Doze horas de negociações EUA-Rússia sem resultados anunciados
A segunda ronda de conversações entre os Estados Unidos e a Ucrânia e os Estados Unidos e a Rússia terminaram sem qualquer acordo assinado. A navegação no Mar Negro e a aplicação de um cessar-fogo de 30 dias às infraestruturas energéticas eram os temas em cima da mesa, apesar de o presidente norte-americano ter dito em Washington que se estava a discutir “sobre território, linhas de demarcação e propriedade de centrais de energia”. Os EUA esperavam “progressos reais”, mas Moscovo baixou as expectativas. Uma declaração conjunta deverá ser publicada nesta terça-feira.
O enviado especial Steve Witkoff (que não se deslocou à Arábia Saudita) estava esperançado em obter um “cessar-fogo no Mar Negro” e “naturalmente evoluir para um cessar-fogo total”. O porta-voz do Kremlin confirmou que a reunião bilateral iria centrar-se “sobretudo na segurança de navegação” no Mar Negro, mas disse “não estar planeado assinar qualquer documento” nas conversações, realizadas à porta fechada num hotel de luxo. Dmitri Peskov alegou estar em causa o restabelecimento da iniciativa dos cereais, um acordo estabelecido com o patrocínio da ONU e da Turquia para permitir o trânsito marítimo de cereais e de fertilizantes de ambos os países em guerra. No entanto, a Rússia denunciou o pacto um ano depois, tendo alegado obstáculos inultrapassáveis (restrições no sistema internacional de pagamentos, transitários com dificuldades em contratar seguros, etc.) devido às sanções impostas.
Em paralelo, o Financial Times dava conta de que a Bulgária e a Roménia mostram preocupação perante a possibilidade de uma alteração do statu quo do Mar Negro. Temem, em particular, que a Marinha russa volte a navegar de forma livre. “Esta é a nossa vizinhança e não confiamos nos russos caso lhes seja dada mais liberdade de ação”, disse uma fonte citada pelo jornal de cor salmão. As forças ucranianas destruíram cerca de um terço da frota russa naquele mar, e obrigou o restante a abrigar-se para lá da Crimeia anexada.
Ao fim de três horas de reunião - que se prolongou por mais nove -, o russo que chefiou a delegação em Riade, Grigory Karasin, comentou aos media do seu país que as “discussões interessantes sobre assuntos bastante prementes” estavam a decorrer “de forma criativa”. O antigo diplomata, questionado sobre a possibilidade de se alcançar um acordo, explicou que “nem todas as negociações produzem necessariamente documentos e acordos importantes”. Estas declarações estão em harmonia com um documento preparado por um grupo de análise russo para o Kremlin, obtido por um serviço de informações europeu e publicado no The Washington Post, e segundo o qual se lê que “uma resolução pacífica para a Ucrânia não pode acontecer antes de 2026”.
A delegação ucraniana, que já se reunira no domingo com os enviados norte-americanos para abordar a possível trégua às infraestruturas energéticas e no Mar Negro, ficou na capital saudita para um novo encontro. Serhii Leshchenko, assessor do gabinete da presidência, também disse que “nem todas as reuniões acabam com declarações públicas nem conferências de imprensa conjuntas”.
As negociações decorreram depois de Witkoff, o enviado ao Médio Oriente e amigo pessoal de Trump, ter elogiado Vladimir Putin, perguntado se o mundo está pronto para reconhecer as regiões ocupadas como russas e repetido a cartilha de Moscovo: “Há uma sensibilidade na Rússia de que a Ucrânia é apenas um país falso, de que se juntaram nesta espécie de mosaico, estas regiões, e é isso que está nas raízes, na minha opinião, desta guerra, o facto de a Rússia considerar essas cinco regiões como suas por direito desde a Segunda Guerra Mundial, e isso é algo de que ninguém quer falar”, disse em entrevista ao jornalista Tucker Carlson, também ele uma voz favorável ao Kremlin
O analista político ucraniano Maksym Nesvitailov, em declarações à rádio RBC, comentou: “Neste momento, parece que estamos sozinhos contra dois.”
Mísseis atingem centro de Sumy
A Rússia lançou um ataque com mísseis no centro de Sumy, cidade e capital da região com o mesmo nome do norte da Ucrânia. Segundo o autarca, Artem Kobzar, foi alvejado o setor residencial e infraestruturas, incluindo um hospital pediátrico. Já o chefe da administração militar, Volodymyr Artiukh, disse que uma escola também foi atingida, além de vários prédios de habitação. O balanço provisório aponta para 90 feridos, 17 dos quais crianças. Outros ataques, mas com drones, foram registados na referida região.
Segundo o porta-voz do Serviço de Guarda de Fronteiras da Ucrânia, Andriy Demchenko, as forças russas estão a tentar transferir as operações de combate da região russa de Kursk para Sumy, com a utilização de pequenos grupos de assalto.