Como o “treinador Walz” olha para o exterior
Tim Walz, de 60 anos, foi anunciado como candidato a vice-presidente na terça-feira, e horas depois foi apresentado por Kamala Harris como o “treinador Walz”, um “líder que ajudará a unir” e “fazer avançar” os EUA, um “lutador pela classe média”, e um “patriota que acredita na extraordinária promessa da América” no primeiro comício em que se apresentaram juntos, em Filadélfia, na Pensilvânia, um dos sete estados onde se joga a presidência norte-americana. A falar para uma audiência doméstica, o governador do Minnesota deu-se a conhecer, desde a sua infância e juventude rural no Nebraska à sua experiência enquanto militar, professor, treinador de futebol americano e congressista, mas não gastou latim sobre a sua visão geopolítica.
Walz – que recebeu elogios da ala mais progressista à ala mais conservadora dos democratas – deu nova prova de como se relaciona com os eleitores. Além do passado vitorioso nas corridas para congressista e governador, deu o tom para a campanha de Kamala Harris, ao lamentar a ascensão do extremismo que tomou conta do Partido Republicano. “Não gostamos do que aconteceu quando nem sequer podemos ir ao jantar de Ação de Graças com o nosso tio porque acabamos numa discussão estranha e desnecessária. Estes tipos são simplesmente estranhos”, disse na MSNBC.
Já como candidato mostrou que vai ser combativo. “[Trump] não sabe o que é servir porque está demasiado ocupado a servir-se”, afirmou no comício, antes de uma segunda farpa: “Levou a nossa economia ao fundo do poço, e não se enganem: os crimes violentos aumentaram com Donald Trump. Isto sem contar com os crimes que ele cometeu.”
Também no que respeita à sua visão das relações externas, Walz contrasta com o isolacionismo defendido pelo ex-presidente e seu número dois, J.D. Vance. Este, enquanto representante, foi um dos responsáveis pelo atraso de meses na aprovação de apoio à Ucrânia. Aliás, defende que é do “melhor interesse para os EUA” que Kiev ceda território à Rússia. Walz mostrou-se solidário para com os ucranianos desde o início da invasão e em fevereiro assinou um acordo de cooperação agrícola do seu estado com a região de Chernihiv. “Uma política externa que respeite as nossas alianças é o caminho, e não uma que se afeiçoe a ditadores como Putin e Orbán”, disse. Trump recebeu há dias o primeiro-ministro húngaro, a quem não poupa elogios.
Walz tem uma relação afetiva com a China: foi professor na região de Cantão em 1989. Nos anos seguintes, o professor de Sociologia organizou com a mulher Gwen viagens de verão à China. Enquanto representante, promoveu projetos de lei a censurar Pequim no capítulo do direitos humanos, embora tenha discordado da guerra comercial de Trump. Já este, ao mesmo tempo que defende a dureza para com o regime comunista, atacou Taiwan, ao afirmar que “nada dá” aos EUA e que tem de pagar pela sua defesa. Sobre Israel e Palestina, Walz apresenta-se salomónico, ao defender a solução dos dois Estados, de Israel retaliar do ataque de 7 de outubro, mas de as vidas civis serem poupadas. “É possível defender coisas conflituantes”, afirmou.
Bandeira somali e fábrica de escadotes
Não demorou um fósforo para as redes sociais disseminarem desinformação sobre Walz. Uma delas pretende ligar a nova bandeira do estado de Minnesota - do qual o candidato a vice é governador - a uma homenagem à Somália, um dos países que Trump incluiu num veto migratório, e país de origem de Ilhan Omar, representante democrata do grupo mais à esquerda The Squad. A outra é a de que Walz iria investir numa fábrica de escadotes para ajudar os imigrantes a passar a fronteira do México. As declarações do democrata à CNN foram truncadas, e nas quais este propôs uma nova política migratória.
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