O ultraconservador Saeed Jalili (esq.) conseguiu 38,6% dos votos, atrás do reformista Masoud Pezeshkian, que ficou à frente na primeira volta.
O ultraconservador Saeed Jalili (esq.) conseguiu 38,6% dos votos, atrás do reformista Masoud Pezeshkian, que ficou à frente na primeira volta.ATTA KENARE / AFP

Irão obrigado a uma quase inédita segunda volta nas presidenciais

Os dois candidatos mais votados foram o reformista Masoud Pezeshkian e o ultraconservador Saeed Jalili. Participação dos iranianos não foi além dos 39,9%.
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O único candidato reformista, Masoud Pezeshkian, vai enfrentar o ultraconservador Saeed Jalili na segunda volta das presidenciais antecipadas do Irão, segundo anunciaram ontem as autoridades eleitorais, com base nos resultados da votação de sexta-feira, que registou uma histórica baixa participação. Olhando para as 13 anteriores eleições presidenciais realizadas no Irão desde a Revolução Islâmica de 1979, só em 2005 tinha havido uma segunda volta, quando Mahmoud Ahmadinejad derrotou o ex-presidente Akbar Hashemi Rafsanjani.

Pezeshkian, antigo ministro da Saúde de 69 anos, conseguiu obter 42,4% dos votos, enquanto que Jalili, 58 anos, conhecido por ser um antigo negociador nuclear, não foi além dos 38,6%. O presidente do parlamento, Mohammad Bagher, ficou em terceiro, com 13,8%, e o quarto candidato constante dos boletins, Mostafa Pourmohammadi, um antigo ministro do Interior, recebeu menos de 1% das preferências.

Apenas 39,9% dos 61 milhões de eleitores iranianos votaram nas presidenciais de sexta-feira, o número mais baixo de sempre em eleições no Irão. As eleições parlamentares de março tiveram uma participação de 40,6%, enquanto que as presidenciais de 2021 que elegeram Ebrahim Raisi chegaram aos 48,8%. De recordar que inicialmente as presidenciais estavam apenas previstas para o próximo ano, mas foram antecipadas devido à morte de Raisi, em maio, num acidente de helicóptero. 

Na sexta-feira, o ayatollah Ali Khamenei, líder supremo do Irão, tinha sublinhado que uma alta participação era uma “necessidade absoluta” e que a “durabilidade, estabilidade, honra e dignidade” do país dependia do voto dos iranianos. “Vamos encarar isto como um protesto por direito próprio: uma escolha muito generalizada de rejeitar o que está em oferta - tanto os candidatos como o sistema”, disse à AP Sanam Vakil, diretora do programa da Chatham House para o Médio Oriente e Norte de África. “A pergunta a fazer agora é: será que as pessoas que ficaram em casa irão votar para evitar uma vitória de Jalili? Saberemos o resultado final dentro de uma semana”, acrescentou a mesma especialista na rede social X. 

Estas eleições realizam-se numa altura de grandes tensões regionais por causa da guerra em Gaza, de uma disputa com o Ocidente por causa do programa nuclear iraniano e de um descontentamento interno por causa do estado da economia do país devido às sanções.

Pezeshkian - que recebeu o apoio do antigo presidente Mohammad Khatami, de quem foi ministro da Saúde - acusou o governo de Raisi de falta de transparência durante os protestos que assolaram o país na sequência da morte de Mahsa Amini, em setembro de 2022. Durante a campanha, apelou a existência de “relações construtivas” com os Estados Unidos e a Europa de forma “a sair do isolamento”. 

Jalili, por seu turno, manteve o seu discurso anti-Ocidente, coerente com as suas várias posições dentro do regime. Foi negociador nuclear e é, atualmente, um dos representantes do ayatollah Khamenei no Conselho Supremo de Segurança Nacional, o mais alto organismo de segurança do país. 

Independentemente que quem seja, o vencedor da segunda volta terá de aplicar as políticas delineadas por Khamenei, que, como líder supremo, tem a última palavra. 

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