Um grupo de rapazes carrega um saco cheio de plástico que recolheram entre os destroços na cidade de Rafah.
Um grupo de rapazes carrega um saco cheio de plástico que recolheram entre os destroços na cidade de Rafah.MOHAMMED ABED / AFP

Israel promete abrir rotas de ajuda, mas EUA querem ver resultados

Exército assumiu que a morte dos sete funcionários da World Central Kitchen deveu-se a um erro dos militares, ao acreditarem que seguiam nos veículos homens armados do Hamas.
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O secretário de Estado norte-americano garantiu esta sexta-feira que Washington quer ver “resultados” que mostrem que está a chegar mais ajuda aos habitantes de Gaza. Israel anunciou que vai permitir entregas “temporárias” de ajuda ao norte da Faixa de Gaza, ameaçado pela fome, uma resposta ao aviso feito horas antes pelo presidente Joe Biden, numa conversa telefónica com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, de que os Estados Unidos mudariam o seu apoio a Telavive caso não fosse garantida a proteção aos civis.

“Saudamos as medidas iniciadas por Israel”, afirmou Antony Blinken. “Estes são desenvolvimentos positivos, mas o verdadeiro teste são os resultados e é isso que esperamos ver nos próximos dias e nas próximas semanas”.

Blinken avisou que os Estados Unidos estão atentos para ver se a ajuda começa a “chegar efetivamente às pessoas que dela precisam em toda Gaza” e se os trabalhadores humanitários conseguem entregá-la em segurança.

O líder da diplomacia dos Estados Unidos disse ainda que Washington vai verificar o número de camiões de ajuda que entram, se eles poderão circular e se os indicadores que mostram que a população está à beira da fome melhoram.

O presidente do Conselho Europeu também mostrou algum ceticismo em relação ao anúncio de Israel de abrir temporariamente rotas de ajuda para Gaza, dizendo que este “não é suficiente”. “As crianças e bebés de Gaza estão a morrer de desnutrição. São necessários esforços substanciais e urgentes para acabar imediatamente com a fome como instrumento de guerra em Gaza”, escreveu Charles Michel no X. 

Já o secretário-geral das Nações Unidas considerou que “medidas dispersas” para a ajuda a Gaza não são suficientes. “Não basta ter medidas dispersas - precisamos de uma mudança de paradigma”, disse António Guterres.

Erros e violações no caso da World Central Kitchen

Também esta sexta-feira, o exército israelita admitiu uma série de erros e violações das suas regras na morte de sete trabalhadores humanitários em Gaza, dizendo que erroneamente acreditou que estava a “alvejar agentes armados do Hamas”. Os dois oficiais da brigada que ordenaram os ataques com drones - um coronel e um major - foram demitidos, e o chefe do Comando Sul repreendido.

As vítimas - um australiano, três britânicos, um americano-canadiano, um palestiniano e um polaco - foram mortas na noite de segunda-feira em três ataques de quatro minutos por um drone israelita enquanto corriam para salvar suas vidas entre os três veículos onde seguiam.
A World Central Kitchen, ONG com sede nos Estados Unidos para a qual trabalhavam, exigiu um inquérito independente, e a Polónia apelou a uma investigação “criminal” após o anúncio do exército.

A equipa dos drones que matou os trabalhadores humanitários cometeu um “erro de julgamento operacional da situação” depois de avistar um suposto atirador do Hamas a disparar do topo de um camiões que os sete escoltavam, de acordo com os resultados do inquérito. Embora os tejadilhos dos três veículos dos trabalhadores humanitários estivessem estampados com logótipos da WCK, o general aposentado Yoav Har-Even, que lidera a investigação, explicou que a câmara do drone não conseguia vê-los no escuro. “Este foi um fator chave na cadeia de eventos”, disse.

Har-Even admitiu ainda que “os três ataques aéreos violaram os procedimentos operacionais padrão”, mas argumentou que “o estado de espírito” dos comandantes israelitas “era que eles estavam a atacar veículos que haviam sido apreendidos pelo Hamas” depois de pensarem que um passageiro carregava uma arma em vez de uma bolsa. “Um dos comandantes presumiu erroneamente que os homens armados estavam dentro dos veículos e eram terroristas do Hamas”, afirmou.

Este responsável adiantou também que a World Central Kitchen havia fornecido as informações necessárias deste transporte, mas elas não foram partilhadas. “O maior erro foi que [a equipa do drone] não tinha o plano de coordenação”, disse Har-Even. “A crença deles era que os veículos eram do Hamas, com base em erros de julgamento e classificação operacional”.

ana.meireles@dn.pt

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