Israel e Hamas refreiam otimismo de Biden sobre cessar-fogo a curto prazo
Israel e o Hamas, bem como os mediadores do Qatar, mostraram-se esta terça-feira cautelosos sobre o andamento das negociações de uma trégua na Faixa de Gaza, refreando assim o otimismo do presidente dos Estados Unidos, que, num programa de televisão na segunda-feira à noite, disse acreditar na celebração de um cessar-fogo temporário até 4 de março, de forma a abranger o Ramadão, que começa no próximo dia 10.
“O Ramadão está a chegar e houve um acordo dos israelitas de que não iriam levar a cabo atividades durante o Ramadão, de forma a dar-nos tempo para retirar todos os reféns”, declarou Joe Biden no programa da NBC Late Night with Seth Meyers. Horas antes, o presidente dos Estados Unidos já havia dito ter esperança num acordo de cessar-fogo celebrado até 4 de março. “O meu conselheiro de Segurança Nacional diz-me que eles estão perto. Estão perto, mas ainda não terminaram. A minha esperança é termos um cessar-fogo até à próxima segunda-feira”.
Neste momento, o Hamas está a avaliar uma proposta para um cessar-fogo que suspenderia os combates durante 40 dias, naquela que seria a primeira trégua prolongada desde o início da guerra, a 7 de outubro. Esta proposta foi acordada por Israel depois de negociações com os mediadores de Estados Unidos, Egito e Qatar na semana passada em Paris. Esta semana, delegações dos dois lados encontram-se no Qatar para acertar detalhes.
Fontes citadas pela Al Jazeera disseram que o acordo incluiria uma trégua de seis semanas em Gaza, e que esta seria acompanhada pela libertação de 40 reféns israelitas, bem como a libertação de cerca de 400 prisioneiros palestinianos. Segundo as mesmas fontes, Israel teria concordado com o regresso gradual ao norte da Faixa e Gaza dos palestinianos deslocados pela ofensiva militar, excluindo os que têm idade militar, bem como com a entrada de mais ajuda humanitária.
Uma outra fonte próxima das negociações disse à Reuters que o grupo islamista gostaria de ver no acordo um mapa para o fim permanente da guerra e a retirada total de Israel da Faixa de Gaza.
Também em declarações à Reuters dois oficiais seniores do Hamas disseram que as declarações de Joe Biden são “prematuras”, pois ainda existem “muitas lacunas para serem preenchidas”. “As questões principais do cessar-fogo e da retirada das forças israelitas não estão claramente definidas, o que atrasa a obtenção de um acordo”, declarou um dos oficiais do Hamas.
Já a porta-voz do governo israelita, Tal Heinrich, sublinhou que para se conseguir um acordo é necessário que o Hamas abandonasse algumas “exigências bizarras”. “Estamos dispostos, mas a questão sobre se o Hamas está disposto mantém-se”, acrescentou. “Não percebemos em que se baseia o otimismo [de Joe Biden]”, acrescentaram oficiais seniores israelitas ao site Ynet.
O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Qatar, Majed Al Ansari, informou que ainda não tinha sido alcançado nenhum “acordo final sobre nenhuma das questões”, mas que continuavam “esperançosos” quanto a um entendimento.
ana.meireles@dn.pt