Dois dos principais conselheiros de Política Externa do presidente norte-americano, Mike Waltz e Steve Witkoff, viajaram este domingo à noite para a Arábia Saudita, que será palco de negociações diretas entre os EUA e a Rússia sobre a Ucrânia. Um encontro para o qual nem os ucranianos, nem os europeus foram convidados, com estes últimos a tentarem reagir ao golpe e à crescente hostilidade (pelo menos no discurso) dos EUA com uma “reunião de trabalho” dos principais países europeus (Portugal não foi convidado) em Paris.Além do conselheiro de Segurança Nacional de Donald Trump e do enviado da Casa Branca para o Médio Oriente, o encontro em Riade (a data concreta não é conhecida) contará com a presença do secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio - que já está na região. Do lado russo, não é claro quem poderá estar presente. “Nada está ainda finalizado. O processo para a paz não é assunto de uma só reunião”, disse Rubio à CBS.Segundo o líder emérito da Comissão de Negócios Estrangeiros da Câmara dos Representantes dos EUA, Michael McCaul, a reunião visa “preparar o terreno” para uma cimeira entre Trump e o presidente russo, Vladimir Putin - que falaram ao telefone na quarta-feira. “Seria uma conquista monumental se fosse bem-feita”, disse McCaul ao site Politico. Na campanha, Trump prometeu acabar com a guerra da Ucrânia no “primeiro dia”, mas ainda antes de tomar posse assumiu a dificuldade da tarefa e apontou para um prazo de meses. Mas, às portas do terceiro aniversário da invasão russa, parece não estar a querer perder tempo, fazendo soar os alarmes sobre as concessões que parece disposto a fazer a Moscovo - nomeadamente na cedência de território e no fecho das portas da NATO à Ucrânia.As negociações diretas entre EUA e a Rússia deixam Kiev de fora, com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a dizer que não recebeu qualquer convite e a avisar também que “nunca aceitará” decisões tomadas por Washington e Moscovo. Ao mesmo tempo, defendeu a participação dos europeus num eventual diálogo e mostrou-se convicto da necessidade de criar as “Forças Armadas da Europa”, avisando que “o tempo em que a América apoiava a Europa só porque sempre o tinha feito acabou”.Numa entrevista à Fox News, Witkoff rejeitou contudo a ideia de que Kiev está fora das negociações, lembrando que oficiais ucranianos se encontraram com responsáveis norte-americanos de alto nível à margem da Conferência de Segurança de Munique. “Não creio que se trate de excluir ninguém”, disse Witkoff. “Na verdade, trata-se de incluir todos.” Europeus Além de estarem fora da mesa de negociações, os europeus estão a sofrer golpe atrás de golpe dos EUA. Primeiro foi o secretário da Defesa, Pete Hegseth, que avisou em Bruxelas que os restantes países da NATO têm de começar a fazer mais, porque Washington não irá continuar a “tolerar uma relação desequilibrada”. Depois foi o vice-presidente J. D. Vance, que pôs em causa a ideia de “valores partilhados” entre os dois lados.“A ameaça que mais me preocupa em relação à Europa não é a Rússia, não é a China, nem qualquer outro ator externo”, disse na Conferência de Segurança de Munique, na sexta-feira. “O que me preocupa é a ameaça interna”, indicou, falando no “recuo da Europa em relação a alguns dos seus valores mais fundamentais” que partilha com os EUA.Vance condenou, por exemplo, a rejeição do diálogo com a extrema-direita da Alternativa para a Alemanha por parte de outros partidos. “Temo que a liberdade de expressão esteja em declínio”, disse Vance, num discurso criticado pelos aliados.Entre as declarações de Heg- seth e Vance, Trump assinou as novas tarifas - que vão afetar os europeus e põem ainda mais em causa a relação. Para tentar reagir à sucessão de golpes vindos dos EUA, discutir a “situação na Ucrânia” e a “segurança na Europa”, o presidente francês, Emmanuel Macron, convidou um grupo de líderes para uma reunião “restrita” esta segunda-feira: os chefes do Governo da Alemanha, Reino Unido, Itália, Polónia, Espanha, Países Baixos e Dinamarca. Estarão ainda a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o líder do Conselho Europeu, António Costa, e o secretário-geral da NATO, Mark Rutte.“Acreditamos que, como resultado da aceleração da questão ucraniana, e também do que os líderes americanos estão a dizer, há uma necessidade de os europeus fazerem mais, melhor e de forma coerente pela nossa segurança coletiva”, disse um conselheiro de Macron ao jornal Le Monde. “O objetivo é determinar o que os europeus podem fazer por si próprios.” Segundo o Eliseu, o grupo é restrito por questões “práticas”. Mas pode ser também para “conter” a mensagem. Há um ano, uma reunião a 27 acabou em polémica, depois de o líder esloveno Roberto Fico (pró-russo) revelar que havia países a quererem enviar soldados para a Ucrânia.O primeiro-ministro português, Luís Montenegro, que não foi convidado, deixou uma mensagem no X: “Os recentes desenvolvimentos em torno da guerra da Ucrânia exigem o reforço da coordenação na UE e na NATO. Estamos em permanente contacto com os nossos parceiros europeus e transatlânticos. Estamos disponíveis para contribuir para uma solução de paz justa, inclusiva e duradoura, que acautele garantias de segurança efetivas para a Ucrânia. Quanto mais unida e coordenada estiver a UE, mais decisiva será a sua ação. Juntos somos mais fortes.”