Milhares de israelitas marcharam esta terça-feira, 26 de agosto, até à Praça dos Reféns, em Telavive, numa grande manifestação que marcava o fim de mais um dia de protestos em todo o país, exigindo a libertação dos reféns e um acordo de cessar-fogo. “Nem esquerda, nem direita, os reféns acima de tudo”, gritava a multidão, segundo o Times of Israel, caminhando atrás das famílias dos reféns. A organização indicou a presença de 350 mil pessoas. Durante o dia, em resposta a um apelo do Fórum de Reféns e Famílias Desaparecidas de Israel para um “Dia Nacional de Luta”, manifestantes israelitas bloquearam estradas em Telavive e noutras partes do país, queimando pneus, exibindo fotografias de reféns ainda detidos em Gaza, agitando faixas com as palavras “Acordo de Reféns Já”, e apelando ao fim da guerra. Os familiares dos sequestrados diziam esta terça-feira esperar que esta pressão pública constante possa levar o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, a comprometer-se com negociações significativas de cessar-fogo. O Gabinete de Segurança de Israel, liderado pelo próprio Netanyahu, esteve reunido esta terça-feira à tarde, mas, segundo os media israelitas, o acordo de cessar-fogo de 60 dias e libertação dos reféns, já aprovado pelo Hamas, não foi discutido. Centenas de manifestantes protestaram também à porta da reunião, que decorreu no gabinete do primeiro-ministro.“Podíamos ter terminado a guerra há um ano e trazido todos os reféns e soldados para casa. Podíamos ter salvo reféns e soldados, mas o primeiro-ministro escolheu, repetidamente, sacrificar civis em nome do seu governo”, afirmou ontem Einav Zangauker, cujo filho de 25 anos, Matan, está entre os reféns que se acredita ainda estarem vivos. “Há 690 dias que o Governo trava uma guerra sem um objetivo claro”, prosseguiu esta mãe, num comunicado conjunto com outras famílias de reféns que lançaram o chamado Dia da Rutura. “Voltem à mesa das negociações. Há um bom acordo em jogo. É algo com que podemos trabalhar”, disse à AP Ruby Chen, pai de Itay Chen, de 21 anos, um israelo-americano cujo corpo está em Gaza. “Poderíamos fechar um acordo para trazer todos os reféns de volta”. O Hamas raptou 251 pessoas a 7 de outubro de 2023 e a maioria foi libertada em cessar-fogos anteriores. Israel conseguiu resgatar apenas oito reféns vivos, sendo que 50 ainda permanecem em Gaza e Telavive acredita que cerca de 20 ainda estão vivos.Gil Dickmann disse à BBC que se tinha juntado aos protestos de ontem para dizer “basta”. A sua prima, Carmel Gat, esteve em cativeiro durante 11 meses, após ter sido raptada no 7 de Outubro. “Há exatamente um ano, Carmel foi mantida refém em Rafah e nós dizíamos repetidamente para não entrarem em Rafah porque isso causaria uma enorme perturbação e colocaria em risco a vida dos reféns”, prosseguiu este israelita. “Netanyahu decidiu fazê-lo na mesma e Carmel foi assassinada”..Drones trocados por tanquesOs ataques israelitas de segunda-feira ao Hospital Nasser, em Khan Younis - que mataram pelo menos 20 pessoas, incluindo cinco jornalistas - continuaram esta terça-feira a receber críticas da comunidade internacional, como do governo do Reino Unido, que os classificou como “horríveis” e “completamente indefensáveis”.A Comissão Europeia considerou esses mesmos ataques “completamente inaceitáveis”, sublinhando que “os civis em Gaza sofrem há muito tempo e demasiado, e é a hora de quebrar o ciclo de violência”.Bruxelas está a sofrer uma crescente pressão para sancionar Israel. Esta terça-feira, uma carta assinada por 110 antigos embaixadores da UE e altos funcionários diplomáticos e 99 antigos embaixadores de França, Alemanha e Itália apela a medidas urgentes em relação à guerra de Israel em Gaza e às ações ilegais na Cisjordânia.No documento é dito que, se a União Europeia não agir em bloco, os seus 27 Estados-membros devem tomar medidas individualmente ou em grupos mais pequenos para apoiar os direitos humanos e defender o direito internacional, sendo ainda referidas nove abordagens possíveis.Entre estas abordagens estão a suspensão das licenças de exportação de armas, a proibição do comércio de bens e serviços com colonatos ilegais e a proibição de os centros de dados europeus receberem, armazenarem ou tratarem dados do governo israelita ou de fontes comerciais relacionados com a presença de Israel em Gaza e noutros locais dos territórios ocupados.Embora não fazendo parte da UE, a primeira reação da Europa neste sentido surgiu logo esta terça-feira, com o Fundo Global de Pensões da Noruega, o maior fundo soberano do mundo, a anunciar a venda das ações que detinha no grupo industrial norte-americano Caterpillar e em cinco instituições bancárias israelitas.De acordo com um comunicado, o fundo estatal norueguês justificou as vendas das ações alegando que existe um risco que considera inaceitável de as empresas e bancos em causa contribuírem para graves violações dos direitos individuais em situações de guerra e conflito.A China mostrou-se chocada, com o porta-voz da diplomacia de Pequim a frisar que “condenamos o facto de, mais uma vez, infelizmente, os profissionais de saúde e os jornalistas terem sido mortos neste conflito”. “Israel deve interromper imediatamente as suas operações militares em Gaza, concluir um cessar-fogo abrangente e duradouro o mais rapidamente possível, restaurar totalmente o fluxo de ajuda humanitária, evitar uma crise humanitária em grande escala e trabalhar para aliviar as tensões o mais rapidamente possível”, afirmou Guo Jiakun.A ONU exigiu esta terça-feira que as investigações israelitas sobre os assassinatos ilegais em Gaza, incluindo o atentado “duplo” ao hospital Nasser, tenham resultados e responsabilização. “É preciso haver justiça”, disse Thameen Al-Kheetan, porta-voz do gabinete de Direitos Humanos da ONU.O Governo israelita emitiu um comunicado afirmando que Israel “lamenta profundamente o trágico acidente ocorrido”, adiantando que os militares estavam a conduzir uma “investigação completa” ao sucedido.Os primeiros resultados desta investigação foram conhecidos esta terça-feira ainda, com as Forças de Defesa de Israel a indicar que esta determinou que as tropas identificaram uma câmara “posicionada pelo Hamas” na área do hospital para observar as suas forças e ajudar a direcionar ataques contra os soldados israelitas.De acordo com o exército, as forças da Brigada Golani que operavam em Khan Younis identificaram a câmara no terreno do hospital e destruíram-na após determinarem que representava uma ameaça imediata.A televisão israelita Canal 12 avançou que o plano inicial seria um ataque de drones, mas que pouco depois as tropas avistaram o que acreditavam ser uma mira de espingarda perto do local, pedindo autorização urgente para atacar. O comandante da divisão autorizou então o disparo de projéteis a partir de tanques. Esta terça-feira, segundo relatos da Reuters, mais famílias palestinianas abandonaram a cidade de Gaza, após uma noite de bombardeamentos israelitas nos seus arredores, destruindo estradas e casas. O exército israelita levou a cabo ontem também um ataque a Ramallah, na Cisjordânia, justificando-o como uma operação para entrar numa casa de câmbio que alegadamente enviava fundos ao Hamas. Pelo menos 58 pessoas ficaram feridas no ataque, disse o Crescente Vermelho..Israel diz não ter jornalistas como alvo “como tal”. Já morreram 192 na Faixa de Gaza