A escolha amanhã é entre Kamala Harris e Donald Trump.
A escolha amanhã é entre Kamala Harris e Donald Trump.EPA

De aborto a (tolerância) zero. As presidenciais nos EUA de A a Z

Na terça-feira os americanos vão às urnas escolher entre o republicano Donald Trump e a democrata Kamala Harris, eleger o novo Congresso e 11 dos 50 governadores. Pequeno resumo desta campanha e do complexo sistema político americano... em 26 palavras.
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Aborto

Foi um dos temas da campanha. Os democratas esperam que o papel de Donald Trump na decisão do Supremo de reverter o direito ao aborto nos EUA durante o seu mandato lhes garanta votos, sobretudo das mulheres. Nos comícios, de Michelle Obama a Beyoncé, várias apoiantes de Kamala Harris defenderam o direito das mulheres à escolha. Do lado republicano, a ex-primeira-dama Melania Trump também defendeu o direito ao aborto.

Biden

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Sob fogo devido à idade - faz 82 anos no dia 20 -, o presidente Joe Biden acabou por ceder à pressão, inclusive dos democratas, e desistir da candidatura a 21 de julho, anunciando o apoio a Harris. “Foi a maior honra da minha vida servir como vosso presidente”, afirmou o homem que foi senador aos 29 anos, vice de Barack Obama oito anos e em 2020 cumpriu o sonho de chegar à Casa Branca. Agora deixou cair a ambição da reeleição em nome da América.

Colégio Eleitoral

As eleições americanas não são diretas. Os “pais fundadores” criaram o Colégio Eleitoral, onde cada estado está representado de acordo com a população e que elege o presidente. São 538 grandes eleitores, correspondendo à soma dos 435 membros da Câmara dos Representantes, mais os 100 senadores e três delegados do distrito de Columbia, onde fica a capital, Washington. Os grandes eleitores votam em quem venceu no seu estado, na lógica de o vencedor levar tudo. Nebraska e Maine são exceção, com representação proporcional. O número mágico? 270! Quem os garantir é presidente. 

Democratas

Fundado em 1828, é um dos dois grandes partidos nos EUA. Com políticas liberais e de centro-esquerda, abriga várias fações, das moderadas às mais radicais. Representado pelo burro, o animal já antes lhe estava associado, mas foi o cartoonista Thomas Nast quem, em 1874, na revista Harper’s Weekly, o popularizou como símbolo dos democratas. Dos cinco ex-presidentes vivos, três são democratas: Jimmy Carter, Bill Clinton e Barack Obama. 

Economia

Os últimos dados mostram a economia americana a crescer (2,8% no último trimestre) e o desemprego nos 4,2%. Mas uma coisa são os números, que deveriam favorecer Harris, outra é a perceção dos americanos, afetada pela inflação - preços mais altos do que em 2019 e casas em valores inalcançáveis para a classe média. E isso favorece Trump.

Financiamento

Entre julho e setembro Harris angariou quase mil milhões de dólares, ultrapassando o valor amealhado por Trump desde que entrou na corrida, em janeiro de 2023: 894 milhões. Parte do dinheiro vem de pequenos doadores, mas entre os milionários envolvidos na campanha temos Bill Gates ou Mark Cuban, do lado de Harris, e Elon Musk, do lado de Trump. 

Gerrymandering

É a prática de redesenhar os distritos eleitorais para dar vantagem a um candidato ou partido numa eleição para o Congresso. O termo vem de Elbridge Gerry, governador do Massachusetts que em 1812 aprovou uma lei que definia os distritos nas eleições para o Senado estadual. Um deles parecia uma salamandra, o que inspirou a Elkanah Tisdale, do Boston Gazette, o cartoon em que transformava esse distrito num animal imaginário, o gerry-mander.

Harris

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Filha de uma investigadora do cancro indiana e de um economista jamaicano, Kamala Devi Harris nasceu em Oakland, Califórnia, há 60 anos. Formada em Direito, fez carreira como procuradora no seu estado natal, tendo sido procuradora-geral entre 2011 e 2017, quando assumiu o cargo de senadora. Primeira mulher, primeira negra e primeira asiática a chegar à vice-presidência dos EUA em 2020, espera agora voltar a fazer história ao repetir o pioneirismo se chegar à Casa Branca. 

