A acontecer será um pequeno prémio de consolação para Emmanuel Macron. Foi o presidente francês quem propôs Genebra para receber a eventual reunião entre os líderes da Ucrânia e da Rússia. O ministro dos Negócios Estrangeiros suíço confirmou a disponibilidade para acolher o encontro e comprometeu-se em não acionar os mecanismos para deter o russo, procurado internacionalmente pela suspeita de transferência e deportação ilegal de crianças dos territórios ocupados para a Rússia.O chefe de Estado francês confirmou, em entrevista à LCI, a proposta de que a reunião entre Volodymyr Zelensky e Vladimir Putin ocorra em território europeu. “Mais do que uma hipótese, é uma vontade coletiva. Será num país neutral, portanto talvez na Suíça - eu proponho Genebra - ou noutro país.” Na segunda-feira, em Washington, Macron defendeu um assento para a Europa se fazer ouvir à mesa do encontro mais alargado, a realizar-se após o bilateral, e no qual participarão Zelensky, Putin e Donald Trump. Mas a sua reivindicação caiu em saco roto, tal como a que pugnou, em uníssono com Friedrich Merz, sobre a necessidade de um cessar-fogo antes de as negociações avançarem.Ignazio Cassis, chefe da diplomacia helvética, lembrou que a realização do encontro e a escolha do local “dependem da vontade dos países” em guerra, no entanto, pela parte de Berna está tudo “preparado”, inclusive no que respeita a receber o líder russo. Cassis disse que “apesar da ordem judicial” emitida pelo Tribunal Penal Internacional em 2023, a reunião pode ter lugar na Suíça devido “ao papel especial” do país e pelo “papel de Genebra como sede europeia das Nações Unidas”.Segundo Il Giornale, a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni propôs Roma para acolher a reunião, enquanto Trump e Zelensky estariam inclinados para o Vaticano. Budapeste e Helsínquia foram outras capitais que os canais diplomáticos europeus equacionaram. Mas Genebra, que também será do agrado de Moscovo, segundo o referido jornal italiano, tem características únicas. Além da sede das Nações Unidas (onde estão representados 40 organismos da ONU), onde antes funcionou a Sociedade das Nações, a cidade acolhe 180 missões permanentes e 400 ONG, sendo a mais emblemática a Cruz Vermelha. Razão pela qual é conhecida como a “cidade humanitária” e da qual emana o “espírito de Genebra”, isto é, de um conjunto de valores sociais e humanistas que está inscrito no Património Imaterial da Suíça.Palco de cimeiras históricas e de fracassosPara Vladimir Putin, que mede a Rússia pela fita da União Soviética, Genebra pode ser uma solução do seu agrado. Foi aí que em 1955 decorreu a primeira cimeira pós-guerra entre a URSS e as potências ocidentais (EUA, Reino Unido e França) e onde se discutiu a reunificação da Alemanha e as relações Leste-Oeste. Quarenta anos depois, foi o palco de uma cimeira entre o soviético Mikhail Gorbachev e o norte-americano Ronald Reagan. O homem que tentou reformar a URSS e o antigo ator acordaram na redução do arsenal nuclear para metade. O próprio Putin protagonizou uma cimeira EUA-Rússia, em 2021, tendo como homólogo Joe Biden, o qual três meses antes lhe tinha chamado publicamente “assassino”. Ao fim de três horas e meia ficou acordado reiniciar as discussões sobre a proliferação nuclear e também sobre cibersegurança, bem como recolocar os respetivos embaixadores nas capitais. Nada foi alcançado sobre a Ucrânia e, oito meses depois, a Rússia invadiu o país com o qual estava em conflito desde 2014.O encontro de Putin com Biden não foi o único fracasso ocorrido em Genebra. Na semana passada, delegados de mais de 100 países reuniram-se com o objetivo de criar um tratado global para reduzir a poluição no planeta causada pelo plástico, mas a reunião terminou sem acordo, com os EUA a liderarem a oposição ao documento.