Vacinas e Navalny. Comissão Europeia sob fogo cruzado
A sombra de um urso em pé projeta uma sombra assustadora a um caniche com as cores da União Europeia. Foi desta forma que a revista inglesa Spectator ilustrou a viagem do alto representante para a política externa da UE, Josep Borrell, a Moscovo. Uma "viagem humilhante", um "fiasco diplomático" lê-se na imprensa europeia. O dirigente catalão encontrou-se com o ministro dos Negócios Estrangeiros Serguei Lavrov para dizer que as relações entre o bloco europeu e o Kremlin estão "sob grande tensão e o caso Navalny é um ponto baixo".
A resposta de Lavrov foi a indicação de que três diplomatas europeus (um sueco, um polaco e um alemão) iriam ser expulsos, tendo alegado que participaram em "protestos não autorizados" em apoio a Alexei Navalny. E na conferência de imprensa, perante Borrell, Lavrov disse que a União Europeia é um "parceiro sem fiabilidade", apesar de o vice-presidente da Comissão ter ainda tentado lançar pontes noutras áreas ao elogiar a "boa nova para a humanidade" que representa a vacina Sputnik-V.
"Borrell terá de responder a perguntas e justificar as suas ações perante o plenário do Parlamento Europeu. Os acontecimentos de hoje são uma bofetada na cara da Europa. Temos de tirar todas as consequências", disse Dacian Ciolos, o líder do grupo Renovar a Europa no Parlamento Europeu, citado pelo Le Point. O ex-primeiro-ministro da Roménia disse ainda que tinha desaconselhado a visita de Borrell.
Noutra frente, a presidente da Comissão Europeia multiplicou-se em entrevistas e artigos a defender a política comum para as vacinas, depois de dias de críticas e de um braço-de-ferro com Londres que acabou com uma retratação. Ainda assim, Ursula von der Leyen reconheceu que as dificuldades de produção em massa de vacinas deveriam ter sido previstas pela Comissão e como tal a comunicação deveria ter sido diferente."
Deveríamos ter dito às pessoas que está a progredir, mas lentamente, e que este processo completamente novo terá problemas e atrasos", disse numa entrevista a vários meios de comunicação. Os países da UE deram até agora as primeiras doses de vacinas a menos de 4% das suas populações, em comparação com 11% nos Estados Unidos e quase 17% no Reino Unido, segundo Our World in Data.
Em artigo coassinado com a comissária Elisa Ferreira, no Público, pergunta se o processo poderia ter sido mais rápido, se um Estado membro só teria feito melhor ou se os contratos celebrados antes teriam feito diferença. "Honestamente, achamos que não."
Uma resposta que não agrada ao ministro das Finanças alemão, Olaf Scholz: "Estou irritado com algumas das decisões que foram tomadas no ano passado. Penso que tinha havido a oportunidade de encomendar mais vacinas", disse ao programa Today da BBC (a partir de 1h31m20s).