Galegos mobilizam-se contra fábrica de celulose portuguesa
Foi em tom de festa que os galegos decidiram gritar um rotundo "Não" ao projeto de construção de uma fábrica de celulose da empresa portuguesa Altri em Palas de Rei, no município de Lugo. A mobilização foi tal que as pessoas que encheram a Praza do Obradoiro, no coração de Santiago de Compostela, tiveram de sair para dar lugar às outras que ainda calcorreavam o casco histórico da cidade.
Entre milhares de bandeiras da Galiza, "Eucaliptos não, biodiversidade sim", "Celulose da Altri, a morte da ria de Arousa e do rio Ulla", e a mais comum "Altri não" foram apenas algumas das mensagens que desfilaram contra o projeto.
"O que queremos é respirar" ou "Rueda recua, a água não é tua” (Alfonso Rueda é o presidente do governo regional) foram algumas das palavras de ordem.
Conhecido como uma "macrocelulose" pelos seus números impressionantes (363 hectares de implantação, capacidade de produção anual de 400 mil toneladas de pasta de papel e 200 mil toneladas de liocel, uma fibra têxtil, mas também captaria 46 milhões de litros de água por dia e a emissão de 62 toneladas de descargas químicas por dia).
O projeto, que necessitará de 250 milhões de euros de fundos europeus para ir avante, foi liminarmente recusado pelo Consello da Cultura Galega, órgão consultivo do governo regional, a Xunta, num documento redigido por 10 peritos. Estes alertam para o impacto ambiental e para os números não coincidentes entre os números prometidos de postos de trabalho (2 mil) e a sua estimativa (entre 161 e 281).
“A decisão de instalar uma fábrica de fibras têxteis à base de celulose em Palas de Rei não responde a um plano territorial ou a um plano industrial que tenha sido avaliado ambientalmente, mas foi adotada com uma declaração de projeto industrial estratégico pelo Conselho da Xunta da Galiza", conclui o documento de 181 páginas.
A líder do Bloco Nacionalista Galego qualificou a manifestação de "histórica", em declarações à comunicação social. "Rueda tem de deixar de ser o vendedor da Altri e ouvir os cidadãos que não querem esta fábrica de macrocelulose", um projeto que, diz Ana Pontón, "põe em risco 8 mil empregos e o trabalho de pessoas do campo e do mar".
Com a manifestação a decorrer, a Altri emitiu um comunicado a defender o projeto, "concebido com os mais elevados critérios de sustentabilidade, circularidade e respeito pelo ambiente, marcados pela regulamentação europeia”. A Altri lamenta que "uma parte da sociedade galega tenha uma perceção negativa" do que está em jogo e alegou que o projeto está "alinhado com o relatório Draghi, que está empenhado em impulsionar a produtividade da indústria e a competitividade das empresas europeias sob o prisma da sustentabilidade, das tecnologias limpas e da descarbonização”. A organização do protesto leu parte do comunicado na Praza do Obradoiro, e este foi recebido com assobios.
A plataforma Ulloa Viva, que junta meia centena de entidades, apresentou uma petição junto do Parlamento Europeu a solicitar que o projeto não receba fundo europeus uma vez que, afirmam, viola sete diretivas europeias.