Insultos

AFP

Porto Rico, “ilha de lixo”, comentários racistas sobre negros, latinos, judeus e palestinianos, comentários sexistas sobre Harris ou Hillary Clinton. Nem é preciso ir além do comício de Trump no Madison Square Garden para ter uma longa lista de insultos nesta campanha. A estes juntam-se os ataques aos haitianos, que o republicano acusou de comerem cães e gatos, ou o comentário do seu vice, J. D. Vance, sobre as childless cat ladies, que ele diz ameaçarem a família tradicional americana. Mas do lado democrata também saíram ataques ao rival, acusado de ser “fascista”, “nazi” e de os seus apoiantes serem “lixo”. 

Justiça

Quando forem a votos neste dia 5, os americanos ainda não saberão se um dos dois candidatos às presidenciais vai ter de cumprir pena de prisão. A leitura da sentença do caso de fraude relacionado com a compra do silêncio da antiga estrela porno Stormy Daniels foi adiada para 26 de novembro. Mas não é o único processo judicial contra Trump: os dois sobre as tentativas de reverter o resultado das presidenciais de 2020, em Washington e na Geórgia, foram adiados e o dos documentos secretos que tinha em Mar-a-Lago encerrado. Problemas com a justiça que põem em causa a relação do republicano com o Departamento de Justiça se for eleito e fazem temer o que poderá fazer para negar uma derrota que o deixaria mais vulnerável aos tribunais se não o for. 

Kennedy

Mais de seis décadas depois de o tio, o presidente John F.. Kennedy, ter sido assassinado e 56 anos depois de o pai, Robert Kennedy, ter sido morto na campanha para as presidenciais, R. F. K. Jr. tornou-se nestas eleições o mais forte “terceiro candidato”. Como independente, ameaçava roubar votos a democratas e republicanos, mas o advogado ambiental, antivacinas, viria a desistir e apoiar Trump. Além de Trump e Harris restam outros quatro candidatos: Cornel West, Jill Stein, Chase Oliver e Claudia de la Cruz.

Liz Cheney

Há muito crítica de Trump, a ex-congressista do Wyoming foi um dos republicanos que anunciaram o seu apoio a Kamala Harris. Um grupo ao qual se junta o seu pai, o antigo vice-presidente Dick Cheney, mas também o antigo governador da Florida Arnold Schwarzenegger ou o ex-diretor de Comunicação da Casa Branca Anthony Scaramucci. 

Melania Trump

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Casada com Trump desde 2005, a ex-modelo, nascida na Eslovénia, é mãe de Barron (o ex-presidente tem mais quatro filhos de dois casamentos anteriores: Donald Jr., Ivanka, Eric e Tiffany). A ex-primeira-dama, 54 anos, foi muito discreta na campanha do marido, ao contrário de Doug Emhoff, casado com Harris desde 2014 e pai dos seus enteados, Cole e Ella. Se Melania quer repetir como primeira-dama, o advogado judeu, de 60 anos, quer fazer história ao tornar-se no primeiro primeiro-cavalheiro.

Nate Silver

O fundador do site FiveThirtyEight ganhou fama por prever o vencedor das eleições em 2008, 2012 e 2020 graças a modelos estatísticos. Uma tarefa ainda mais difícil na América, cujo complexo sistema eleitoral desafia as sondagens. Nate Silver falhou em 2016, mas mesmo assim os 28,6% de hipóteses de vitória que previu para Trump estavam bem acima dos de outros pesquisadores. Após deixar o FiveThirtyEight, podemos seguir as suas previsões no blogue Silver Bulletin. 

Oval

O gabinete do presidente na Casa Branca é o centro de poder da maior superpotência e primeira economia mundial. Se Trump se voltar a sentar na Sala Oval, podemos esperar uns EUA mais isolacionistas, uma relação mais difícil com a Europa e a NATO, menos apoio à Ucrânia, mas não menos a Israel, e talvez uma aproximação à Rússia. Só a relação com a China pouco deverá mudar, quer seja Trump ou Harris o presidente - a hora é de competição e desconfiança em relação a Pequim. O que pode mudar é o estilo. 

Pensilvânia

A Pensilvânia é um dos sete swing states, os estados que pendem ora para um, ora para outro partido e que irão decidir estas presidenciais. Os outros são Carolina do Norte, Geórgia, Michigan, Wisconsin, Nevada e Arizona. Em 2020 Biden venceu no Nevada por apenas 10.500 votos e no Arizona por 12.600. Foi nestes estados que os candidatos concentraram os últimos esforços de campanha.

QAnon

Surgida em 2017, esta teoria da conspiração de extrema-direita diz haver uma cabala de esquerda formada por adoradores do diabo, pedófilos e canibais que lidera uma rede global de tráfico sexual infantil e conspira contra Trump. Ligados ao assalto ao Capitólio a 6 de janeiro de 2021 e outros atos de violência, os defensores desta teoria perderam influência nos anos Biden, mas Trump voltou a dar-lhes visibilidade na campanha.

