A declaração oficial por parte das Nações Unidas de fome na cidade de Gaza, a primeira a atingir o Médio Oriente, uniu de forma inédita dois rivais políticos nos Estados Unidos, enquanto que na Europa, mais concretamente nos Países Baixos, a recusa em aprovar sanções contra Israel levou a que os ministros e secretários de Estado do partido de centro-direita Novo Contrato Social abandonassem a já frágil coligação governamental.O anúncio da ONU foi recebido com silêncio pela maior parte dos eleitos do Congresso dos Estados Unidos, o maior aliado de Israel, mas houve duas exceções que se destacaram. Uma, sem surpresa, foi a de Bernie Sanders, senador independente eleito pelo Vermont e antigo candidato presidencial democrata, que já apresentou resoluções para proibir a venda de armas norte-americanas a Israel.“Vamos ser claros: o presidente Trump tem o poder de acabar com a fome do povo palestiniano. Em vez disso, não está a fazer nada enquanto assiste ao desenrolar desta fome. Já chega. Chega de dinheiro dos contribuintes americanos para a máquina de guerra de Netanyahu”, escreveu Sanders no X, comentando a publicação das Nações Unidas sobre a fome em Gaza.Estas alegações encontraram eco na congressista republicana Marjorie Taylor Green, política de extrema-direita eleita pela Geórgia e uma das caras do movimento MAGA de Donald Trump, mas que se mostra cada vez mais dissonante dentro do partido quando o assunto é Gaza. “ Tal como nos manifestámos e tivemos compaixão pelas vítimas e famílias do 7 de Outubro, como podem os americanos não se manifestar e ter compaixão pelas massas de pessoas e crianças inocentes em Gaza? Um tipo de vida inocente é digno e outro tipo de vida inocente não vale nada?”, questionou a congressista numa longa mensagem publicada no X. Greene argumentou também que toda a ajuda dos EUA a Israel “significa que todos os contribuintes americanos estão a contribuir para as ações militares de Israel”. E relacionou toda a ajuda financeira e militar dos EUA a Israel com o conflito, alegando que este “significa que todos os contribuintes americanos estão a contribuir para as ações militares de Israel”.“Não sei quanto a si, mas eu não quero pagar por um genocídio num país estrangeiro contra um povo estrangeiro por uma guerra estrangeira com a qual não tive nada a ver”, concluiu. “E não me vou calar sobre isso.” Declarações que já lhe valeram críticas dentro do movimento MAGA e elogios do campo democrata. Nos Países Baixos, o ministro dos Negócios Estrangeiros Caspar Veldkamp demitiu-se na sexta-feira à noiteem protesto contra a relutância do governo em impor sanções mais duras contra Israel devido à crise humanitária em Gaza. Uma decisão na qual foi seguidos pelos restantes quatro ministros e quatro secretários de Estado do Novo Contrato Social (NSC) que faziam parte do governo liderado por Dick Schoof. “Estamos a viver num tempo de tensões geopolíticas sem precedentes, onde a diplomacia importa mais do que nunca”, escreveu Veldkamp no X. Uma debandada que representa a maior crise política na Europa causada pela crise humanitária em Gaza às mãos do governo de Israel. Esta demissão em bloco fragiliza ainda mais o governo neerlandês, que se encontra a prazo depois da saída da coligação, em junho, do Partido da Liberdade, de extrema-direita, vencedor das últimas eleições. A próxima ida às urnas está marcada para 29 de outubro.Este fim de semana, o Parlamento neerlandês rejeitou uma moção para reconhecer um Estado palestiniano independente e votaram também contra medidas sancionatórias contra Israel..Quando é que existe "fome" e em que quatro outros locais já foi declarada antes da cidade de Gaza?