Donos de "clínica da morte" no Brasil tocaram no Rock in Rio Lisboa
O Brasil assiste chocado ao mais recente desenvolvimento da Comissão Parlamentar de Inquéríto (CPI) do Senado Federal que apura os crimes cometidos pelo governo Bolsonaro durante a pandemia de covid-19 que vitimou até agora 600 mil brasileiros: uma rede de hospitais fazia testes em humanos com remédios ineficazes, como a hidroxicloroquina, e depois adulterava o registo da causa da morte. Além disso, chegou a dizer a familiares de infetados que a situação clínica deles era irreversível apenas para liberar vagas nas urgências.
Tadeu Andrade, cliente da Prevent Senior, contou à CPI na quinta-feira, dia 7, que uma médica do hospital insistiu com as suas filhas para concordarem em aplicar-lhe uma bomba de morfina potencialmente letal e desligar os aparelhos que o mantinham nas urgências. Como elas discordaram e ameaçaram ir aos tribunais e aos jornais caso a Prevent não continuasse a atendê-lo, a empresa recuou. E Tadeu, um advogado de 65 anos, pôde contar a sua história aos senadores. "Se não fosse a minha família, em poucos dias eu iria a óbito e hoje estou aqui", disse, com a voz embargada.
Nas semanas anteriores, a empresa já fora acusada de usar seres humanos como cobaias em experiências não autorizados, com recurso ao chamado Kit Covid, conjunto de medicamentos sem eficácia para a doença enviado para casa dos clientes por entregadores, e de retirar dos atestados de óbitos dos pacientes a covid-19 como causa da morte. Elogiada publicamente à época pelo presidente Jair Bolsonaro e por dois dos seus filhos políticos, a prática da Prevent era vista pelo governo como estratégica para tentar convencer a população a voltar à normalidade, sem distanciamento nem uso de máscara. Ao ponto de o empresário Luciano Hang, um fervoroso bolsonarista, ter concordado em apagar a covid-19 do registo da morte da sua mãe, Regina Hang, tratada com o Kit Covid.
As revelações colocaram os donos da empresa, dois irmãos, no foco da imprensa. E tanto Fernando como Eduardo Parrillo, além de médicos e gestores, têm relativo sucesso no mundo da música: os fundadores da Doctor Pheabes nas horas vagas chegaram a abrir concertos de bandas como os Rolling Stones, os Guns N' Roses ou os Black Sabbath, e a participar nos principais festivais de música do Brasil e não só, como tocar na edição de 2020 do Rock in Rio Lisboa antes dos Foo Fighters, entre outros feitos.
"Sem dúvida é uma honra ser lembrado para representar o Brasil numa edição europeia do Rock in Rio. Para uma banda brasileira como os Doctor Pheabes, é importante ter esse espaço, poder levar o rock 'n roll brasileiro além fronteiras e mostrar que ele ainda vive. Esse é o caminho, estamos muito agradecidos por fazer parte desta festa maravilhosa", disse na ocasião, ao portal UOL, Fernando Parrillo, guitarrista e CEO da Prevent Senior.