G20 inclui “cessar fogo em Gaza” e “paz na Ucrânia” no texto final
A declaração final dos líderes do G20, reunidos no Rio de Janeiro, pediu um “cessar-fogo” na Faixa de Gaza e uma “paz justa” para o conflito na Ucrânia, além de estabelecer ações para as três prioridades do bloco nesta cimeira: inclusão social e combate à fome e à pobreza; desenvolvimento sustentável, transições energéticas e ação climática; e a reforma na governança global.
Segundo o documento, que tem 85 tópicos, todos os membros do G20 estão “unidos no apoio a um cessar-fogo abrangente em Gaza”, de acordo com uma resolução aprovada no Conselho de Segurança da ONU em junho deste ano. E sobre o conflito na Ucrânia, que se arrasta por mais de dois anos, o grupo disse estar disposto a acolher “com satisfação todas as iniciativas relevantes e construtivas que apoiem uma paz abrangente, justa e duradoura”.
Um dos pontos mais controversos, a taxação dos super-ricos, como forma de reduzir desigualdades, acabou contemplado nestes termos: “Com total respeito à soberania tributária, nós procuraremos envolver-nos cooperativamente para garantir que indivíduos de património líquido ultra-alto sejam efetivamente tributados”.
A Argentina, liderada pelo presidente ultraliberal Javier Milei, opôs-se inicialmente à Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, apresentada logo na abertura da cimeira pelo anfitrião Lula da Silva. Mas, no final, após ressalvas verbais do país sul-americano, a iniciativa contou com a adesão dos 147 membros fundadores, a União Africana, a União Europeia, 24 organizações internacionais, nove instituições financeiras internacionais, 31 organizações filantrópicas e não governamentais e todos os 82 países.
O cumprimento oficial entre Lula e Milei, o primeiro entre os dois chefes de Estado desde que foram eleitos, em 2022 e o em 2023, respetivamente, foi, aliás, notado por ter sido o mais frio de toda a cimeira.
O documento aponta também a determinação para “liderar ações ambiciosas, oportunas e estruturais nas nossas economias e no sistema financeiro para acelerar e ampliar a ação climática”. Lula, em comunicação na abertura do segundo dia, pediu mesmo que a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP) de Belém do Pará, no ano que vem, seja a “COP da virada”.
“A nossa bússola continua sendo os princípios das responsabilidades comuns, esse é o imperativo da responsabilidade climática. Aos membros desenvolvidos do G20, proponho que antecipem as suas metas de neutralidade climática de 2050 para 2040, mesmo que não caminhemos na mesma velocidade, todos podem dar um passo a mais, na luta pela sobrevivência, não há espaço para o negacionismo e a desinformação.”
Noutro trecho significativo da declaração final é abordada uma reforma no Conselho de Segurança da ONU. “Nós comprometemo-nos a reformar o Conselho de Segurança (...) que o alinhe às realidades e demandas do século XXI (...) nós reivindicamos uma composição ampliada que melhore a representação das regiões e grupos sub-representados e não representados, como a África, Ásia-Pacífico e América Latina e Caribe”. O Conselho de Segurança da ONU é composto por 15 membros, sendo 10 deles rotativos e cinco permanentes que possuem decisão de veto em discussões.
No final da cimeira, foi tirada a segunda “foto de família” dos líderes, depois de na primeira os presidentes dos EUA, Joe Biden, e do Canadá, Justin Trudeau, não terem comparecido por estarem em reunião bilateral e por Giorgia Meloni, primeira-ministra de Itália, se ter atrasado.
A “foto de família” esteve ausente nos últimos dois G20 por estar presente Vladimir Putin, presidente da Rússia, criticado pela maioria dos chefes de estado no contexto da invasão da Ucrânia. Ontem, porém, Sergei Lavrov, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, fez parte da foto, no que foi entendido por especialistas em relações internacionais ouvidos pela imprensa brasileira como uma vitória pessoal de Lula.
Entretanto, causou apreensão a ida de urgência do presidente paraguaio, Santiago Peña, ao hospital após dores no peito, na noite de segunda-feira, 18. Porém, Peña, 46 anos, teve alta do Hospital Samaritano, em Botafogo, ao longo do dia de ontem, 19.
O ato final da cimeira foi a passagem de testemunho do Brasil para a África do Sul, próxima organizadora da reunião do bloco.
Em São Paulo