O Egito e o Qatar esforçavam-se esta quarta-feira por evitar o fim do cessar-fogo na Faixa de Gaza, depois de o Hamas anunciar que não ia libertar três reféns no sábado (como estava previsto) e Israel, à boleia do ultimato dos EUA, ter avisado que, se os reféns, não forem devolvidos voltará aos “combates intensos até à derrota final” do grupo terrorista palestiniano. O Hamas admitia esta quarta-feira haver “sinais positivos” de que os reféns podiam afinal ser libertados no sábado, depois de declarações incendiárias de ambos os lados.“A nossa posição é clara e não vamos aceitar a linguagem das ameaças americanas e israelitas. Israel deve comprometer-se a implementar os termos do acordo de cessar-fogo para a libertação” dos reféns, disse o porta-voz do Hamas, Hazem Qassem, citado pela AFP. Isto antes de uma delegação do grupo chegar ao Cairo. Na agenda do encontro com responsáveis egípcios estava “discutir o fim da atual crise e garantir o compromisso da ocupação [Israel] em implementar o acordo”. O Hamas queixa-se de que não está a entrar a ajuda prevista no cessar-fogo que entrou em vigor no dia 19. No final do encontro, os mediares mostravam-se contudo esperançosos de que seria possível resolver os problemas de última hora, alegando que ambos os lados estavam próximo de um acordo. Isto depois de Israel se ter supostamente comprometido a enviar mais tendas, abrigos e equipamento pesado para Gaza. Mahmoud Merdawi, responsável do Hamas, falou em “sinais positivos”, mas avisou que ainda não havia garantias.Do lado israelita, o ministro da Defesa, Israel Katz, deixou um aviso: “A nova guerra de Gaza será diferente em intensidade daquela antes do cessar-fogo e não terminará sem a derrota do Hamas e a libertação de todos os reféns.” O responsável avisou ainda que o novo conflito “permitirá a realização da visão do presidente Trump para Gaza”, referindo-se ao plano para os EUA assumirem o controlo do território palestiniano, deslocando a população para outros países.Reforço das IDFO Comando Sul das Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) já foi, entretanto, reforçado, incluindo com a mobilização de reservistas, em preparação para “vários cenários”. Esta quarta-feira, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ameaçou romper o cessar-fogo, se não forem libertados reféns - não foi claro se estava a referir-se aos três que estava previsto serem libertados no sábado ou a todos, como exigiu na véspera o presidente dos EUA, Donald Trump.Os norte-americanos continuam também a ameaçar o Hamas. O enviado especial de Trump para o Médio Oriente, Steve Witkoff, disse que haverá “um grande problema” se o Hamas não libertar os reféns. “O presidente disse tudo o que precisamos de saber, que é: sábado, ao meio-dia, espera que haja algo diferente a acontecer e, se não acontecer, vai haver um grande problema”, indicou numa entrevista à CSPAN. Trump mostrou desagrado com o espetáculo das libertações a conta-gotas, previstas no acordo assinado ainda durante a presidência do seu antecessor, Joe Biden, mas que reivindicou como sendo também da sua responsabilidade (Witkoff esteve nas negociações).A sociedade israelita ficou chocada com as imagens do estado dos três últimos reféns (de acordo com a imprensa israelita estavam em condições críticas após passarem fome e sofrerem abusos), tendo as famílias voltado a protestar junto à residência de Netanyahu - que alguns acusam de ter demorado a assinar o acordo (cujas bases já estavam estabelecidas há meses).susana.f.salvador@dn.pt