Um morto e 13 feridos, veículos calcinados e edifícios danificados, entre os quais a catedral de São Nicolau e o que alberga seis missões diplomáticas, entre as quais a portuguesa foi o resultado da queda de destroços de cinco mísseis russos no centro de Kiev. Os militares ucranianos disseram ter abatido todos os mísseis. Já o Ministério da Defesa russo alegou que o ataque destruiu vários alvos militares, e que se produziu em retaliação ao bombardeamento de uma fábrica que produz combustível para mísseis. Mas aconteceu horas depois de Vladimir Putin ter desafiado, em tom trocista, para a realização de um duelo entre o novo míssil russo Oreshnik e os sistemas de defesa ocidentais, a ter lugar na capital ucraniana. “Vamos fazer uma experiência deste tipo, um duelo tecnológico, e ver o que acontece. É interessante”, disse Putin durante a conferência de imprensa anual. Em resposta, Volodymyr Zelensky resumiu a questão em poucas palavras. “As pessoas estão a morrer e ele acha que é ‘interessante’... Idiota”, sentenciou o presidente ucraniano no X. Após o ataque, que, segundo Kiev, terá sido lançado de aviões (mísseis balísticos Kinzhal) e de terra (mísseis balísticos Iskander e KN-23, este último norte-coreano) das regiões russas de Briansk e Voronezh, o presidente do Parlamento ucraniano, Ruslan Stefanchuk, afirmou: “Esta manhã, todos nós vimos mais uma vez a verdade das palavras de ontem do presidente da Ucrânia.” O bombardeamento, ou os estilhaços que resultaram do mesmo em resultado da atuação da defesa aérea, danificou as embaixadas de Portugal, Albânia, Argentina, Montenegro, Macedónia do Norte e Palestina. “Todas estas embaixadas estão localizadas num único edifício, que sofreu uma destruição considerável devido ao ataque dos mísseis. Janelas, portas e elementos do teto ficaram estilhaçados”, explicou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Heorhii Tykhyi. A Comissão Europeia condenou o ataque e mostrou-se solidária com Portugal. “Mais um ataque horrendo da Rússia contra Kiev. Desta vez contra um edifício que alberga a embaixada de Portugal e outros serviços diplomáticos. O desrespeito de Putin pela lei internacional atingiu um novo patamar”, escreveu a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, no X. Antes, na mesma rede social, a alta representante Kaja Kallas classificou o sucedido como “mais um ataque bárbaro da Rússia contra alvos civis que indica que não há qualquer vontade de paz”. Em Portugal, o Ministério dos Negócios Estrangeiros reagiu em comunicado, tendo condenado de “forma veemente” o ataque e disse ser “absolutamente inaceitável que qualquer ataque possa visar ou ter impacto em zonas de instalações diplomáticas”. Além disso, informou que o encarregado de negócios da Federação Russa “foi já chamado ao Ministério dos Negócios Estrangeiros para que seja apresentado um protesto formal. Por norma, é o embaixador do país a ser convocado, mas no caso o diplomata russo está fora do país, esclareceu mais tarde, o ministro Paulo Rangel. Para os militares russos, o ataque foi um sucesso. Segundo a agência russa Tass, os mísseis atingiram instalações do Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU), o gabinete de design Luch, que “concebe e produz os sistemas de mísseis Neptune e os mísseis de cruzeiro terrestres Olkha”, e ainda um sistema de mísseis antiaéreos Patriot, de fabrico norte-americano. O Ministério da Defesa russo disse que o ataque foi uma retaliação ao lançamento de mísseis ocidentais, na quarta-feira, contra uma fábrica de produtos químicos na região de Rostov. A fábrica, situada apenas a 12 quilómetros da fronteira, produz combustível para mísseis, e por várias vezes os ucranianos tentaram atingi-la, sem sucesso, uma vez que tinha mais de um sistema de defesa antiaéreo a protegê-la da artilharia ucraniana. Também em território russo, o governador interino da região de Kursk disse que pelo menos seis pessoas, incluindo uma criança, morreram, e outras dez ficaram feridas num ataque com mísseis contra a cidade de Rylsk, situada 120 quilómetros a oeste da cidade de Kursk. Alexandr Khinshtein acusou Kiev de atingir “deliberadamente civis” como alvo. A porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, disse que o assunto iria ser levado ao Conselho de Segurança da ONU. Enquanto Kiev não comentava as acusações, canais ucranianos dedicados à recolha de informações alegavam que o ataque atingiu um quartel e dormitórios de soldados russos.