O presidente Donald Trump terá bloqueado um plano israelita para assassinar o líder supremo do Irão, o ayatollah Ali Khamenei. Esta guerra com Israel pode ser uma oportunidade para uma mudança de regime no Irão? Digamos que hoje o objetivo do Estado judaico e do seu primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, é travar uma guerra que, segundo ele, será de curta duração e conseguir uma mudança de regime. Mas isso não significa que tal vá acontecer. De qualquer forma, é esse o objetivo. O próprio Benjamin Netanyahu apelou no domingo aos iranianos para se revoltarem contra o regime dos ayatollahs. Já vimos iranianos nas ruas nos últimos anos a protestarem contra a repressão do regime. Mas com as bombas a cair sobre eles, é mais provável que fiquem atrás da sua liderança?Não. Dois terços da população atual do Irão opõem-se ao regime da República Islâmica e nunca apoiarão Ali Khamenei, que continua a ser o carrasco do povo iraniano. Muito claramente. Digo isto porque falo com iranianos todos os dias. Eu próprio sou de origem iraniana. Portanto, tudo isso é uma ficção, se preferir. Uma força de expressão, na verdade, da República Islâmica do Irão, porque o diz para assustar o Ocidente. Mas isso não vai acontecer. Depois, como pedir aos iranianos que tomem as ruas? Sempre que o fizeram foram baleados, houve mortes, e ninguém no Ocidente os apoiou. Para que tomem as ruas, é necessária uma força significativa da diplomacia ocidental, dos líderes dessas democracias, sejam os Estados Unidos, a França ou a Inglaterra. Podemos ver claramente que o povo iraniano não está armado quando protesta contra uma ditadura terrível, extremamente armada. Por isso, incitar o povo a sair à rua, se não o apoiarmos, é uma opção fácil que se pode transformar em algo trágico. Seria necessário haver uma força, nomeadamente da parte de Donald Trump, a começar por ele, para dizer que apoiaremos a oposição iraniana. E as pessoas estão a perceber que precisam disso..E acredita que Trump poderá dar esse passo?É muito difícil dizer, hoje, o que Trump quer. Por um lado, dizem que ele procura uma solução negociada com o regime iraniano, mas o regime iraniano está a entrar em colapso. Pessoalmente, não consigo perceber com quem é que ele quer negociar dentro do regime, quando o regime está a cair gradualmente. Pessoalmente, creio que hoje a melhor solução é reunir toda a oposição iraniana à volta de uma mesa e garantir, por assim dizer, que preparamos o futuro do Irão com estas pessoas. Porque acredito - e este é o meu ponto de vista - que este regime é um regime perigoso. Não é só a questão nuclear. Para além da energia nuclear, estamos a falar de um narco-Estado. É um Estado perigoso para todos os países do planeta. Obviamente, começando pelo Médio Oriente e pela região do Golfo. Aí está a minha resposta. Imaginemos que o regime atual cai, o que poderá acontecer a seguir? Existe o perigo de o Irão cair num vazio de poder? É de esperar um regresso da monarquia, por exemplo, com o filho do último xá?Isso não lhe sei dizer. O que lhe posso dizer é que, em primeiro lugar, a decisão é dos iranianos. É o povo iraniano que decidirá o seu futuro político. Reza Pahlavi, o príncipe Reza Pahlavi [filho do xá Mohammed Reza Pahlavi], é obviamente uma figura-chave na atual oposição iraniana. Aparece aos olhos de muitos iranianos como um elo de ligação entre o Irão e o Ocidente. Porque vive nos Estados Unidos, está imerso, diria eu, nas culturas iraniana e americana. Ele está imerso na cultura democrática. Portanto, ele é, na verdade, uma pessoa que traz com ele bastante segurança. Eu entrevistei-o para a revista Paris Match, achei-o extremamente brilhante, com uma visão concreta para o Médio Oriente. Agora, também há outros grupos de oposição. Por isso, é preciso juntá-los, para trabalharem todos juntos, com Reza Pahlavi. E ajudá-los a implementar o que for necessário para a continuidade de um Estado iraniano e de um regime democrático. Essa é uma certeza. Quando entrevistei Reza Pahlavi para o Paris Match, ele disse-me claramente que queria trabalhar por um regime democrático no Irão, à semelhança de quase todos os movimentos de oposição iranianos... O “quase” é importante.Para já os ataques continuam de ambos os lados. Como podemos esperar que esta guerra termine? Netanyahu, no domingo, dizia muito claramente não ser favorável a um acordo de paz que não inclua o desmantelamento do arsenal nuclear iraniano…Bem, é difícil dizer como a guerra vai acabar. Mas posso dizer que é a esperança dos iranianos, da população. Esta guerra visa derrubar a República Islâmica iraniana. Visa derrubar um regime que é considerado pela maioria das pessoas no Irão como um regime tirânico. Para que o caminho para a democracia possa finalmente ser encontrado no Irão. Não sei como isto vai acabar, mas devemos torcer para que o desfecho seja democrático. Digo isto porque o Irão é um país com uma grande cultura. As oposições iranianas, que conheço bem, sejam de esquerda, de direita ou monárquicas, são oposições cujos dirigentes são extremamente instruídos, extremamente democráticos. E seculares, é importante dizê-lo. Portanto, estas oposições iranianas, consideradas no seu conjunto, são uma garantia de que o Irão será capaz de encontrar o caminho para a estabilidade com bastante rapidez, após a queda do regime dos mullahs.