Palestinianos deslocados em Rafah faziam fila para comprar água junto ao campo onde estão a viver.
Palestinianos deslocados em Rafah faziam fila para comprar água junto ao campo onde estão a viver.AFP

Israel rejeita no tribunal da ONU um cenário de genocídio em Gaza

Queixa foi apresentada no Tribunal Internacional de Justiça pela África do Sul, que quer um cessar-fogo imediato no território palestiniano. Data da decisão ainda não é conhecida.
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Israel atacou esta sexta-feira o caso da África do Sul perante o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), descrevendo-o como “totalmente desligado” da realidade, enquanto Pretória pede que os juízes deste órgão das Nações Unidas ordenem um cessar-fogo imediato em Gaza. O chefe da delegação de Israel afirmou ainda que o caso sul-africano “ridiculariza” a Convenção da ONU sobre Genocídio que acusa Telavive de violar. “A África do Sul está a apresentar ao tribunal, pela quarta vez, uma imagem que está completamente desligada dos factos e das circunstâncias”, afirmou Gilad Noam, sublinhando que a guerra em Gaza é trágica, mas não é um genocídio, “um crime cometido com o intuito de destruir, o todo ou uma parte de um grupo nacional, ético, racial ou religioso”, acrescentou, citando a definição das Nações Unidas.

A África do Sul solicitou ao TIJ que ordene o fim do ataque israelita a Rafah, no sul da Faixa de Gaza, que Telavive diz ser fundamental para eliminar o Hamas - o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu garantiu na quinta-feira que o ataque terrestre a Rafah é uma parte “crítica” da missão do Exército para destruir o Hamas e evitar uma repetição do ataque do 7 de Outubro. Segundo dados avançados pela ONU, pelo menos 630 mil palestinianos abandonaram Rafah nos últimos 12 dias na sequência da ofensiva militar israelita.

Em Haia, Noam garantiu que Israel está “plenamente consciente” da existência de civis concentrados em Rafah, mas que “também está perfeitamente ciente dos esforços do Hamas para usar estes civis como escudo”. O procurador-geral-adjunto israelita disse ainda que não houve nenhum ataque “em grande escala” a Rafah, mas “operações específicas e localizadas prefaciadas com esforços de evacuação e apoio a atividades humanitárias”.

No dia anterior, Pretória havia elencado perante o TIJ acusações contra Israel, incluindo valas comuns, tortura e retenção deliberada de ajuda humanitária. “A África do Sul esperava, quando compareceu pela última vez perante este tribunal, travar este processo genocida para preservar a Palestina e o seu povo”, disse Vusimuzi Madonsela, embaixador sul-africano nos Países Baixos e líder da delegação de Pretória. “Em vez disso, o genocídio de Israel continuou em ritmo acelerado e acaba de atingir um estágio novo e horrível”, acrescentou. A decisão do TIJ será anunciada numa data ainda não-revelada.

Treze países ocidentais apelaram esta sexta-feira para que Telavive não lance uma ofensiva em grande escala contra Rafah. “Reiteramos a nossa oposição a uma operação militar em grande escala em Rafah que teria consequências catastróficas para a população civil”, refere o apelo enviado ao ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Israel Katz, e assinado pelos líderes da diplomacia de Austrália, Reino Unido, Canadá, Japão, Nova Zelândia, Coreia do Sul e os estados membros da UE Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Itália, Países Baixos e Suécia. O apelo também pedia “um cessar-fogo sustentável”.

Estes ministros saudaram as recentes medidas adotadas pelo gabinete de Benjamin Netanyahu para melhorar o fluxo de ajuda internacional para Gaza, mas apelaram a “novas medidas”. Pediram também a Israel para que tome “ações concretas para a proteção dos civis, dos trabalhadores humanitários internacionais e locais, e dos jornalistas”.

Os ministros apelaram ainda a Israel para “abrir todas as rotas possíveis de abastecimento terrestre para Gaza” para ajuda, para “retomar os serviços de eletricidade, água e telecomunicações” e para aumentar significativamente “o fornecimento de bens extremamente necessários, particularmente suprimentos médicos”.

O cais temporário instalado pelos Estados Unidos na costa da Faixa de Gaza, e cuja conclusão foi anunciada na quinta-feira, recebeu um primeiro carregamento de ajuda humanitária. É esperada a chegada de quase 500 toneladas de ajuda nos próximos dias.

A Comissão Europeia anunciou que saiu esta sexta-feira de Chipre - e com destino ao cais que os EUA construíram - um carregamento de ajuda que inclui mais de 88 mil latas de alimentos enviados pela Roménia através do Mecanismo de Proteção Civil da UE. Bruxelas indicou ainda que foi criada uma plataforma logística da UE em Chipre para ajudar a gerir o fluxo de assistência a Gaza. 

Já a Organização Mundial de Saúde denunciou que não recebe material médico na Faixa de Gaza desde 6 de maio, o dia anterior à entrada de Israel em Rafah, e que o encerramento por parte de Israel da passagem na cidade para o Egito causou uma “situação difícil”. 

O Exército de Israel informou  que “dezenas de civis israelitas” incendiaram na noite de quinta-feira um camião de ajuda humanitária na Cisjordânia com destino a Gaza.
Segundo os media locais, colonos israelitas estão por trás do ataque, que o E xército disse ter ferido o motorista e também soldados.

ana.meireles@dn.pt

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