Donbass, o núcleo industrial ucraniano que a Rússia quer 'libertar'
O presidente russo Vladimir Putin reconheceu a independência destes territórios em 21 de fevereiro, três dias antes de lançar uma invasão contra a Ucrânia, citando entre os motivos a proteção da população de língua russa, que afirma ser discriminada por Kiev.
O território do Donbass, que Moscovo afirma querer libertar, é uma área industrial situada no leste da Ucrânia e desde 2014 no centro de um conflito entre as tropas de Kiev e os separatistas pró-russos.
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Esses grupos, que contam com o apoio de Moscovo, assumiram o controlo de parte dessa área de mineração cuja população é maioritariamente russa e autoproclamaram duas "repúblicas populares" em Donetsk e Luhansk.
Das aproximadamente 6,6 milhões de pessoas que viviam no Donbass, segundo estatísticas ucranianas, muitas fugiram, seja para outras regiões ucranianas ou para a Rússia. Este êxodo acelerou-se desde o início da invasão russa a 24 de fevereiro e, atualmente, não há números fidedignos sobre a população que permanece no local.
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O presidente russo Vladimir Putin reconheceu a independência desses territórios dia 21 de fevereiro, três dias antes de lançar uma invasão contra a Ucrânia, citando entre os motivos a proteção da população de língua russa, que afirma ser discriminada por Kiev.
Depois de sofrer vários contratempos, o exército russo anunciou no final de março uma mudança de estratégia para se concentrar na "libertação do Donbass". Desde então, a Ucrânia tem-se preparado para uma ofensiva agressiva na parte da região que ainda está sob o seu controlo e os bombardeamentos intensificaram-se desde segunda-feira, com notícias de que a Rússia estará muito perto de tomar a importante cidade portuária de Mariupol.
Donbass é um território que conta com cerca de 55.000 km2, equivalente à superfície da Costa Rica, e que reúne duas regiões ucranianas, Donetsk e Luhansk. Durante séculos foi um território dividido entre os tártaros da Crimeia e os cossacos ucranianos.
O seu desenvolvimento económico ocorreu no século XIX, durante o Império Russo, e com a descoberta das primeiras jazidas de carvão. Esta região, que faz fronteira com a Rússia, estende-se até o porto de Mariupol, um ponto-chave do conflito. Neste território há imensas reservas de carvão e metais, que foram um núcleo estratégico da indústria durante a era soviética.
Até à guerra de 2014, a cidade de Donetsk - a maior do Donbass - era o principal centro metalúrgico da Ucrânia.
Apesar de a região ser muito urbanizada, as condições de trabalho nas fábricas e nas minas eram muito difíceis.
A presença de uma quantidade elevadas de pessoas que falam russo deve-se ao deslocamento de trabalhadores russos após a Segunda Guerra Mundial.
Esta herança industrial e linguística moldou a identidade do Donbass, que depois do colapso da União Soviética e da independência da Ucrânia conservou fortes vínculos económicos e culturais com a Rússia.
Moscovo justifica o seu apoio aos separatistas, afirmando que a população de língua russa sofre discriminação, principalmente após o movimento pró-europeu Maidan que levou à queda do presidente pró-russo Viktor Yanukovych em 2014.
O conflito entre as forças ucranianas e os separatistas de Donetsk e Luhansk começou na primavera de 2014, após a queda de Yanukovych e a anexação da península da Crimeia pela Rússia.
Os acordos de Minsk, assinados em 2015 graças à mediação da França e Alemanha, tiveram como principal objetivo devolver a paz à região.
No entanto, Kiev e os separatistas trocaram acusações de desrespeito aos pactos durante os oito anos de guerra. A Ucrânia e os seus aliados ocidentais acusam Moscovo de ter ajudado militarmente os separatistas a alimentar o conflito, que deixou mais de 14 mil mortos.
A independência das "repúblicas" de Donetsk e Luhansk, proclamada em 2014 após a realização de um referendo, não é reconhecida pela comunidade internacional.
Após Donetsk ter ficado sob controlo separatista, a cidade de Kramatorsk - cuja estação de comboios foi bombardeada por mísseis dia 8 de abril e deixou 57 mortos - tornou-se a principal cidade do Donbass sob controlo ucraniano e agora é o principal alvo da ofensiva russa.