Emmanuel Macron: O Júpiter que desceu à Terra e conseguiu mais cinco anos no Eliseu
Conheça melhor o homem que conseguiu a reeleição da presidência francesa.
Emmanuel Macron entrou no Palácio do Eliseu em 2017, após uma ascensão meteórica. Tinha 39 anos e era o mais jovem chefe de Estado francês desde Napoleão. Eleito na sua primeira ida às urnas numa plataforma de centro e liberal, aquele que tinha sido ministro da Economia e da Indústria por apenas dois anos era o novo rosto da política francesa. Queria governar como Júpiter, o rei dos deuses na mitologia romana, mas a realidade trouxe-lhe os "coletes amarelos" e uma pandemia de covid-19. Na hora de descer à Terra, nem sempre ficou bem na fotografia. Cinco anos depois, é com essa bagagem que procura a reeleição.
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"Acho que cheguei ao poder com uma espécie de vitalidade que espero ainda ter, um desejo de abanar as coisas", disse numa entrevista ao canal TF1 em dezembro. Esse desejo, admitiu, foi por vezes a fonte dos seus erros, nomeadamente os comentários públicos que lhe valeram a reputação de arrogância e insensibilidade. Uma vez disse a um desempregado que só tinha que atravessar a rua para encontrar trabalho, noutra atacou um jovem por perguntar "tudo bem, Manu?" (um diminutivo de Emmanuel), exigindo ser tratado por "Sr. Presidente", e já este ano admitiu que queria "irritar" os que não se vacinaram contra a covid-19. "Acho que com alguns dos meus comentários magoei as pessoas. E acho que podemos fazer as coisas sem magoar as pessoas", afirmou.
Macron nasceu a 21 de dezembro de 1977, em Amiens, uma cidade de província. Na primeira campanha, gostava de lembrar as suas origens de classe média e trabalhadora, com uma avó professora e um avô funcionário dos caminhos de ferro. Saltava a parte de ser filho de médicos, ter andado numa escola privada e concorrido à presidência depois de ter trabalhado num banco de investimento, o Rothschild. Nesta campanha, o jornalista Jean-Baptiste Rivoire alegou, sem apresentar provas, que terá ganho uma comissão de até 10 milhões de euros num negócio entre a Pfizer e a Nestlé, em 2012, e que parte desse dinheiro poderá estar em paraísos fiscais. O banco negou pagar aos seus banqueiros no estrangeiro.
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Foi ainda na escola em Amiens que conheceu a futura mulher, Brigitte. Tinha 15 anos e ela era a sua professora de Teatro, 24 anos mais velha, casada e já com três filhos. Preocupados, os pais enviaram-no para acabar o secundário em Paris. Estudou depois Filosofia na Universidade de Paris Nanterre e fez um mestrado na Science Po, antes de tirar o curso na Escola Nacional de Administração e tornar-se inspetor das Finanças. Entretanto, Brigitte divorciou-se do primeiro marido, casando com Macron em 2007. Dez anos depois, a relação entre ambos ainda era alvo de especulações, tendo Macron que vir a público negar a sua homossexualidade.
Militante socialista desde os 24 anos, Macron quis tentar a sorte nas eleições de 2007, mas viu a candidatura ser recusada. Acabaria por juntar-se à equipa de François Hollande, tornando-se vice-secretário-geral do Eliseu quando este chegou à presidência, em 2012. Dois anos depois, foi nomeado ministro da Economia. Mas a sua ambição era maior e, diante dos entraves às suas propostas, acabou por formar, em abril de 2016, o seu movimento político, o En Marche! A 30 de agosto demitiu-se do governo a pensar nas presidenciais de 2017, derrotando na segunda volta Marine Le Pen com 66% dos votos. Um mês depois, a aliança rebatizado La République en Marche conquistou uma maioria absoluta na Assembleia Nacional.
Agora, com 44 anos, Macron já não é o novo rosto da política e as suas propostas e reformas já foram postas à prova. A sua presidência, que quis quebrar as barreiras da divisão entre esquerda e direita, contribuiu para um cenário onde os partidos tradicionais praticamente desapareceram e a extrema-direita acabou legitimada. Se há cinco anos venceu ao centro, enquanto presidente foi acusado de virar mais à direita, o que não ajuda numa altura em que precisa do eleitorado de esquerda que votou em Jean-Luc Mélenchon para vencer.
A esquerda perdeu-a quase no início do mandato. Foi apelidado de "presidente dos ricos", acusado de "trair" a classe trabalhadora, depois de ter tornado mais fáceis os despedimentos e ter decidido cortar no imposto sobre as fortunas. Quando, em 2018, quis aumentar as taxas sobre combustíveis, surgiram os "coletes amarelos" e teve que ceder, prometendo um grande debate nacional. A sua defesa do aumento da idade da reforma dos 62 para os 65 anos serviu mesmo de arma de arremesso a Le Pen.
A gestão caótica da pandemia, que inicialmente o fragilizou, acabou por lhe trazer ganhos políticos. Algumas das suas reformas tiveram que ficar na gaveta, mas outras e os apoios sociais deram resultados. O desemprego, nomeadamente entre os jovens, caiu e o crescimento económico foi o mais alto dos últimos 50 anos, à volta dos 7%. A sua imagem voltou a ser, contudo, minada quando o Senado concluiu que o governo gastou só no ano passado mil milhões de euros do erário público para pagar a consultores privados, incluindo a norte-americana McKinsey, para ajudar a gerir a pandemia. Um valor que mais do que duplicou entre 2018 e 2021.
A guerra na Ucrânia e a crise energética vieram prejudicar os bons resultados económicos, com os franceses a queixarem-se do aumento do custo de vida. A nível internacional, sempre com o sonho de uma União Europeia mais forte e mais unida, Macron apostou no tudo ou nada, procurando ter uma palavra em todas as crises, tendo sido acusado de dedicar-se mais à situação da Ucrânia do que à campanha na primeira volta.
Venceu a segundo volta, mas obteve cerca de dois milhões de votos menos do que em 2017.