A Força Aérea ucraniana perdeu mais de 80 aviões e 45 helicópteros desde o início da invasão.
A Força Aérea ucraniana perdeu mais de 80 aviões e 45 helicópteros desde o início da invasão.SERGEI SUPINSKY/AFP

F-16 ucranianos são poucos e antiquados, mas preciosos

Um ano depois de os Estados Unidos terem aprovado a sua transferência, os primeiros caças entraram por fim ao serviço de Kiev.
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No dia da Força Aérea da Ucrânia, Volodymyr Zelensky presidiu a uma cerimónia em que os aviões de caça F-16 foram apresentados. “Ouvimos muitas vezes a palavra ‘impossível’. Agora é uma realidade, a realidade nos nossos céus. F-16 na Ucrânia. Tornámo-lo realidade”, disse numa pista cuja localização foi mantida em segredo por razões de segurança. A aeronave de fabrico norte-americano chegou por fim, e ainda que numa versão e numa quantidade incapazes de virar o curso da guerra, poderá ser decisiva para aguentar as linhas e melhorar a defesa aérea.

Pedido pela primeira vez desde o início da invasão por Kiev -- tal como a imposição de uma no-fly zone, esta rejeitada pelo Ocidente --, só há 11 meses e meio, quando a contraofensiva ucraniana falhava, é que os Estados Unidos deram o aval à doação de aviões de países terceiros, no caso Dinamarca e Países Baixos. Nessa altura já tinha sido criada uma coligação para formação de pilotos e técnicos, bem como para fornecimento das aeronaves. Em várias ocasiões o presidente ucraniano disse que o número mínimo de aviões para defender os céus em paridade oscilaria entre 120 e 160, porém, além de Copenhaga e Haia apenas Bruxelas e Oslo se juntaram na oferta de aviões, e numa quantidade aquém do solicitado (79). Segundo um relatório do grupo de análise CSIS, a Ucrânia necessitaria de uma dúzia de esquadrões, cada um com 18 F-16, para atingir a superioridade aérea e poder dar apoio a uma ofensiva terrestre. 

O número de F-16 ao serviço da Ucrânia não foi revelado, embora haja informações em diferentes meios que apontam ora para seis ora para 10. É esperado que até ao final do ano estejam 20 a operar com o tridente azul pintado na cauda.

Além da quantidade ser escassa, as forças ucranianas estão obrigadas a um jogo do gato e do rato com Moscovo, guardando os aviões em bases diferentes e com abrigos - ou inclusive num país vizinho - para que os F-16 não tenham o mesmo fim que uns SU-27, destruídos por um míssil russo num aeródromo no início de julho. Dmitri Peskov, o porta-voz do Kremlin, augurou que os aviões norte-americanos serão “abatidos” e, de qualquer dos modos, “não terão um impacto significativo no curso dos acontecimentos na frente”.

Uma fonte militar ucraniana, em declarações ao Le Figaro, também não tem ilusões. “Os F-16 não vão mudar o curso da guerra, tal como os [tanques] Leopards, os [lançadores múltiplos de foguetes] Himars ou os [mísseis] Scalps.” Lamenta sobretudo que a versão do avião seja antiga, o que o faz “pouco melhor do que o Mig-29”, avião soviético ao dispor dos aviadores ucranianos. Ainda assim, como aponta o relatório do CSIS, a eficácia dos jatos irá depender dos pilotos e das armas ao seu dispor.

Segundo os media, os EUA estão a fornecer mísseis ar-ar (AIM-120 e AIM-9X) com o objetivo de afastar os russos SU-34 (que têm bombardeado diariamente a Ucrânia sem sair do seu espaço aéreo para atingir as linha da frente com as chamadas bombas planadoras) e de abater os mísseis de cruzeiro e drones, funcionando como complemento das defesas aéreas no solo. Uma ajuda de grande importância para funcionar em equipa com os F-16 são os dois aviões de vigilância e reconhecimento ASC 890 que a Suécia ofereceu, e cujo radar permite detetar objetos até 400 quilómetros de distância. 

cesar.avo@dn.pt

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