O presidente do Irão, Massoud Pezeshkian, deu esta quarta-feira, 2 de julho, a aprovação final à legislação que suspende a cooperação com a Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA), o órgão de controlo nuclear das Nações Unidas, e surge na sequência da guerra de 12 dias entre Teerão e Telavive, em junho, durante a qual infraestruturas nucleares iranianas foram alvo de ataques aéreos israelitas e norte-americanos. “Estamos cientes destes relatos. A AIEA aguarda mais informações oficiais do Irão”, afirmou a agência da ONU em comunicado.“O governo está mandatado a suspender imediatamente toda a cooperação com a Agência Internacional de Energia Atómica, nos termos do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares e do seu Acordo de Salvaguardas”, anunciou a televisão estatal iraniana, citando o projeto de lei. “Esta suspensão permanecerá em vigor até que certas condições sejam cumpridas, incluindo a garantia da segurança das instalações nucleares e dos cientistas”.Este anúncio de Teerão surge sem surpresa, já que o Irão tinha ameaçado interromper a sua cooperação com a AIEA, organismo que acusa de se ter aliado aos países ocidentais e de ter dado uma justificação para os ataques aéreos de Israel ao declarar o país em violação das obrigações ao abrigo do Tratado de Não Proliferação Nuclear - os ataques de Israel começaram um dia depois da votação do conselho de governadores da Agência Internacional da Energia Atómica. Israel, através do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, condenou a decisão iraniana, que classificou de “escandalosa”. “Isto representa uma renúncia completa a todas as suas obrigações e compromissos nucleares internacionais”, escreveu Gideon Saar no X. O líder da diplomacia israelita apelou ainda aos países europeus que fizeram parte do acordo nuclear iraniano de 2015 negociado pelo então presidente norte-americano Barack Obama - França, Alemanha, Reino Unido - a implementar a chamada cláusula de regresso, que levaria à reinstauração de todas as sanções da ONU, originalmente suspensas pelo acordo. De recordar que Donald Trump retirou os EUA deste plano de ação em 2018, tendo voltado às negociações com Teerão nos últimos meses, o que foi suspenso devido aos recentes ataques. Com a AIEA a aguardar ainda informações adicionais por parte de Teerão, não é claro o que isto significa na prática para a agência das Nações Unidas, que tem monitorizado o programa nuclear iraniano. Em declarações à AP, um diplomata com conhecimento das operações da AIEA afirmou que os inspetores da agência ainda estavam no local após o anúncio e não tinham sido instruídos pelo governo iraniano para se retirarem.No domingo, o diretor da Agência Internacional de Energia Atómica afirmou, numa entrevista à CBS, que o Irão pode voltar a enriquecer urânio numa “questão de meses”. Rafael Grossi explicou ainda que os danos causados pelos ataques dos EUA e de Israel às instalações nucleares iranianas foram “graves”, mas não “totais” e que Teerão tem capacidade para reconstruir estas infraestruturas.O argentino esclareceu também que os danos causados nas instalações em Fordo, Natanz e Isfahan prejudicaram significativamente a capacidade de Teerão, mas sublinhou que “o Irão é um país muito sofisticado em termos de tecnologia nuclear (...). Não se pode desfazer o conhecimento que se tem ou as capacidades que se tem.” Esta segunda-feira, o líder da diplomacia iraniana foi confrontado com as declarações de Grossi, referindo que “não se pode destruir a tecnologia e a ciência do enriquecimento através dos bombardeamentos”. “Se tivermos a vontade de voltar a progredir neste setor, e essa vontade existir, podemos reparar rapidamente os danos e recuperar o tempo perdido”, acrescentou Abbas Araghchi também à CBS. .Teerão acusa Trump de comportamento inconstante e de “jogo psicológico” sobre programa nuclear