Kiev continua a usar material soviético, como este veículo de reconhecimento de combate, BRM-1K, em Donetsk.
Kiev continua a usar material soviético, como este veículo de reconhecimento de combate, BRM-1K, em Donetsk.24.ª BRIGADA MECANIZADA DAS FORÇAS ARMADAS DA UCRÂNIA / AFP

Destino na frente de guerra depende de armas de longo alcance

Com importante vila na iminência de cair, Zelensky diz que avanço  a leste dos russos só pode ser parado se aliados acabarem com restrições.
Publicado a
Atualizado a

Volodymyr Zelensky voltou a dizer que a incursão em Kursk está a ser bem-sucedida, no entanto em Donetsk, no leste da Ucrânia, as forças russas continuam a avançar - e só uma decisão dos aliados poderá mudar o destino no Donbass, disse o presidente ucraniano. O próximo alvo russo é Pokrovsk, onde viviam até agora 53 mil pessoas, e que recebeu ordens de evacuação. 

O comandante das forças ucranianas, Oleksandr Syrsky, confirmou que estavam a decorrer “combates pesados” em redor de Pokrovsk, vila situada no cruzamento de uma estrada que abastece as principais guarnições ucranianas na frente oriental. Syrsky disse que as forças russas tinham tentado invadir as suas posições 45 vezes nas últimas 24 horas. Caso Pokrovsk caia, será a maior povoação a passar para as mãos dos russos desde a destruição e tomada de Bakhmut, em maio de 2023. A sua captura também abriria o caminho para novos avanços na região. Syrsky disse que está a fazer “tudo o que é necessário” para proteger Toretsk, 70 quilómetros a leste de Pokrovsk.

Para contrariar este cenário, o presidente ucraniano voltou a apelar para os aliados ocidentais permitirem o uso de armas de longo alcance em território russo. “A Ucrânia só pode travar o avanço do exército russo na linha da frente se for tomada uma única decisão, que esperamos que os nossos parceiros tomem: uma decisão sobre as capacidades de longo alcance”, afirmou, a propósito da frente leste.

Depois de na véspera ter explicado que a iniciativa surpresa na região russa de Kursk serve para criar uma zona de proteção e capturar soldados russos para troca de prisioneiros, Zelensky disse que Kiev controla 1250 km2 e 92 localidades russas. Moscovo manteve a ideia de que não está disponível para negociações com a Ucrânia, no entanto o seu líder mostrou-se interessado em recuperar o estatuto de mediador entre o Azerbaijão e a Arménia para que estes países do Cáucaso assinem um acordo de paz. “Nesta fase, tendo em conta esta aventura, não vamos falar”, disse o conselheiro diplomático de Vladimir Putin, Yuri Ushakov, ao canal de Telegram russo Shot, em referência à incursão ucraniana em Kursk. “Para já, seria completamente inapropriado iniciar um processo de negociação”, disse. 

Já Putin, em visita a Baku, reconheceu dificuldades, embora em território alheio. “É do conhecimento geral que a Rússia também está a enfrentar crises, em primeiro lugar na Ucrânia”, disse ao lado do homólogo do Azerbaijão, Ilham Aliyev. A Arménia, aliada tradicional de Moscovo, acusou de inação as forças de manutenção da paz russas destacadas para o Nagorno-Karabakh, de onde cerca de cem mil pessoas fugiram ao avanço do exército azeri no ano passado. Ierevan, que anunciou o abandono da Organização do Tratado de Segurança Coletiva, liderado pela Rússia, recebeu há um mês exercícios militares conjuntos com tropas norte-americanas. O líder russo não quer perder a influência num país onde tem alojada uma base militar. Putin alegou que “o envolvimento histórico” do seu país no sul do Cáucaso “torna necessária” uma participação diplomática. “Se pudermos fazer alguma coisa para assinar um acordo de paz entre o Azerbaijão e a Arménia ficaremos muito satisfeitos.”

cesar.avo@dn.pt 

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt