Forças de segurança intensificam repressão contra protestos na Birmânia
Mais de mil manifestantes concentraram-se em frente ao edifício do Banco Económico em Mandalay e foram vigiados por militares e policiais que chegaram em 10 camiões.
As forças de segurança da Birmânia (atual Myanmar) intensificaram nas últimas horas a repressão contra os manifestantes anti-golpe militar, que continuam a exigir nas ruas de várias cidades birmanesas o restabelecimento do governo civil deposto no início de fevereiro.
Relacionados
Mais de mil manifestantes concentraram-se esta segunda-feira em frente ao edifício do Banco Económico da Birmânia em Mandalay, a segunda maior cidade do país, para contestar o golpe militar ocorrido em 1 de fevereiro.
Um repórter fotográfico, citado pela agência de notícias Associated Press (AP), relatou que pelo menos 10 camiões cheios de soldados e de agentes policiais chegaram ao local do protesto.
Subscreva as newsletters Diário de Notícias e receba as informações em primeira mão.
Antes mesmo de saírem dos camiões, os elementos das forças de segurança recorreram ao uso de fisgas para dispersar os manifestantes, segundo o testemunho do repórter fotográfico.
Posteriormente, os soldados e os agentes policiais investiram contra os manifestantes, recorrendo a bastões e a fisgas.
Alguns elementos das forças policiais transportavam aparentemente armas de ar comprimido, que estavam apontadas para o ar, noticiou a AP, relatando ainda que no local foram ouvidos sons que se assemelhavam a tiros.
Os media locais avançaram, por sua vez, que balas de borracha foram disparadas contra os manifestantes e que várias pessoas ficaram feridas.
Também existem relatos que denunciam que a polícia terá apontado as armas contra os manifestantes.
Na capital do país, Naypyidaw, manifestantes concentraram-se também em frente a uma esquadra da polícia para exigir a libertação de vários estudantes do ensino secundário que foram detidos quando participavam numa ação anti-golpe militar.
Em declarações à comunicação social, um estudante que conseguiu escapar contou que o grupo de jovens, com idades compreendidas entre os 13 e os 16 anos, estava a manifestar-se de forma pacífica quando a polícia antimotim chegou ao local e começou a deter todas as pessoas.
Até ao momento, o número de estudantes detidos ainda não é preciso, mas algumas informações apontam que poderão ser entre 20 e 40 jovens.
Estes relatos surgem no dia em que os líderes militares da Birmânia prolongaram a detenção da chefe do governo civil birmanês deposta Aung San Suu Kyi, cuja prisão preventiva expirava esta segunda-feira.
Suu Kyi, que se encontra em prisão domiciliária, ficará detida até 17 de fevereiro (quarta-feira), segundo o advogado que a representa, Khin Maung Zaw.
O representante legal da Nobel da Paz (1991) referiu ainda que a líder deposta deverá comparecer nesse mesmo dia (quarta-feira) diante de um tribunal, através de videoconferência.
Em 01 de fevereiro, o exército prendeu a chefe do governo civil birmanês, Aung San Suu Kyi, o Presidente Win Myint e vários ministros e dirigentes do partido governamental, proclamando o estado de emergência e colocando no poder um grupo de generais.
O golpe militar pôs fim a uma frágil transição democrática de 10 anos.
UE, Estados Unidos, ONU, Japão, França e Reino Unido foram algumas das vozes internacionais que criticaram de imediato o golpe de Estado promovido pelos militares na Birmânia.
Nos dias seguintes ao golpe militar, sucessivos protestos contra o golpe de Estado ocorreram em várias cidades da Birmânia e a tensão nas ruas tem-se mantido, apesar da Junta Militar birmanesa ter decretado a lei marcial.
O medo de represálias é grande, uma vez que na Birmânia os últimos levantamentos populares de 1988 e 2007 foram reprimidos com violência pelos militares.
Apesar disso, a mobilização contra o golpe militar não diminuiu, com funcionários como médicos, professores e trabalhadores ferroviários em greve.
Para dispersar os manifestantes, e segundo os relatos disponíveis, as forças de segurança têm recorrido a canhões de água, balas de borracha e gás lacrimogéneo.
Também existem denúncias do uso de munições reais.
Desde o início do mês, foram detidas cerca de 400 pessoas, entre responsáveis políticos, ativistas e membros da sociedade civil, incluindo jornalistas, médicos e estudantes.
Na sexta-feira, o Conselho de Direitos Humanos da ONU adotou uma resolução na qual condenou o golpe militar e exigiu "a libertação imediata e incondicional de todas as pessoas detidas arbitrariamente" e "o restabelecimento do Governo eleito".