das conversações russo-ucranianas em Istambul, de há duas semanas. No total, foram libertados 6300 ucranianos desde março de 2022.