Golpe militar? Aung San Suu Kyi e outros líderes birmaneses detidos

O país esteve sob ditadura militar entre 1962 e 2011. Tensão entre governo civil e militares surgiu depois de o partido de Suu Kyi ter ganhado as eleições de novembro, que o exército alega terem sido fraudulentas.

A líder de Myanmar (antiga Birmânia), Aung San Suu Kyi, e outras figuras do partido no poder foram detidos às primeiras horas de segunda-feira, disse um porta-voz da Liga Nacional para a Democracia à Reuters.

As detenções surgem após dias de escalada de tensão entre o governo civil e os militares que desencadeou receios de que estaria a preparar-se um golpe depois das eleições que o exército alega foram fraudulentas.

O porta-voz Myo Nyunt disse à Reuters que Suu Kyi, oficialmente primeira conselheira de Estado, o presidente Win Myint e outros líderes foram "levados". "Quero dizer às pessoas para não responderem precipitadamente e quero que atuem de acordo com a lei", afirmou, dizendo também esperar ser detido.

Segundo o correspondente da BBC, há soldados nas ruas da capital, Naypyitaw, e na principal cidade, Rangum, e as linhas telefónicas com a capital foram cortadas.

Os rumores de um golpe de estado intensificaram-se desde que, terça-feira, um porta-voz militar, Zaw Min Tun, se negou a pôr de parte a possibilidade de o Exército tomar o poder após supostas irregularidades nas eleições gerais de 8 de novembro -- ganhas pela Liga Nacional para a Democracia.

No dia seguinte à votação, o chefe do Exército birmanês, Min Aung Hlaing, afirmou, numa intervenção perante as Forças Armadas, que se deveria abolir a Constituição se a Carta Magna não for cumprida, o que foi interpretado como uma ameaça ao país, que esteve submetido a uma ditadura militar entre 1962 e 2011.

A Comissão Eleitoral de Myanmar negou que tenha existido qualquer fraude eleitoral nas eleições de novembro, ganhas, com uma grande maioria, pela NLD, liderada por Aung San Suu Kyi, que obteve 83% dos 476 assentos parlamentares.

As supostas irregularidades foram denunciadas em primeiro lugar pelo Partido da Solidariedade e de Desenvolvimento da União (USPD, na sigla em inglês), a antiga força política no poder, criada pela então Junta Militar antes de esta se dissolver.

O USDP foi o grande derrotado das eleições, ao obter apenas 33 lugares no Parlamento, tendo recusado aceitar os resultados, chegando mesmo a pedir a realização de nova votação, desta vez organizado pelo Exército.

Os militares, que fizeram a redação da atual Constituição tendente a criar uma "democracia disciplinada", detêm um grande poder no país, tendo, à partida, garantidos 25% dos lugares no Paramento, bem como os influentes ministérios do Interior, das Fronteiras e da Defesa.

A vitória eleitoral de Suu Kyi, Nobel da Paz em 1991, demonstrou a sua grande popularidade em Myanmar, apesar da má reputação internacional pelas políticas contra a minoria rohingya, a quem é negada a cidadania e o voto, entre outros direitos.

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