Republicanos

Formado em 1854 por ativistas antiescravatura, o Grand Old Party, como também é conhecido, teve em Abraham Lincoln o seu primeiro presidente. Tendo como símbolo o elefante (desde o célebre cartoon de Thomas Nast), os republicanos defendem o conservadorismo social, a desregulamentação económica e baixos impostos. Com Trump, o partido virou à direita e tornou-se mais populista. Elegeu dois dos últimos cinco presidentes: Bush filho e Trump.

Senado

Além da escolha do novo presidente, quando forem às urnas amanhã os americanos vão eleger a totalidade dos 435 membros da Câmara dos Representantes, um terço dos 100 senadores e 11 dos 50 governadores. As sondagens preveem que a Câmara possa ir para os democratas, enquanto o Senado deve pender para os republicanos.

Trump

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Quando naquele dia de 2015 Trump desceu a escada-rolante da Trump Tower, em Nova Iorque, para anunciar a candidatura a presidente muitos se riram. Mas o milionário do imobiliário acabou mesmo por derrotar Hillary Clinton e chegar à Casa Branca. Vencido por Joe Biden em 2020, volta agora a tentar o segundo mandato que lhe escapou. Na campanha, escapou a uma tentativa de assassínio. Aos 78 anos, se for eleito será o mais velho presidente de sempre dos EUA.

Universidade de Howard

Harris não esconde o orgulho de se ter formado na Universidade de Howard, em Washington, cuja sweatshirt gosta de usar. É lá que vai passar a noite eleitoral à espera do resultado que espera fazer dela a primeira licenciada numa universidade historicamente negra - fundadas para dar mais oportunidades de ensino superior a estudantes afro-americanos - a chegar à presidência dos EUA.

Vices

Veterano dos Marines e autor de Hillbilly Elogy, sobre a América rural,  J. D. Vance foi a escolha de Trump para vice. O senador do Ohio e antigo crítico do ex-presidente espera que a sua história pessoal dê votos em estados como Pensilvânia, Michigan e Wisconsin. Aos 40 anos, casado com Usha, de origem indiana, e pai de três filhos, é acusado de ser uma cópia de Trump. Harris também escolheu um veterano, mas da Guarda Nacional, para vice. Antigo professor do liceu e treinador de futebol americano, Tim Walz é pai de dois filhos após tratamentos para a infertilidade (tema que abordou em campanha). Homem branco do Midwest, o governador do Minnesota tem experiência de vencer em território republicano. 

Washington

Fundada para ser capital federal e inaugurada em 1800, recebeu o nome do primeiro presidente dos EUA, George Washington. Distrito federal e não um dos 50 estados, é lá que ficam as sedes dos três poderes: a Casa Branca, o Congresso e o Supremo Tribunal. Foi a terceira capital, depois de Nova Iorque e Filadélfia. Será palco da posse do novo presidente, a 20 de janeiro.

X

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Dois anos e meio após ter a conta suspensa, em agosto de 2023 Trump voltou ao Twitter, agora X. Meses antes, o novo dono da rede social, Elon Musk, dera-lhe as boas-vindas de volta. O milionário, fundador da SpaceX e CEO da Tesla, foi muito ativo na campanha e causou polémica ao prometer um milhão de dólares por dia a eleitores registados nos swing states para votarem no republicano. Trump garante que terá lugar de destaque na sua Administração.

Yes she can

Aludindo ao seu famoso slogan de campanha em 2008, “Yes we can”, Barack Obama foi uma das estrelas da Convenção democrata, adaptando a frase para “Yes she can”, garantindo que Harris pode ser presidente dos EUA. O ex-presidente, primeiro negro a ocupar o cargo, e a ex-primeira-dama Michelle puseram todo o seu peso no apoio à democrata.

Zero

É o nível de tolerância que Trump promete em relação aos imigrantes, a quem chamou “animais” e acusou de “envenenarem o sangue” dos americanos. Se eleito, promete o maior programa de deportação de indocumentados, 15 a 20 milhões de pessoas. Quer reintroduzir a proibição de entrada nos EUA de cidadãos de países muçulmanos e impedir a imigração de pessoas de baixo rendimento. Já Harris, em 2020 defendia limitar as deportações e legalizar imigrantes, mas endureceu a posição, advogando mais guardas fronteiriços e o presidente poder fechar a fronteira se as entradas ultrapassassem as cinco mil por dia numa semana.

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