Ensaios nucleares, execuções, demissões e umas tréguas: o mundo não pára no Natal
A noite de 24 para 25 de dezembro de 1914, em plena Primeira Guerra Mundial, ficou famosa por uma série de tréguas natalícias, espécie de armistício informal que teve lugar na Frente Ocidental. Nessa noite, soldados alemães e britânicos saíram das suas trincheiras, aventurando-se na terra de ninguém que os separa. E ali trocaram saudações festivas, cânticos de Natal, alimentos, cigarros e até terão organizado umas partidas de futebol.
Mas nem só de momentos positivos se faz a história do dia 25 de dezembro. O primeiro teste nuclear soviétivo teve lugar a 29 de agosto de 1949, em Semipalatinsk, no atual Cazaquistão, então uma das repúblicas da URSS, mas passados 13 anos, foi a 25 de dezembro - e culminando uma série de ensaios que marcaram o ano de 1962 - que os cientistas soviéticos realizaram o último teste de superfície. Um teste final que antecipou a entrada em vigor, no ano seguinte, do Tratado de Interdição Parcial de Ensaios Nucleares. Mas os milhares de milhões de partículas radioativas libertadas no ar durante anos deixaram expostas as populações locais a agentes cancerígenos e mutagénicos que afetaram a sua qualidade de vida até hoje.
O Dia de Natal também parece propício a catástrofes aéreas. Em 1976, um avião de EgyptAir que fazia a ligação entre Roma e Tóquio, tendo escalas previstas no Cairo, Bombaim e Bangkok, despenha-se numa zona industrial próxima do aeroporto internacional Don Muang, na capital tailandesa. Morreram todos os 52 passageiros e tripulantes, além de 19 pessoas no solo. Dez anos depois, o voo 163 da Iraqi Airways, que fazia a ligação entre Bagdad e Amã, na Jordânia, foi desviado por quatro piratas do ar. Quando o pessoal da segurança da companhia aérea tentou travar os piratas, estes detonaram uma granada de mão na cabina, levando o piloto a iniciar uma descida de emergência. Mas quando outra granada explode no cockpit, o aparelho despenha-se perto de Arar, na Arábia Saudita, partindo-se ao meio e incendiando-se. Das 106 pessoas a bordo, 60 passageiros e três tripulantes morreram. O sequestro foi reivindicado pelo grupo Organização da Jihad Islâmica, uma milícia xiita ativa durante a guerra civil no Líbano.
Mesmo quem como eu era ainda criança em 1989, a imagem de Nicolae Ceausescu e da mulher, Elena, a serem fuzilados em pleno Dia de Natal ficou na memória. O ditador romeno caiu vítima da revolução que abalou o país, pondo fim a 42 anos de regime comunista. A revolta, que começou em Timisoara e alastrou a todo o país, levou à detenção e julgamento sumário do líder romeno cuja morte sangrenta marcou o fim das insurreições (pacíficas em países como a Polónia ou a Hungria) nos países do antigo Pacto de Varsóvia.
Dois anos depois, 25 de dezembro ficou como o dia da machada final da União Soviética. Meses depois de ser alvo de um golpe falhado, o presidente Mikhail Gorbachev, o homem que protagonizara a glasnost (abertura) e a perestroika (reestruturação) apresentou a sua demissão, deixando o Kremlin quatro dias depois. Mas a 26 de dezembro, a União Soviética desmantelava-se, deixando oficialmente de existir.
E se algumas das figuras que marcaram o século XX e o início deste século XXI nasceram a 25 de dezembro - tão variadas quanto o primeiro presidente da Argélia Ahmed Ben Bella, a atriz Sissy Spacek, a cantora Annie Lennox, a modelo Helena Christensen ou o primeiro-ministro canadiano Justin Trudeau - muitas outras morreram nesse dia. É o caso do ator e realizador Charlie Chaplin, em 1977, do pintor espanhol Joan Miró, em 1983, do ator americano Dean Martin em 1995, do cantor americano James Brown, em 2006, ou o também cantor, mas britânico, George Michael, em 2016.