Um caça francês (Rafale) e outro norte-americano (F-16) na base aérea de Ramstein, na Alemanha.
Um caça francês (Rafale) e outro norte-americano (F-16) na base aérea de Ramstein, na Alemanha.NATO

Gastos militares dos países da NATO vão aumentar 18% neste ano

Larga maioria dos aliados vai cumprir o compromisso de Gales, uma evolução saudada por Stoltenberg e Biden. Secretário-geral da NATO critica papel dúplice da China sobre a Ucrânia.
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Horas antes de a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) ter divulgado a evolução das despesas em Defesa de cada país aliado na última década, o seu secretário-geral foi recebido na Casa Branca pelo presidente Joe Biden, ocasião em que ambos aproveitaram para elogiar o aumento dos gastos militares. “Em toda a Europa e Canadá os aliados da NATO estão este ano a aumentar os gastos em defesa em 18%. É o maior incremento em décadas”, sublinhou Jens Stoltenberg. O presidente norte-americano também ficou com os louros ao comentar que o número dos países a cumprir a meta de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) “mais do que duplicou” desde que assumiu o cargo.  

Stoltenberg anuiu: “Este valor é mais do dobro do que era há quatro anos e mostra que os aliados europeus e o Canadá estão realmente a dar um passo em frente e a assumir a sua parte da responsabilidade comum de nos proteger a todos.” O norueguês não disse qualquer mentira, mas os dados da maioria mascaram o desempenho de alguns países que se mantêm longe de alcançar a fasquia. Portugal, por exemplo, prevê investir 1,55% do PIB neste ano, um valor mais baixo do que a previsão entretanto corrigida para baixo de 1,66% em 2023.

O executivo mudou, mas o objetivo de atingir 2% em 2030 mantém-se e não poderá ser antecipado, reconheceu o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, no mês passado, em declarações à Antena 1. Um ano antes, em 2029, é a meta de Espanha, o último dos 31 aliados, com a previsão de 1,28% do PIB em gastos militares em 2024. Os outros países menos disponíveis são a Bélgica, Canadá, Croácia, Eslovénia, Itália e Luxemburgo. No polo oposto estão a Polónia (4,12%), Estónia (3,43%) e Estados Unidos (3,38%). 

335 euros é quanto cada português gastará em Defesa, em 2024, um aumento de um pouco mais de 20 euros per capita face a 2023. O albanês é o cidadão da NATO que menos dispende (106 euros) e o norte-americano o que mais gasta (2084 euros). Noruegueses (1632 euros) e dinamarqueses (1376 euros) seguem-se na lista dos maiores investidores em Defesa per capita. (Carlos Carneiro / Global Imagens)

Stoltenberg, que se prepara para deixar o cargo no primeiro dia de outubro, reuniu-se com Biden para preparar a cimeira da NATO, a decorrer na capital norte-americana entre 9 e 11 de julho. Uma reunião de elevado simbolismo, uma vez que celebrará os 75 anos da aliança militar. Joe Biden faz questão de marcar o fosso que o separa do seu adversário político, Donald Trump. Um homem que enquanto presidente fez mais elogios a Vladimir Putin do que à organização; e como candidato nas primárias republicanas afirmou, em fevereiro, que encorajaria a Rússia a fazer “o raio que queira” para com os aliados que não cumpram as metas de despesas militares. Desde então, o provável candidato democrata tem criticado o “antiamericanismo” e isolacionismo das propostas de Trump. Ao lado de Stoltenberg, Biden elogiou a NATO, e disse estar desejoso “por dar continuidade a todo este progresso no próximo mês”, e disse que a aliança tem conseguido “dissuadir a agressão russa na Europa” através da sua promessa de “defender cada centímetro do território da NATO”.

O secretário-geral da aliança militar quer deixar para o seu sucessor - com grande probabilidade o neerlandês Mark Rutte - a responsabilidade de coordenar a assistência militar à Ucrânia, um papel que tem vindo a ser desempenhado pelo secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin. Esta é uma forma de contornar a possibilidade de a NATO ter de voltar a lidar com Trump no poder. O norueguês também quer que na cimeira de Washington os 32 países se comprometam em fornecer pelo menos 40 mil milhões de euros por ano em ajuda militar à Ucrânia.

23 aliados em 32 (31 se excluirmos a Islândia, sem forças armadas) irão cumprir em 2024 a meta mínima de alocar 2% do Produto Interno Bruto em despesas de Defesa. Em 2014, quando o compromisso foi firmado, apenas três países da NATO estavam acima dessa fasquia, e dez no ano passado. (SIMON WOHLFAHRT / AFP)

Por outro lado, Stoltenberg aproveitou os microfones e as câmaras norte-americanas para expor a desonestidade da ala trumpista - cuja maioria na Câmara dos Representantes reteve milhares de milhões de ajuda a Kiev durante seis meses - ao dizer que mais de dois terços das aquisições militares dos europeus foram de material dos EUA, um valor superior a 140 mil milhões de dólares para a economia norte-americana. “Pode parecer um paradoxo, mas o caminho para a paz é com mais armas para a Ucrânia”, afirmou.

A visita de Stoltenberg ficou ainda marcada pela acusação a Pequim de “alimentar o maior conflito armado da Europa desde a Segunda Guerra Mundial e ao mesmo tempo querer manter boas relações com o Ocidente”. O secretário-geral disse que “a menos que a China mude de rumo, os aliados têm de impor um custo”. Em resposta, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês aconselhou a NATO “a parar de atirar culpas e de semear a discórdia, a não deitar lenha para a fogueira e a instigar o confronto, mas sim a fazer algo prático para a resolução política da crise”.

cesar.avo@dn.pt

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