O enviado especial da Casa Branca para o Médio Oriente, Steve Witkoff, chega esta quinta-feira (24 de julho) a Roma, onde tem previsto um encontro com o ministro israelita dos Assuntos Estratégicos, Ron Derner, e com um alto representante do Qatar. A viagem surge numa altura em que aumenta a pressão internacional para um cessar-fogo na Faixa de Gaza, diante das imagens de fome que saem do enclave palestiniano. Israel, cada vez mais isolado, nega a responsabilidade e culpa o Hamas, alegando que a ajuda está a entrar, mas não está a ser distribuída.Segundo o site norte-americano Axios, Witkoff só seguirá de Roma para Doha, onde estão a decorrer as negociações indiretas entre Israel e o Hamas, se houver um acordo. Há semanas que se fala da possibilidade de um acordo que permita o fim das hostilidades, a libertação de alguns dos 50 reféns que ainda estão na Faixa de Gaza (apenas 23 estarão ainda vivos) e a entrada de mais ajuda humanitária. Mas ambos os lados acusam-se mutuamente de entraves ao acordo.Mais de uma centena de organizações de ajuda humanitária e de defesa dos Direitos Humanos, incluindo os Médicos Sem Fronteiras ou a Save the Children, publicaram esta quarta-feira (23 de julho) uma carta aberta a denunciar a fome extrema na Faixa de Gaza. No documento insistem num cessar-fogo imediato e permanente e o levantamento de todas as restrições à entrada de ajuda humanitária no enclave. “Enquanto o cerco do Governo israelita mata de fome a população de Gaza, os trabalhadores humanitários juntam-se agora às mesmas filas por comida, correndo o risco de serem baleados só para alimentar as suas famílias. Com os mantimentos completamente esgotados, as organizações humanitárias estão a ver os seus próprios colegas e parceiros a definhar diante dos seus olhos”, indicaram as 111 organizações. Estas queixam-se ainda de que há toneladas de alimentos e outros bens a poucos quilómetros da fronteira. Segundo as Nações Unidas, comida suficiente para alimentar os dois milhões de palestinianos durante três meses está atualmente armazenada no Egito e na Jordânia. Mas Israel não autoriza a sua entrada. O Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita rejeitou a carta, acusando as organizações de estarem ao serviço da “propaganda do Hamas”. Um porta-voz do Governo, David Mencer, alegou também que “não há fome extrema causada por Israel”, mas há uma “escassez” que é “arquitetada pelo Hamas.”Segundo os israelitas, há 700 camiões de ajuda dentro do enclave à espera de serem recolhidos pelas Nações Unidas e que esse é o maior obstáculo a um fluxo constante de ajuda. A ONU alega que as autoridades israelitas rejeitam os pedidos de autorização para distribuir a ajuda e que, sem essa autorização, as suas equipas correm o risco de ficar sob fogo israelita. O apelo das organizações humanitárias surge depois de, na segunda-feira, 28 países ocidentais terem emitido um comunicado a defender que “a guerra em Gaza tem que acabar agora”. A declaração, assinada pelos chefes da diplomacia de países como Reino Unido, França, Portugal, Canadá ou Japão - mas não EUA ou Alemanha -, diz que o sofrimento dos civis atingiu “novos níveis” e que o modelo de distribuição de ajuda do governo israelita é “perigoso, alimenta a instabilidade e priva os habitantes de Gaza da dignidade humana”. Em muitos países aumenta a pressão para o reconhecimento do Estado palestiniano. Esta quarta-feira (23 de julho), o presidente da câmara de Londres, Sadiq Khan, defendeu que o governo trabalhista de Keir Starmer tem que fazer “muito mais pressão” para “travar esta matança horrível e sem sentido”. Ministros do Governo também estão a pressionar Starmer, e o presidente francês, Emmanuel Macron, quer dar esse passo. O chanceler alemão, Friedrich Merz, também está sob pressão para endurecer a posição em relação a Israel. Merz tem sido um crítico, considerando que a situação em Gaza já não é “aceitável”, mas a história e o legado do Holocausto nazi continuam a ser um travão a uma posição mais dura. Esta quarta-feira (23 de julho), a situação na Faixa de Gaza voltou a ser debatida no Conselho de Segurança das Nações Unidas. O representante do Paquistão disse que o enclave “tornou-se num túmulo para vidas inocentes, assim como para a lei internacional”, enquanto a da Dinamarca falou numa população apertada em menos de 14% do território em que a realidade é de “morte iminente devido às hostilidades, fome ou doença”. .Mais de 100 grupos humanitários apelam à ação contra a fome em Gaza.Cardeal Pizzaballa diz que situação em Gaza é “moralmente inaceitável”