Croácia inaugura ponte que permite unir o país contornando a Bósnia

Com a dissolução da Jugoslávia, os croatas que vivem mais a sul viram-se separados por duas fronteiras internacionais do resto do país, já que os bósnios mantiveram o seu pequeno acesso ao mar. Uma ponte de 2,4 quilómetros resolve agora a situação.

A tão esperada ponte que permite unir a maior parte do território da Croácia à ponta sul do país, contornando uma estreita faixa de território bósnio, foi inaugurada esta semana. A construção, de 2,4 quilómetros, liga o continente à península de Peljesac, que se estende depois a uma faixa de terreno aninhada entre o mar Adriático e os Alpes Dináricos. "Esta ponte representa a unificação da Croácia, a união do Sul com o Norte", disse Ivan Vranjes, de 45 anos, natural de Split.

A celebração ocorreu de manhã à noite, com corridas de barcos, fogo-de-artifício, atuações musicais e muitas oportunidades para tirar fotografias. Quando o sol se pôs, as atenções viraram-se para a cerimónia oficial de inauguração, com um discurso do primeiro-ministro croata, Andrej Plenkovic, e uma mensagem vídeo do homólogo chinês, Li Keqiang.

Plenkovic disse que a inauguração marca "um dia histórico para a Croácia", elogiando a infraestrutura como "o projeto de uma geração, um projeto de orgulho".

Esta ligação permitirá pôr fim às incontáveis horas gastas pelos residentes, comerciantes e turistas na fronteira bósnia e é um dos projetos de infraestruturas mais ambiciosos do país desde que a Croácia declarou a independência da Jugoslávia, em 1991.

Manta de retalhos dos Balcãs

Foi a sangrenta dissolução da República Federal da Jugoslávia que deixou uma manta de retalhos de divisões ao longo dos Balcãs, com as fronteiras entre as seis antigas repúblicas transformadas em fronteiras internacionais. A Bósnia-Herzegovina manteve o seu acesso costeiro, mas a sua pequena saída para o mar (cerca de 20 quilómetros de costa) cortava o território croata.

Por causa disso, cerca de 90 mil pessoas, incluindo os moradores no pequeno centro turístico de Dubrovnik, ficaram separados do resto do país até agora. Os moradores da pitoresca região de vinhos tintos, praias e quintas de ostras aguardam com expectativa o fim do seu isolamento geográfico causado pela fronteira bósnia.

A fronteira trouxe consigo filas e burocracia para os comerciantes e dores de cabeça para os turistas que esperavam chegar ao Sul por estrada. As longas horas de espera na fronteira e receios de perder o último ferry do dia vão passar a ser uma coisa do passado, indicaram. "Era muito cansativo e deixou as pessoas que moravam aqui amargas", disse Sabina Mikulic, proprietária de um hotel, local de glamping e vinhedo em Orebic, a maior cidade da península.

Financiado pela UE, construído pela China

A abertura da ponte já era esperada há muito tempo, mas não chegou sem controvérsia. A Croácia lançou-se no primeiro projeto para a construir em 2007, mas cinco anos depois, por problemas financeiros, teve que o abandonar. Em 2017, a União Europeia - à qual a Croácia aderiu em 2013 - alocou 357 milhões de euros ao projeto, quase 85% do custo da obra.

Uma empresa chinesa foi selecionada em 2018 para construir a ponte, naquele que foi o primeiro envolvimento significativo da China num projeto de infraestruturas na Croácia. Na terça-feira, o primeiro-ministro chinês disse que a conclusão da ponte marca uma nova era de cooperação entre Pequim, Zagrebe e Bruxelas. "A ponte também reflete a cooperação entre a China e a União Europeia", disse Li na sua mensagem vídeo.

Mas nem todos ficaram felizes com a construção da ponte, com as autoridades na Bósnia a alegar que iria dificultar o seu acesso marítimo ao impedir que navios de grande porte entrassem no seu porto. Zagrebe eventualmente acabou por aumentar a altura da ponte para os 55 metros, numa tentativa de acabar com a disputa.

A abertura da ponte surge num momento em que a Croácia procura a recuperação do setor do turismo, esperando voltar a atrair um número de visitantes semelhante ao que atraía antes da pandemia. O país, de 3,8 milhões de pessoas, atrai milhões de turistas todos os anos, que querem aproveitar o sol ao longo da sua costa deslumbrante, salpicada de mais de mil ilhas e ilhéus.

Para a reformada professora de piano Smilja Matic, que há anos passa férias na aldeia de Komarna, próxima da entrada da nova ponte, a ligação ao continente é uma vitória para os locais e para os turistas. "Significa uma nova vida para os locais e para as pessoas que viajam de avião até Dubrovnik, como eu. É um grande progresso", disse.

Para lá do turismo, a infraestrutura irá provavelmente representar um boom para as empresas e comerciantes. Durante décadas, o produtor de ostras Mario Radibratovic, da aldeia de Mali Ston, tinha de passar horas para levar o seu marisco perecível até ao mercado, devido ao tempo de espera na fronteira. Com a abertura da ponte o tempo de viagem vai encurtar drasticamente.

Para este homem, de 57 anos, será um "alívio imensurável" a abertura da ponte. "Estamos finalmente a tornar-nos parte da Croácia", afirmou. "Até agora, sentíamos que éramos cidadãos de segunda classe."

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