Europa discute apoio e Zelensky alerta para “ofensiva na primavera”
Na quarta-feira à noite a torre Eiffel iluminou-se com as cores da bandeira ucraniana, antes de o seu líder ser entrevistado em direto na TV pública francesa e depois de se ter reunido com o presidente Macron. Sinais de uma ofensiva diplomática na véspera da reunião com altos dignitários de 31 países - a “coligação de voluntários” a que o britânico Starmer aludiu - para se discutir em que termos e com que meios a Europa e o Canadá podem contribuir para reforçar a posição ucraniana, para lá da hipótese da constituição de uma força de dissuasão numa Ucrânia pós-guerra. Entretanto, a ameaça continua. Segundo Volodymyr Zelensky, em entrevista ao Le Figaro, a Rússia está a preparar uma nova “ofensiva na primavera”.
Emmanuel Macron, que é neste momento mais popular na Ucrânia do que Zelensky (77% e 75% de avaliações positivas, respetivamente), desafiou a Rússia a aceitar a trégua sem condições. Nesta quinta-feira é o anfitrião da reunião em Paris e um dos dois protagonistas, com Keir Starmer, do toque a rebate com a chegada da administração Trump. O Eliseu disse que “o reforço do apoio militar e financeiro à Ucrânia” é a prioridade do encontro. Junto de Zelensky, o francês anunciou avanços na partilha de informações e de imagens de satélite com Kiev e 2 mil milhões de euros em armamento, como mísseis para os caças Mirage, mísseis antitanque e ainda mísseis de defesa aérea.
Questionado sobre a hipotética força europeia na Ucrânia, o chefe do Estado francês disse que, caso fosse atacada, iria responder em conformidade. À AFP, o conselheiro Ihor Zhovkva diz que a Ucrânia “não precisa de missões de manutenção de paz”, mas de soldados europeus em “prontidão para o combate”. À Reuters, fontes diplomáticas levantaram dúvidas de que da cimeira saia algum acordo sobre este tema e que, inclusive, não será o mais importante em cima da mesa. “Estão a dar um passo atrás em relação às tropas terrestres e a tentar redimensionar o que estavam a fazer para algo que possa ser mais sensato”, disse um diplomata europeu.
Zelensky, por seu turno, adverte para “Putin estar a tentar ganhar tempo” e preparar uma “operação futura” nas regiões de Sumy e Kharkiv, e defende mais sanções à Rússia, e não o seu levantamento, como é pretensão de Moscovo.
Trégua ou não trégua
Os comunicados da Casa Branca sobre o acordo de cessar-fogo de 30 dias e as posteriores respostas de Moscovo e Kiev não clarificaram sequer se este está a ser observado, com que amplitude, nem qual a sua data de início. Para a Rússia, a pausa nos ataques às infraestruturas de energia começou no dia 18, depois da conversa telefónica entre Vladimir Putin e Donald Trump. Para a Ucrânia, a data a partir da qual se conta foi quando os dois países acordaram uma lista de pontos a não atingir nas negociações na Arábia Saudita, ou seja, no dia 24. “Certamente que não desde o dia 18, isso é um disparate, uma jogada clássica dos russos, que afirmam algo para si próprios para depois poderem argumentar ‘Olha, eles estão a atacar desde 18 de março’”, comentou o conselheiro da presidência ucraniana Mykhailo Podolyak. De facto, Moscovo acusa a Ucrânia de ter desrespeitado o cessar-fogo ao ter atacado um depósito de combustível na região de Krasnodar. Além disso, a lista publicada pelo lado russo não inclui as instalações ucranianas de produção de gás e petróleo, aponta o Ministério da Energia ucraniano, quando Kiev concordou em não atacar infraestruturas congéneres.
Ao que se junta a rejeição do cessar-fogo incondicional no Mar Negro, com o regime de Putin a exigir o levantamento de sanções. A Ucrânia rejeita o levantamento das sanções e diz que a trégua está em vigor. Ainda que tendo acrescentado uma adenda ao documento norte-americano: se os navios de guerra russos voltarem à região ocidental do Mar Negro, as forças ucranianas estão no direito de atacá-los. Por fim, e não menos importante, ficou por especificar como e quem irá supervisionar o cumprimento da pausa.
À margem
Soldados condenados
Doze soldados ucranianos da brigada Azov, capturados pelo exército russo, foram considerados culpados de “participação em atividades de organização terrorista” por um tribunal militar de Rostov do Don. Outros 11 civis, nove deles mulheres, entretanto libertados em troca de prisioneiros, foram também condenados à revelia. As penas de prisão variam entre 13 e 23 anos.
Soldados mortos
Morreram os quatro militares norte-americanos dados como desaparecidos na terça-feira durante “um treino tático programado” num exercício na Lituânia, a menos de dez quilómetros da Bielorrússia.
Lavrov e os Nord Stream
Em entrevista, o chefe da diplomacia russa confirmou que o seu país e os EUA estão a discutir o regresso à atividade dos gasodutos Nord Stream, e aproveitou para provocar: “Será interessante se os americanos usarem a sua influência na Europa e a obrigarem a não recusar o gás russo.” Sergei Lavrov considerou ainda que as pessoas “como Ursula von der Leyen” que recusam o regresso dos gasodutos entre a Rússia e a Alemanha são “doentes ou suicidas”.
Danos em Zaporíjia
Um tanque de gasóleo com capacidade para alimentar os geradores de emergência da central nuclear de Zaporíjia durante 25 dias foi danificado, acusou Kiev. “Os russos não só usurparam a central, como são incapazes de gerir a sua segurança básica”, disse o porta-voz do MNE ucraniano.
Russos sem voto
O Parlamento da Estónia aprovou legislação que impede aos residentes sem cidadania europeia de votar nas eleições locais. A medida foi invocada para impedir a ingerência estrangeira e visa em específico 80 mil russos e 60 mil apátridas num universo de 1,3 milhões de habitantes.