Congresso evita shutdown e rejeita exigência de Trump sobre teto da dívida
Numa corrida contra o tempo, o Congresso norte-americano conseguiu ontem evitar o encerramento do governo federal ao adotar um projeto-lei que garante o financiamento do Estado federal, aos níveis atuais, até 14 de março, e que incluiu também mais de 100 mil milhões de dólares (96 mil milhões de euros) de ajuda às regiões norte-americanas recentemente devastadas por catástrofes naturais e 10 milhões de apoio aos agricultores. De fora ficou o aumento do teto da dívida pretendido pelo presidente-eleito Donald Trump.
“Este é um bom resultado para os Estados Unidos e para o povo norte-americano”, congratulou-se o líder da maioria democrata no Senado, Chuck Schumer. A votação no Senado realizou-se pouco depois da meia-noite (6.00 horas em Lisboa) - um pouco depois do prazo final, mas sem impacto nas operações do governo - tendo a resolução contínua sido aprovada por 85 votos a favor e 11 contra. O diploma foi assinado na manhã de ontem pelo presidente Joe Biden.
Horas antes, o mesmo projeto-lei tinha sido aprovado na Câmara dos Representantes por 366 votos (196 democratas e 170 republicanos) a favor e 34 contra (todos republicanos). “Este é um bom resultado para o país”, declarou o porta-voz da Câmara dos Representantes, o republicano Mike Johnson, após a votação, revelando que tinha falado com Trump e que o presidente-eleito “também estava certamente feliz com este resultado”.
Esta foi a terceira tentativa de Johnson para evitar o shutdown do governo federal - que poderia afetar milhões de funcionários públicos, que passariam o Natal e Ano Novo sem receber salário. A primeira proposta, que tinha o apoio bipartidário na Câmara dos Representantes, caiu por terra na quarta-feira depois de ser criticada por Elon Musk e Donald Trump. Esta primeira versão tinha 1547 páginas e várias adendas destinadas a apaziguar quer democratas quer republicanos.
Uma alternativa, feita à pressa e com o aval do presidente-eleito, foi chumbada, deixando uma curta janela de tempo para fazer avançar uma nova proposta, de apenas 118 páginas, o que veio a acontecer.
Mas, ao contrário do que o líder da Câmara dos Representantes disse, Trump não deve ter ficado muito feliz com o resultado obtido, pois a sua exigência para aumentar o teto da dívida foi posta de parte. O presidente-eleito defendia a necessidade de levantar o teto da dívida até 2027, tendo mais tarde mudado esse prazo para 2029. Se tivesse conseguido, Trump teria luz verde para qualquer endividamento.
“A exigência de última hora de Trump era um pedido quase impossível, e Johnson quase não teve outra escolha senão contornar a pressão dele para um aumento do limite máximo da dívida. O porta-voz sabia que não haveria apoio suficiente dentro da maioria republicana para aprovar qualquer pacote de financiamento, uma vez que muitos republicanos defensores do défice preferem reduzir o governo federal e certamente não permitiriam mais dívida”, escrevia ontem a Associated Press.
ana.meireles@dn.pt