O presidente da Ucrânia mostrou-se recetivo a encetar negociações diretas com o líder russo, revelou numa entrevista ao jornalista britânico Piers Morgan. O Kremlin disse que “tais declarações roçam a insanidade”, mas ao mesmo tempo afirmou também estar pronto para entrar em diálogo.“Se essa for a única forma de trazer paz aos cidadãos da Ucrânia e não perder pessoas, então, sem dúvida, optaremos por essa forma. O que é que isso importa, a minha atitude para com ele?” disse Volodymyr Zelensky sobre a hipótese de se reunir com Vladimir Putin. “Não serei gentil para com ele, considero-o um inimigo. E, para ser honesto, acredito que ele também me considera um inimigo.”Zelensky avançou que Kiev não está disposta a reconhecer qualquer território ucraniano ocupado como território russo e disse que o processo de negociação deve incluir também os Estados Unidos e a União Europeia. O líder ucraniano defendeu ainda que Moscovo pague uma compensação financeira pelos danos da invasão. Sobre a possibilidade de a adesão à NATO ficar pendente durante anos ou décadas, Zelensky solicitou aos aliados de Kiev mísseis, a devolução de armas nucleares, e ajuda para financiar um Exército de um milhão de pessoas como garantias de segurança..O Kremlin disse que as declarações de Zelensky “roçam a insanidade” e lembram que o líder ucraniano proibiu as negociações com Putin por decreto.. Por parte da Rússia, a mudança de atitude de Zelensky foi vista com ceticismo. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, recordou que o presidente ucraniano decretou, em outubro de 2022, a proibição de quaisquer negociações enquanto Vladimir Putin estivesse no poder na Rússia, consequência de o Kremlin ter reivindicado a anexação de Lu- gansk, Donetsk, Zaporíjia e Kherson. Também disse que o líder ucraniano tem “grandes problemas de jure em termos de legitimidade”, em alusão ao facto de não ter havido eleições decorrente do estado marcial. Depois, classificou a abertura de Zelensky como “palavras vazias”, mas disse que as possíveis negociações devem basear-se na “realidade do terreno” e numa “disponibilidade e desejo” reais. “Apesar de tudo, continuamos abertos às negociações”, concluiu Peskov.As declarações de Zelensky surgem depois de o presidente dos EUA ter mostrado interesse em fazer um acordo com Kiev envolvendo a continuidade da assistência militar em troca de minerais críticos. Segundo um funcionário norte-americano citado pela NBC News, Trump “começou a aperceber-se de como é difícil resolver esta questão e de que a Rússia não vai ser construtiva, a menos que se exerça mais pressão”. Disse também que o obstáculo à paz não é a Ucrânia. “Penso que [Trump] está a aperceber-se disso, e também está a aperceber-se de como seria mau, politicamente, quanto mais não seja, e estrategicamente, se isto se lixasse.”