Com multiplicação de casos e sem oxigénio, Manaus entra em colapso
Há relatos da morte de alas inteiras de hospitais por asfixia na capital do Amazonas. Para os especialistas, nova variante com mais potencial de transmissão e pressão de negacionistas contra confinamento explicam o caos. Ministro da saúde culpa chuva e recomenda cloroquina
Repetindo o cenário de março do ano passado, Manaus volta a ser o principal foco de propagação de covid 19 no Brasil. A capital do Amazonas, no norte do país, teve recorde de novos casos (3816) ao longo de quinta-feira e os principais hospitais da cidade sofrem com falta de oxigénio. No estado, morreu mais gente em janeiro de 2021 do que de abril a dezembro de 2020. Vídeos e áudios de médicos e de familiares de pacientes relatam "morte por falta de ar de alas inteiras de hospitais" e descrevem os centros de saúde como "câmaras de asfixia". Celebridades doam oxigénio e outros estados oferecem-se para receber doentes.
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"Estão a relatar que acabou o oxigénio em instituições hospitalares e serviços de pronto atendimento (...) sem oxigénio, os hospitais viraram câmaras de asfixia (...) os sobreviventes devem ficar com sequelas cerebrais permanentes", resumiu à imprensa o pesquisador Jesem Orellana, da Fundação Osvaldo Cruz-Amazónia, numa relato corroborado pela administração do Hospital Universitário Getúlio Vargas, um dos maiores da cidade.
"A gente conseguiu salvar quem dava, quem podia", lamentou o médico Anfremon D'Amazonas, numa rede social. "O nosso governo, um governo em que eu votei, tem sido negacionista. Relativiza tudo, banaliza tudo",
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Uma nova variante do vírus, com maior potencial de transmissão e reinfecção encontrada em 42% dos testados na cidade, é considerada pelos cientistas a causa da nova vaga e dos recordes registados últimos dias de casos, de internações e de óbitos.
Negacionismo político
Mas outro culpado é o negacionismo político, dizem obsevadores. O governador do Amazonas, Wilson Lima, quis endurecer a estratégia de confinamento durante o natal e o fim de ano mas sucumbiu à pressão de associações de comerciantes e do governo federal. O relaxamento dessas medidas foi comemorado na ocasião pela deputada bolsonarista Bia Kicis: "A pressão do povo funcionou também em Manaus. O governador do Amazonas voltou atrás em seu decreto de lockdown. Parabéns, povo amazonense, vocês fizeram valer seu poder!", escreveu na ocasião.
Confrontado com a situação, o ministro da saúde Eduardo Pazuello culpou a chuva e recomendou tratamento precoce - algo que, segundo a ciência, não existe. "No período chuvoso, a humidade fica muito alta e você começa a ter complicações respiratórias", disse o general paraquedista, terceiro tktular da pasta, depois de Bolsonaro ter demitido dois médicos do cargo. Para Pazuello faltou também tratamento precoce, como hidroxicloroquina e outros produtos recomendados pelo presidente Jair Bolsonaro mas cuja eifcácia não foi comprovada.
Sobre a situação, Bolsonaro disse que "está complicada" e, como o ministro, recomendou hidroxicloroquina.
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