Ali Khamenei foi eleito líder supremo do Irão em 1989, depois da morte do ayatollah Khomeini.
Ali Khamenei foi eleito líder supremo do Irão em 1989, depois da morte do ayatollah Khomeini.KHAMENEI.IR / AFP

Khamenei poderá suceder a Khamenei?

Morte de Raisi deixa a linha mais dura do regime sem candidato. Mas outro nome tem sido falado para o cargo.
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O ayatollah Ali Khamenei completou a 17 de abril 85 anos, numa altura em que Teerão viu o clima de tensão com Israel subir a proporções históricas, mas também se tem vindo a assistir a uma crescente preocupação com o verdadeiro estado de saúde do líder supremo do Irão, o chefe de Estado do país, e questões sobre quem será o seu sucessor. Eleito em 1989, na sequência da morte do ayatollah Ruhollah Khomeini, fundador da República Islâmica do Irão e seu primeiro líder supremo, Khamenei ocupava até então a presidência iraniana. 

Nesta questão da sucessão têm particular importância as eleições gerais do passado dia 1 de março, nas quais, além de um novo Parlamento, foram também escolhidos os 88 elementos da Assembleia de Peritos, o órgão encarregue de escolher um novo líder supremo. E, tendo em conta a idade de Khamenei e o facto de esta assembleia ter um mandato de oito anos, existem grandes probabilidades de ser a atual composição que elegerá (é preciso uma maioria de dois terços) o terceiro líder supremo da República Islâmica do Irão.

É também sabido que o processo de escolha de um potencial sucessor já tinha começado, tendo o ayatollah Khamenei escolhido um painel de três pessoas - sendo um deles o agora falecido presidente do Irão, Ebrahim Raisi, que também era dado como um potencial candidato a líder supremo - para identificar possíveis nomes. “O facto de Khamenei estar a supervisionar o trabalho do comité sugere que a recomendação que este fará refletirá a dele próprio. Por essa razão, se a Assembleia alguma vez votar um novo líder supremo, é provável que o resultado seja pouco mais do que o aprovar de um candidato já escolhido por Khamenei”, escreveu este mês o académico Afshon Ostovar no site do think tank Engelsberg Ideas. 

A morte de Raisi perturba os planos da linha mais dura do regime que o gostava de ver a suceder a Khamenei. “Agora que não têm um candidato isso abre a porta para outras fações ou outros nomes emergirem como sérios candidatos”, explicou à Reuters Vali Nasr, professor de Estudos do Médio Oriente na Escola de Estudos Internacionais Avançados da Universidade Johns Hopkins.

O segundo nome mais falado até agora para se tornar no terceiro líder supremo do Irão é o de Mojtaba Khamenei, de 54 anos, o segundo filho do ayatollah Khamenei. Mojtaba tem trabalhado essencialmente nos bastidores e muito de perto com o pai, o que lhe tem permitido ficar fora dos conflitos dentro do regime. Mas, é dito que, tal como o pai, é bastante próximo da Guarda Revolucionária Iraniana.

Contra ele, conforme notou o analista político Shahir Shahidsaless num artigo para o think tank Stimson Center, está o facto de tanto o ayatollah Khomeini, como o atual líder supremo do Irão, já se terem mostrado contra o poder hereditário. 

“Independentemente de quem for escolhido, um novo líder supremo será por inerência mais fraco do que o seu antecessor. Se o novo líder for alguém com aspirações pessoais, poderá explorar caminhos para elevar a sua posição e autoridade de formas diferentes do que fez Khamenei. Por exemplo, Khamenei aliou-se às forças de segurança para assegurar a sua posição no regime e confiou na força bruta para consolidar a sua governação. Como resultado, a República Islâmica perdeu um apoio considerável dos iranianos”, defende Ostovar. 

ana.meireles@dn.pt

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