A Geórgia vai conhecer este sábado o nome do seu novo presidente, que será escolhido pela primeira vez não por voto popular, mas sim por um colégio eleitoral, na sequência da Constituição que entrou em vigor em dezembro de 2018 e desenhada pelo partido Sonho Georgiano com vista a reforçar o seu controlo sobre o país, graças à passagem do sistema de governação semi-presidencial para o parlamentar. A atual presidente, a pró-europeia Salome Zourabichvili, garante que vai continuar no cargo pois não reconhece a legitimidade do Parlamento eleito nas legislativas de 26 de outubro..O único candidato na corrida é Mikheil Kavelashvili, de 53 anos, pois devido ao boicote da oposição aos resultados das legislativas, não foi apresentado nenhum nome pelos outros partidos, além do Sonho Georgiano (SG). Atual deputado pelo Poder do Povo, um partido anti-Ocidente que co-fundou em 2022 após abandonar o Sonho Georgiano, o anúncio da sua candidatura foi feito, no dia 27, por Bidzina Ivanishvili, bilionário fundador do SG, dizendo que Kavelashvili é “a personificação de um homem georgiano”..No seu discurso de aceitação, Kavelashvili prometeu unir o país, acusando a presidente Salome Zourabichvili de ter “insultado e ignorado” a Constituição. Acusa também a oposição de ser guiada por congressistas norte-americanos que têm “um desejo insaciável de destruir o nosso país” e planeiam “uma revolução violenta direta” e a “ucranização da Geórgia”..Kavelashvili é um antigo futebolista profissional que passou pelo Machester City nos anos 90, tendo terminado a sua carreira em 2006 no Basileia. Vestiu ainda a camisola da seleção da Geórgia (1991-2002) por 46 vezes, tendo sido impedido de se candidatar à presidência da federação de futebol georgiana em 2025 por não ter formação superior..Com a abolição do voto popular nas presidenciais, Kavelashvili passará hoje pelo crivo de um colégio eleitoral composto por 300 pessoas, entre as quais os 150 deputados do Parlamento. No entanto, devido ao boicote parlamentar da oposição, não haverá representantes locais ou deputados da oposição nesta votação. O que não impedirá a eleição de Kavelashvili, que pela nova Constituição, poderá cumprir dois mandatos de cinco anos (até agora era permitido apenas um). .A grande questão é o que fará Salome Zourabichvili, de 72 anos. Apesar de ter sido eleita com a ajuda de Bidzina Ivanishvili em 2018, a ainda presidente afastou-se completamente dos ideais do Sonho Georgiano, tendo-se juntado às fileiras dos detratores partido, no poder desde 2012, quando este começou a adotar uma postura de autoritarismo pró-Russia. Vetou, sem sucesso, várias leis consideradas repressivas, levando a que o Sonho Georgiano tenha tentado, sem sucesso, destitui-la uma vez e anunciado uma segunda tentativa, que não chegou a cumprir. .Após as legislativas de 26 de outubro, vencidas mais uma vez pelo Sonho Georgiano mas denunciadas como objeto de fraude, Zourabichvili assumiu a causa do movimento de protesto pró-europeu e proclamou-se como “a única instituição legítima” do país e anunciou que se recusaria a renunciar ao mandato, que deveria terminar no dia 29, enquanto não fossem organizadas novas eleições..Esta crise política tem eco nas ruas de Tbilissi, e outras cidades da Geórgia, tendo-se registado esta sexta-feira o 16.º dia consecutivo de manifestações pró-Ocidente. Esta nova vaga de protestos foi espoletada pelo anúncio de que o país iria suspender as negociações de adesão à União Europeia até final de 2028. “Estou protegida pelas pessoas que estão nas ruas”, declarou à BBC Zourabichvili no início do mês. “O partido no poder está muito isolado hoje e ficará ainda mais isolado”.