A Alemanha é um país central nos esforços do regime russo para influenciar a opinião pública para acabar com a ajuda à Ucrânia, conclui-se de uma fuga de informação sobre as operações internas da Social Design Agency (SDA), uma empresa de Tecnologias de Informação com sede em Moscovo e que, segundo os Estados Unidos, liderou uma campanha de desinformação e propaganda a mando do Kremlin. Os documentos foram obtidos por um consórcio de meios de comunicação, entre os quais os canais de televisão alemães WDR e NDR, o jornal Süddeutsche Zeitung, o portal noticioso báltico Delfi e, mais tarde, partilhados para análise com outros meios, como a Schemes, unidade de investigação do serviço ucraniano da Radio Free Europe, ou o jornal belga De Standaard. A SDA é uma “fábrica de trolls” herdeira da Internet Research Agency, de Yevgeny Prigozhin, responsável por campanhas de desinformação durante a campanha do Brexit e das eleições presidenciais dos EUA em 2016. É dirigida por Ilya Gambashidze, um homem alvo de sanções dos Estados Unidos, e cujo vídeo interno da empresa foi agora revelado. Nele, Gambashidze, com um fato militar e a inscrição em russo “Forças Ideológicas Russas” explica o que faz a sua empresa: “Recolher e analisar informações dos meios de comunicação ocidentais, desenvolver as nossas próprias narrativas e transformá-las em conteúdos.” Narrativas espalhadas nas redes sociais e que passam por desacreditar a Ucrânia e os líderes dos países ocidentais que a apoiam. Segundo os documentos obtidos, um dos objetivos era o de influenciar as Eleições Europeias de 2024 de forma a que a extrema-direita pró-russa ganhasse -- como aconteceu -- mais lugares e influência no Parlamento Europeu. A campanha visava em especial a Alemanha, França, Polónia, Espanha, França e Itália, apoiando em especial a Alternativa para a Alemanha (AfD) e Reunião Nacional francesa. Para a Alemanha, a SDA tinha como objetivo “aumentar a fatia de votos da AfD para 20%” -- o que se verifica nas sondagens. Os políticos no poder foram alvo de memes, vídeos, notícias falsas, caricaturas e comentários de bots, nos quais eram acusados de fomentar o medo injustificado de um possível ataque à UE, e, por outro lado, de totalitarismo e de militarização; a política económica (inflação, por exemplo) e a igualdade de género e a defesa dos direitos das minorias sexuais eram por sua vez alvo de críticas. A SDA produziu entre janeiro e abril deste ano quase 40 mil conteúdos e 34 milhões de comentários, segundo estatísticas da própria empresa. Alguns destes conteúdos que espalhavam falsidades sobre a Ucrânia foram republicados pelo dono do X, Elon Musk, e pela republicana extremista Marjorie Taylor Greene. No início do mês, o Departamento de Justiça dos EUA acusou a SDA de tentar influenciar as Eleições Presidenciais de novembro, tendo bloqueado dezenas de sites suspeitos de estarem ligados a uma campanha de desinformação russa denominada Doppelgänger (sósia). A campanha apropria-se do grafismo de meios de comunicação como o Bild, Süddeutsche Zeitung ou Der Spiegel, reproduzidos em canais Telegram, com conteúdos pró-russos. cesar.avo@dn.pt