"Escandaloso e execrável". MNE espanhol reage a vídeo de homólogo israelita a criticar Espanha
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"Escandaloso e execrável". MNE espanhol reage a vídeo de homólogo israelita a criticar Espanha

O vídeo mistura imagens do atentado de 7 de outubro com imagens de duas pessoas a dançar flamenco. Foi a resposta ao reconhecimento do Estado palestiniano por Espanha.
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O ministro dos Negócios Estrangeiros de Espanha classificou hoje como "escandaloso e execrável" uma montagem em vídeo divulgado pelo homólogo israelita com imagens do atentado de 07 de outubro misturadas com duas pessoas a dançar flamenco.

"Eu vi o vídeo, ainda antes de viajar para Bruxelas [...], é escandaloso e execrável. Todo o planeta sabe, incluindo o meu colega israelita que nós condenámos o Hamas e as suas ações", disse José Manuel Albares, em conferência de imprensa conjunta com o primeiro-ministro da Autoridade Palestiniana, Mohammad Mustafa, em Bruxelas (Bélgica).

O vídeo divulgado por Israel Katz na rede social X (antigo Twitter) começa com duas pessoas a dançar flamenco, seguindo-se imagens alegadamente captadas por milicianos do movimento islamita Hamas durante o atentado de 07 de outubro de 2023.

O vídeo é acompanhado por uma mensagem no centro, onde é possível ler "Hamas: Gracias España", aludindo à ideia de que o reconhecimento do Estado da Palestina por parte de Espanha beneficiaria o movimento considerado terrorismo.

José Manuel Albares reiterou que o reconhecimento do Estado da Palestina é legítimo, da mesma maneira que "o povo israelita tem direito a um Estado", e que está em linha não só com a solução dos dois Estados, como também com as resoluções das Nações Unidas para esse fim.

O ministro espanhol dos Negócios Estrangeiros disse que o Governo ainda ia avaliar as alegações feitas pelo homólogo israelita, sem especificar se haverá ações diplomáticas de resposta, mas rematou que "assim que puder", vai ver assistir a um espetáculo de flamenco, alegando que é um tipo de arte que agrega e celebra a união.

Autoridade Palestiniana pede que outros países acompanhem "decisão certa" de Espanha

Nesta mesma conferência de imprensa, o primeiro-ministro da Autoridade Palestiniana, Mohammad Mustafa, defendeuque o reconhecimento do Estado da Palestina é a "decisão certa" e a única maneira de assegurar que a solução dos dois Estados é viável.

"Há países que estão hesitantes, não é por não quererem que a Palestina seja um Estado, mas por acharem que vai ser o fim do processo de paz. O reconhecimento é a decisão certa, faz parte do processo de paz", disse Mohammad Mustafa.

Dirigindo-se a países da União Europeia (UE) e não só, como Portugal, que ainda não reconhecerem o Estado da Palestina, o primeiro-ministro da Autoridade Palestiniana disse que o processo de paz "é uma razão para apoiar o reconhecimento", em vez de cair em hesitações.

Mohammad Mustafa recordou que o Estado da Palestina é "uma promessa de paz pela qual a população palestiniana aguarda há 30 anos".

"É a coisa certa a fazer para que a solução dos dois Estados continue viável", sustentou.

O primeiro-ministro da Autoridade Palestiniana considerou que o reconhecimento do Estado da Palestina por Espanha, na próxima terça-feira, vai ser um "dia especial para a Palestina, para a justiça e para a Humanidade".

"Acolhemos a decisão corajosa de Espanha, que, mais uma vez, demonstrou o seu compromisso inequívoco com a solução dos dois Estados", disse Mohammad Mustafa, acrescentando que "demonstra a importância de reconhecer o direito dos palestinianos à autodeterminação".

E reforçou a ideia inicial: "É a única maneira de alcançar uma paz justa e compreensiva na região. O reconhecimento por parte de Espanha está em linha com o direito internacional e todas as resoluções das Nações Unidas".

"O Governo palestiniano, mais uma vez, apela a todos os Estados que ainda não reconhecerem o Estado da Palestina para o fazerem assim que possível", completou.

A Autoridade Palestiniana foi estabelecida em 1994 como o órgão de governação da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, na sequência dos Acordos de Oslo, que previam a criação de dois Estados no território disputado.

Reconhecida por 143 países. Portugal ainda não o fez

A Palestina é reconhecida por 143 países e na próxima semana Espanha, Irlanda e Noruega avançarão com o reconhecimento. 

Portugal alterou a sua posição em relação a este assunto com a mudança de Governo, apesar de continuar a defender a solução dos dois Estados.

O ministro dos Negocios Estrangeiros anterior, João Gomes Cravinho, chegou a admitir reconhecer a Palestina como Estado em pouco tempo, mas o seu sucessor, Paulo Rangel, descartou para já esse cenário. 

O primeiro-ministro português, Luís Montenegro, reforçou na semana passada essa recusa, para já. 

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