Espiões da Rússia na Europa: detenções em quatro países só neste ano

Funcionário da embaixada britânico em Berlim preso. Espionagem ao nível da Guerra Fria.
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Um cidadão britânico, funcionário da embaixada do Reino Unido em Berlim, foi ontem detido por suspeita de ter vendido documentos aos serviços secretos russos. Não é o primeiro caso na Alemanha, onde em fevereiro um homem foi acusado de passar dados sobre o edifício do Bundestag (o parlamento) à Rússia e em junho um cientista russo a trabalhar numa universidade também foi preso por espionagem. Nessa altura, numa entrevista conjunta ao Die Welt, os chefes dos serviços de informação alemães Thomas Haldenwang e Bruno Kahl, disseram que a atividade de espionagem russa no país tinha atingido os níveis da Guerra Fria. Mas o problema não é só da Alemanha: só este ano houve detenções relacionadas com alegados atos de espionagem a favor de Moscovo noutros três países europeus.

Em março, as autoridades búlgaras anunciaram a detenção de seis pessoas, incluindo oficiais de alto escalão no Ministério da Defesa e dentro da inteligência militar. Uma verdadeira rede de espionagem liderada por um oficial que tinha sido treinado por Moscovo e que incluía pessoas que tinham acesso a informação secreta sobre a Bulgária, a União Europeia e a NATO. A mulher desse oficial, que tinha dupla nacionalidade búlgara e russa, servia de intermediária com o contacto na embaixada da Rússia, segundo a acusação. Moscovo negou.

Também em março, um oficial da Marinha italiana foi acusado de passar documentos secretos a um adido militar da embaixada russa, sendo ambos apanhados em flagrante durante um encontro clandestino. Walter Biot entregou uma drive USB (com fotos de documentos classificados, incluindo da NATO) em troca de 5 mil euros, com a mulher a dizer aos media italianos que ele deu o mínimo que podia aos russos, mas que enfrentava graves problemas financeiros, com quatro filhos e uma dívida superior a 250 mil euros.

Já em maio, um polaco foi detido pelas suas ações de espionagem. "Instruído por indivíduos que trabalham para os serviços de informação russos, tentava aproximar-se de políticos polacos e estrangeiros, incluindo os que trabalham no Parlamento Europeu", disseram então as autoridades polacas. Segundo as mesmas fontes, as atividades do suspeito, identificado apenas como Janusz N., estavam em linha com os esforços de desinformação russos e tinham como objetivo "enfraquecer a posição da Polónia dentro da União Europeia e na arena internacional".

O mais recente caso envolve um cidadão britânico na Alemanha. David S., como foi identificado, era até à sua detenção funcionário da embaixada em Berlim - mas não tinha imunidade diplomática. "Em pelo menos uma ocasião enviou documentos obtidos ao abrigo das suas atividades profissionais a um representante dos serviços de informação russos", segundo as autoridades alemãs, que investigaram o caso junto com os britânicos. Não é claro o valor que recebeu em troca da informação, sendo que a colaboração terá começado pelo menos em novembro de 2020. O chefe da diplomacia alemã, Heiko Maas, disse que Berlim estava a levar o caso "extremamente a sério" por ser "absolutamente inaceitável".

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