Com panelas e colheres pediu-se em Lisboa o fim da fome em Gaza
ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Com panelas e colheres pediu-se em Lisboa o fim da fome em Gaza

Mais de uma centena de manifestantes gritaram em Lisboa pelo fim da fome em Gaza desde o Ministério dos Negócios Estrangeiros até à Assembleia da República.
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Entre o tilintar ruidoso das panelas percutidas com colheres e outros utensílios de cozinha, mais de uma centena de manifestantes gritaram em Lisboa pelo fim da fome em Gaza desde o Ministério dos Negócios Estrangeiros até à Assembleia da República. 

Durante mais de 10 minutos, junto ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, manifestantes do coletivo Occupy Gaza gritaram "vergonha" ao mesmo tempo que percutiam. 

Patrícia Baptista Nabiço, uma das promotoras do protesto, explicou que esta manifestação partiu de um movimento de cidadãos, "sem nenhum partido".

"Temos palestinianos, temos egípcios e temos muitos portugueses que vieram de várias partes do país", acrescentou Patrícia, referindo-se ao grupo de pessoas que se juntou sob o mote "Gaza tem fome". 

Dina Abusbeitan é palestiniana, artista de profissão, e afirmou que todos os manifestantes se reuniram "contra a injustiça e contra o genocídio".

"Juntei-me como palestiniana e como mãe de um filho que é metade de Jerusalém e metade de Gaza, metade da sua família foi morta, as suas sepulturas foram destruídas, e isso não é algo que um ser humano pode compreender a este nível. Para que é que serve a lei internacional?", questionou Dina.

Entre palavras de ordem os manifestantes atiraram um balde de tinta vermelha na calçada junto ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, pouco antes de iniciarem a sua marcha rumo ao Palácio de São Bento.

Serenah Sabat é também palestiniana, natural de Belém, e mudou-se para a Europa há 10 anos depois de ter terminado o ensino secundário para prosseguir os estudos.

"Desde que eu era criança conseguia sentir que o que estava a acontecer era injusto, que a nossa vida é injusta e não é normal, e que há uma vida melhor lá fora", confessou Serenah que atualmente trabalha em marketing digital.

A manifestante afirmou que decidiu participar no protesto "por Gaza" e "pelos filhos de Gaza, que não têm comida há dois ou três meses".

"Eles (palestinianos na Faixa de Gaza) têm-nos avisado que não terão mais comida, nada para os filhos, nem mesmo para os mais velhos. As pessoas estão a morrer nas ruas por causa da fome, eles não comem há muito tempo", sublinhou Serenah.

"Pressão e ação," é isso que pede Patrícia Baptista Nabiço ao governo português, porque "fazer declarações depois de quase dois anos de genocídio, de ataques sistemáticos a uma população que está concentrada e que vive literalmente numa prisão a céu aberto não é suficiente".

Mais de 110 pessoas morreram devido a malnutrição desde o início da guerra, incluindo pelo menos 80 crianças. 

A guerra em curso em Gaza foi desencadeada pelos ataques liderados pelo movimento islamita palestiniano Hamas em 07 de outubro de 2023, no sul de Israel. Os ataques causaram cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns.

A retaliação de Israel já provocou mais de 59 mil mortos e incluiu a imposição de um bloqueio de bens essenciais a Gaza, como alimentos, água potável, medicação e combustível.

Apesar de ter recentemente permitido a distribuição de ajuda humanitária, a assistência é prestada por uma única entidade, a Fundação Humanitária de Gaza, apoiada por Israel e pelos Estados Unidos, considerada insuficiente pela ONU e várias organizações não-governamentais.

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