Kiev e Washington foram os centros nevrálgicos de uma demonstração de unidade europeia sobre a questão ucraniana no dia do terceiro aniversário da invasão russa. Mas também em Nova Iorque e Bruxelas a diplomacia europeia manobrou para tentar contrariar de alguma forma o alinhamento da administração Trump com uma paz decidida com Moscovo. Perante dez chefes de governo ou de Estado da Europa e do Canadá, dos presidentes do Conselho e da Comissão Europeia, do ministro francês dos Assuntos Europeus e do secretário-geral da OSCE, presentes na cimeira Apoiar a Ucrânia, o presidente ucraniano apresentou cinco passos para se chegar à paz: Ucrânia e Europa à mesa das negociações; restaurar confiança com troca de prisioneiros total; adesão da Ucrânia à NATO ou “construir uma NATO na Ucrânia”; garantias de segurança concedidas por alguns países; e, por fim, unidade. Além dos dirigentes que se deslocaram à capital ucraniana, outros se juntaram por videoconferência, casos da italiana Meloni, do japonês Ishiba ou do britânico Starmer. .Na capital da Bélgica, os ministros dos Negócios Estrangeiros da UE “apoiaram amplamente” a realização de um Conselho Europeu dedicado à discussão e aprovação de um novo pacote militar para a Ucrânia, disse a alta representante Kaja Kallas. “Os pormenores, em particular os montantes, serão decididos e discutidos na cimeira europeia extraordinária de 6 de março”, disse a chefe da diplomacia europeia. Em paralelo, uma dúzia de ministros da defesa europeus, o seu homólogo ucraniano e representantes da NATO reuniram-se por videoconferência. .“Putin não nos dará a paz, nem a concederá em troca de nada. Temos de conquistar a paz através da força, da sabedoria e da unidade. A paz não pode ser simplesmente declarada numa hora, ou num dia. Infelizmente, é essa a realidade.”Volodymyr Zelensky.Com a Torre Eiffel iluminada com as cores da bandeira ucraniana, o presidente francês encontrou-se em Washington com o homólogo norte-americano. A mensagem a levar era simples: “Construir uma paz sólida e durável.” Um objetivo incompatível com uma solução discutida a dois (EUA e Rússia) e apresentada mais tarde à Ucrânia e seus parceiros. Daí que Emmanuel Macron não tenha apenas trocado gracejos e apertos de mão vigorosos com Donald Trump, mas também tenha ido dizer que a Ucrânia tem de estar envolvida nas conversações para pôr termo à guerra. .“Este é um momento crucial para a Europa. A Europa está pronta para intervir, para ser um continente mais forte. Os europeus estão dispostos a ir até ao envio de tropas para verificar se a paz está a ser respeitada.”Emmanuel Macron.Também levou uma mensagem de que a Europa está a tomar medidas para se fortalecer e está pronta a ajudar no processo de paz, inclusive com o envio de militares para a Ucrânia. Por outro lado, afirmou igualmente esperar um “forte envolvimento” dos EUA para garantir a paz na Ucrânia. “Nós queremos a paz. Mas esta paz não pode significar a capitulação da Ucrânia”, considerou o presidente francês. “Ninguém quer viver num mundo onde a lei do mais forte possa prevalecer”, prosseguiu. Por sua vez, Trump realçou que é chegado a altura para se alcançar a paz. “Este é o momento certo para pôr fim à situação que infelizmente pode evoluir para uma terceira guerra mundial.”EUA sofrem derrota na ONU .Os Estados Unidos sofreram uma derrota diplomática em toda a linha ao verem a sua proposta de resolução sobre a guerra na Ucrânia ser submetida a várias emendas, ao ponto de se absterem no momento da votação da mesma na Assembleia Geral das Nações Unidas. As emendas europeias acrescentaram referências à invasão da Ucrânia pela Rússia, fizeram referência à “guerra” em vez de “conflito” e reafirmaram o apoio da ONU à soberania, independência, unidade e integridade territorial da Ucrânia. Foi aprovada com 93 votos a favor, o mesmo número que a resolução copatrocinada pela Ucrânia e pela generalidade dos países europeus. Os EUA votaram contra, ao lado de países como a Rússia, Coreia do Norte ou Bielorrússia. “Esta guerra nunca teve a ver apenas com a Ucrânia. Trata-se do direito fundamental de qualquer país a existir, a escolher o seu caminho e a viver livre de agressões”, afirmou a vice-ministra dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Mariana Betsa, antes da votação. .Rússia vota a favor de resolução dos EUA no Conselho de Segurança da ONU que pede o fim da guerra na Ucrânia