António Costa diz que a União Europeia não deve “dramatizar nem desvalorizar críticas de Trump”, que recentemente se queixou das tarifas e do excesso de burocracia no seio dos 27, mas garante que a UE terá “instrumentos de defesa” para combater eventuais medidas do novo presidente dos Estados Unidos.“Temos uma relação histórica com os EUA que é do mútuo interesse preservar, mas claro que também há uma competição económica. Nós também temos as nossas preocupações”, começou por dizer em entrevista à RTP.“As relações com os EUA são independentes de quem está no poder. Já tivemos a experiência de conviver com o presidente Trump. Não vamos dramatizar nem desvalorizar críticas de Trump. Temos os nossos instrumentos de defesa. Iremos adotar medidas para responder a essas medidas de Trump e defender os nossos interesses. Nós não procuramos o conflito”, prosseguiu.Sobre as fronteiras postas em causa por Trump, que já mostrou intenção de anexar Gronelândia ou Canadá, Costa sublinha que “o princípio da soberania é essencial” e que “um mundo sei lei é um mundo onde a lei do mais forte prevalece”.Ainda assim, o presidente do Conselho Europeu garanta que “a Rússia é claramente a maior ameaça externa à UE”. “Uma das prioridades da UE é defesa é ter sistemas de defesa para a guerra eletrónica e ganhar eficiência eliminando a fragmentação”, frisou o português, convicto de que “na próxima cimeira da NATO vai-se fixar uma meta superior” aos atuais 2% do PIB em Defesa, mas sem avançar um valor.“Os aliados decidiram aumentar até 2% em 2014. Todos os estados-membros têm vindo a fazer o seu trajeto. A média de todos já atingiu o 2%, tivemos um aumento muito significativo. Na próxima cimeira da NATO vai-se fixar uma meta superior. Se são 5% ou 3% não sei. É preciso aumentar a eficiência da despesa e assegurar o financiamento comum”, adiantou.O presidente do Conselho Europeu torce o nariz à ideia do secretário-geral da NATO em cortar nas despesas em Saúde para aumentar em Defesa, mas realça que “nada existe se não houver primeiro segurança”. “Se a Ucrânia cair, a ameaça aproxima-se ainda mais. É fundamental manter o apoio à Ucrânia. Para estados-membros da UE reforcem investimento em defesa, é preciso reforçar a sua base industrial e criar um ciclo virtuoso, que vai no sentido que a UE tem vindo a fazer. A autonomia estratégica não é um distanciamento relativamente aos EUA”, explicou.Embora haja várias instituições no seio da União Europeia, o antigo primeiro-ministro garante que a UE “fala a uma só voz” e que “essa unidade é absolutamente fundamental para o funcionamento da UE”. “A UE é confiável, consistente e previsível. Não temos a visão do mundo bipolarizado, mas sim uma rede de relações com os diferentes países. Vamos ter cimeiras com conjunto de países de várias regiões. Tenho procurado desenvolver rede com contactos para termos uma UE como agente político de dimensão global. A Indonésia tem metade da população na UE”, acrescentou.Costa manifestou o desejo de “uma paz que seja justa e duradoura” na Ucrânia e condenou o uso da violência excessiva na Venezuela e em Moçambique.