Soldados egípcios numa estrada paralela ao Corredor de Filadélfia, que separa Gaza do Egito, em 2007.
Soldados egípcios numa estrada paralela ao Corredor de Filadélfia, que separa Gaza do Egito, em 2007.CRIS BOURONCLE / AFP

Corredor de Filadélfia, os 14 km da discórdia entre Israel e Hamas

Netanyahu quer manter presença militar e grupo terrorista diz que isso reflete “a sua recusa em alcançar um acordo final” de trégua.
Publicado a
Atualizado a

A Casa Branca disse esta sexta-feira que foram feitos progressos na última ronda de negociações para uma trégua na Faixa de Gaza, rejeitando a ideia de que os esforços diplomáticos que procuram um acordo entre Israel e o Hamas estavam à beira do “colapso”. Mas um grande obstáculo parece estar a complicar o acordo: o chamado Corredor de Filadélfia, uma faixa de 100 metros ao longo da fronteira de 14 quilómetros entre Egito e a Faixa de Gaza.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, insiste que a presença das Forças de Defesa de Israel (IDF) nesse território é crucial para evitar que o Hamas se possa rearmar, enquanto o grupo terrorista que controla o enclave palestiniano exige a retirada completa dos “ocupantes”. Um responsável do Hamas, Hossam Badram, disse esta sexta-feira à AFP que a insistência de Netanyahu em manter as suas tropas no corredor reflete “a sua recusa em alcançar um acordo final”.

Mas afinal o que é o Corredor de Filadélfia e por que é tão importante? A zona-tampão de 100 metros de largura que vai desde o Mediterrâneo até à fronteira de Kerem Shalom, no ponto de encontro entre Gaza, Egito e Israel, foi criada no tratado de paz de 1979 entre egípcios e israelitas. Estes últimos tinham aceitado acabar com a ocupação da Península do Sinai, mas continuavam a ocupar a Faixa de Gaza.

O corredor foi batizado com o nome de código que os militares israelitas davam à zona desmilitarizada - Philadelphi - e inclui a única fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito, Rafah. Sob o acordo de 1979, Israel podia ter um número limitado de militares na zona para evitar a entrada de armas no enclave palestiniano.

Israel acabaria por sair do corredor em 2005, quando retirou totalmente da Faixa de Gaza, ficando este sob o controlo do Egito e da Autoridade Palestiniana. Mas, dois anos depois, o Hamas assumiu o poder no enclave. Na mesma altura, Israel criou o bloqueio aéreo, naval e terrestre ao território palestiniano e com a abertura apenas intermitente da fronteira de Rafah multiplicaram-se os túneis construídos sob o corredor.

Três meses depois do início da guerra, Netanyahu revelou a intenção de voltar a ocupar o Filadélfia - apesar do aviso do Egito de que isso violaria o acordo de 1979. Em maio, passou das palavras ao atos. Manter a presença militar no corredor permitirá a Israel garantir o bloqueio total da Faixa de Gaza, mesmo retirando do resto do enclave.

Segundo a imprensa israelita, o Hamas receberá este sábado a nova proposta de Israel para a gestão do corredor, antes de mais uma ronda de negociações, domingo, no Cairo. Segundo o site Axios, Netanyahu, em conversa com o presidente dos EUA, Joe Biden, aceitou retirar de uma secção de 1,2 km do corredor, mas exigiu que Israel continue a controlar o resto da fronteira na primeira fase do acordo de trégua.

Este é um obstáculo, mas não será o único. Outro problema é o Corredor Netzarim, de 6 km de comprimento, que divide a Faixa de Gaza ao meio e que é usado pelos militares israelitas para controlar o movimento dos palestinianos entre o norte e o sul do enclave. Criado já durante esta guerra, foi batizado com o nome de um dos colonatos ilegais que existiam ali antes da retirada de Israel, em 2005.

susana.f.salvador@dn.pt

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt