Estados Unidos vivem casos de reinternamentos sucessivos

Chris Long, 54 anos, já esteve internado sete vezes, algumas das quais em cuidados intensivos. Becca Meyer, de 31 anos, foi hospitalizada em março, abril, agosto e setembro.
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Nos Estados Unidos há um número significativo de pessoas que são sucessivamente internadas em hospitais devido a sintomas da covid-19, sobrecarregando ainda mais um sistema de saúde bastante assoberbado, revela uma reportagem do The New York Times.

Chris Long, 54 anos, era um homem saudável que costumava fazer dezenas de quilómetros de bicicleta várias vezes por semana, mas desde que foi infetado pelo coronavírus em março que entrou num ciclo que já o levou sete vezes ao hospital.

Com oscilações de temperatura corporal, dificuldade em respirar e frequência cardíaca, tem alternado entre o repouso em casa e um hospital perto da sua residência em Clarkston, no estado de Michigan, tendo chegado a estar nos cuidados intensivos. "Isto nunca mais vai embora", desabafou.

A sobrecarga levou a que os hospitais começassem a estudar readmissões. "É uma questão urgente de saúde pública e médica", disse Girish Nadkarni, professor assistente de medicina no Hospital Mount Sinai, em Nova Iorque.

Os dados sobre reinternamentos de doentes infetados com covid-19 são incompletos, mas os primeiros números sugerem que nos Estados Unidos várias dezenas ou até centenas de milhares de pessoas já tenham voltado ao hospital.

Um estudo realizado pelo Centro de Controlo e Prevenção de Doenças com 106 543 pacientes com coronavírus internados inicialmente entre março e julho descobriu que um em cada 11 foi readmitido dois meses após a alta, com 1,6 por cento dos pacientes a serem readmitidos mais de uma vez.

Um outro estudo com 1775 doentes com coronavírus que receberam alta de 132 hospitais nos primeiros meses da pandemia revelou que quase um quinto dos doentes foram reinternados no espaço de 60 dias. Mais de 22% deles precisaram de cuidados intensivos e 7% de ventiladores.

E um relatório sobre 1250 pacientes que receberam alta de 38 hospitais de Michigan de meados de março a julho indica que 15% foram reinternados em 60 dias.

Os reinternamentos não se esgotam apenas a pessoas que estiveram gravemente doentes da primeira vez em que estiveram no hospital, mas também os que tiveram sintomas ligeiros.

Ainda assim, muitos dos que foram reinternados eram pessoas vulneráveis com sintomas graves porque tinham mais de 65 ou doenças crónicas, embora algumas pessoas jovens e que eram saudáveis também tenham voltado aos hospitais.

Becca Meyer, de 31 anos, foi infetada no início de março e inicialmente até ficou em casa, com sintomas como dificuldade em respirar, dor no peito, febre, fadiga extrema e alucinações, mas acabou por ser hospitalizada durante uma semana em março. Porém, voltou a ser internada em abril, em agosto e em setembro. Neste último internamento, teve de ser alimentada através de um tubo.

"Tem sido uma montanha-russa desde março e agora estou a passar por uma fase má, onde volto a ficar na cama o tempo todo e não conseguir comer muito. Estou tossir muito mais e ter mais dores no peito", contou.

Tanto Long como Meyer acabaram por contrair uma infeção bacteriana durante os reinternamentos.

Algumas investigações sugerem que pacientes com internamentos mais curtos e que não estavam doentes o suficiente para receber cuidados intensivos tinham maior probabilidade de voltar aos hospitais no espaço de duas semanas. Entre os sintomas dos reinternados estão problemas respiratórios, cardíacos e gastrointestinais, mas também sintomas neurológicos.

"Às vezes, há muita pressão para tirar os pacientes do hospital e eles próprios querem sair do hospital quando não estão prontos para ter alta", afirmou Laurie Jacobs, presidente de medicina interna do Hackensack University Medical Center, que justificou os reinternamentos.

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