Irão assume acidente na central nuclear de Natanz. E há já quem fale em sabotagem
Um porta-voz do programa nuclear civil do Irão revelou este domingo que um "acidente" atingiu a rede de distribuição elétrica da instalação nuclear de Natanz, um dia depois de o governo anunciar que estava a ativar novas centrifugadoras de enriquecimento de urânio. Behrouz Kamalvandi garantiu que não havia feridos nem poluição radioativa.
Entretanto, o deputado Malek Chariati, porta-voz da comissão parlamentar da energia, veio denunciar que, afinal, a falha de energia terá sido uma "sabotagem". "Este incidente, que ocorreu no dia seguinte ao Dia Nacional da Tecnologia Nuclear e num contexto em que o Irão está a tentar forçar o Ocidente a levantar as sanções, é altamente suspeito de sabotagem ou infiltração", escreveu Chariati no Twitter.
Este sábado, o presidente iraniano Hassan Rohani inaugurou uma linha de 164 máquinas IR-6 e outra de 30 IR-5, instaladas no complexo nuclear de Natanz (centro do Irão), durante uma cerimónia em videoconferência transmitida pela televisão do Estado.
Teerão começou a equipar-se com estes engenhos desde maio de 2019 e o ritmo acelerou-se nos últimos meses. Os novos equipamentos permitem enriquecer urânio mais rápido e em quantidade mais abundante do que os "de primeira geração", os únicos que o acordo de Viena autorizou o Irão a utilizar.
Estes anúncios acontecem quando decorrem discussões em Viena entre a República Islâmica e outros estados participantes no acordo de 2015 (Alemanha, China, França, Grâ-Bretanha e Rússia) sobre como reintegrar os Estados Unidos no pacto concluído na capital austríaca.
Este acordo está moribundo desde que os EUA decidiram sair unilateralmente, em 2018, desencadeando uma série de sanções económicas e financeiras contra o Irão.
O jornal inglês The Guardian recorda que uma explosão misteriosa em julho de 2020 danificou as instalações avançadas de centrifugação de Natanz, tendo o Irão mais tarde alegado que se tratara de sabotagem .
Sexta-feira os Estados Unidos afirmaram ter apresentado ideias "muito sérias" sobre a retoma do acordo, mas que estavam a aguardar a reação de Teerão, algo que a decisão de sábado falhou claramente em fazer.
Desde janeiro, o estoque de urânio enriquecido com 20% de pureza no Irão cresceu para 55 quilos, movendo o país para níveis próximos aos utilizados em armas nucleares.
Israel não duvida que seja esse o objetivo e alega que o Irão ainda mantém a ambição de desenvolver armas nucleares, apontando para o programa de mísseis balísticos de Teerão, entre outras investigações.
Teerão nega que seja essa a pretensão e garante que seu programa nuclear tem fins pacíficos. Culpou Israel pelos recentes ataques, incluindo a explosão na instalação nuclear de Natanz e outra em novembro que matou o cientista Mohsen Fakhrizadeh .
Natanz foi o primeiro alvo em 2007 de uma campanha de guerra cibernética, que incluía o uso do vírus de computador Stuxnet, que baralhou o código e levou à destruição de centenas de centrifugadoras, entre outros danos. Israel e os EUA foram considerados os arquitetos da operação.
Os EUA retiraram-se unilateralmente do acordo nuclear em 2018 sob o então presidente Donald Trump, que impôs sanções a Teerão, que respondeu recuando de vários de seus compromissos no acordo.
O sucessor de Trump, Joe Biden, já disse que está preparado para voltar, argumentando que o acordo - até a retirada de Washington - teve sucesso em reduzir drasticamente as atividades nucleares do Irão.
O Irão exigiu que os EUA primeiro retirassem todas as sanções impostas por Trump, incluindo uma proibição unilateral de suas exportações de petróleo, antes de se voltar a alinhar.
"Os EUA - que causaram esta crise - devem retornar ao cumprimento total primeiro", tuitou o ministro das Relações Exteriores Mohammad Javad Zarif, acrescentando que "o Irão retribuirá após uma verificação rápida".