Incógnita 2027: Marine tenta a quarta vez e quem será o delfim de Macron?
Depois de, em finais de março, ter garantido ao Journal du Dimanche que, se não vencesse estas presidenciais, não voltaria a candidatar-se, na noite da derrota Marine Le Pen foi menos perentória. "Prosseguirei o meu compromisso político", garantiu. Ora, se não é certo que dentro de cinco anos a candidata da Reunião Nacional (antiga Frente Nacional) volte a tentar a sua sorte numa terceira eleição presidencial, o que sabemos é que Emmanuel Macron está proibido pela Constituição de tentar um terceiro mandato. O presidente, que em 2016 criou o seu partido, La République en Marche!, à sua imagem tem agora cinco anos para encontrar um delfim capaz de provar que o macronismo pode perpetuar-se mesmo sem Macron.
Embora o presidente acabe de ser reeleito, e com todas as atenções centradas nas legislativas de 12 e 19 de junho, a verdade é que a batalha por 2017 também já começou. E o nome que mais vezes surge como potencial sucessor de Macron é o do antigo primeiro-ministro Édouard Philippe. À frente do governo entre 2017 e 2020, no ano seguinte o presidente da Câmara de Le Havre lançou o seu próprio partido - Horizontes, de centro direita. Uma opção que os analistas viram mais como uma forma de Philippe apoiar Macron e preparar o dia em que lhe poderá suceder do que como uma traição ao presidente. "Digo-o claramente, o meu objetivo é que, em 2022, Emmanuel Macron seja reeleito. E Horizontes pode ser uma ferramenta ideal", garantia em outubro de 2021.
Com estas presidenciais a confirmarem o desaparecimento dos partidos tradicionais - somadas, as candidatas do PS, Anne Hidalgo, e de Os Republicanos, Valérie Pécresse, não chegaram aos 7% dos votos na primeira volta -. é uma França extremada que Macron vai liderar nos próximos cinco anos - à direita e à esquerda. Ora a extrema-esquerda parece estar a apostar as fichas todas nas legislativas, com Mélenchon a sonhar transformar o terceiro lugar na primeira volta numa vitória na "terceira", como descreve as legislativas. Se o conseguir, resta saber se dentro de cinco anos o líder da França Insubmissa volta a tentar a sua sorte nas presidenciais. Seria a quarta tentativa. Mas se não avançar, há quem já lhe aponte François Ruffin como possível sucessor. Fundador do jornal satírico Fakir, foi eleito deputado em 2017 e é conhecido pelas posições fortes.
No extremo oposto do espetro político, também Marine protagonizará a quarta candidatura se voltar a tentar a sua sorte em 2027. Mesmo assim, menos uma do que o pai, Jean-Marie Le Pen. Mas e se Marine não for candidata? Aqui também a incógnita é grande. Dois nomes surgem nos media franceses: Jordan Bardella, desde o ano passado presidente interino da Reunião Nacional, de 26 anos, e Louis Aliot, antigo companheiro de Le Pen e presidente da Câmara de Perpignan.
Claro que estas presidenciais vieram mostrar que a extrema-direita não é coutada exclusiva da família Le Pen. E depois dos 7% conquistados este ano, Éric Zemmour pode voltar a tentar a sua sorte em 2027. Isto se não surgir um nome novo também neste campo, com Marion Maréchal, neta de Jean-Marie e sobrinha de Marine Le Pen, a ser a principal aposta dos analistas. Afastada da política ativa desde 2017, a antiga deputada apoiou Zemmour nestas presidenciais. Dentro de cinco anos, veremos.
Macron, quanto a ele, depois de mais cinco anos à frente dos destinos de França, em 2027 poderá "reformar-se" aos 49. O que não significa que não volte a tentar a sua sorte em 2032.
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